O tempo e o labirinto
“Tudo tem o seu tempo determinado; há tempo para todo o propósito debaixo do céu... Eu sei que tudo quanto Deus faz durará eternamente; nada se lhe deve acrescentar; nada se lhe deve tirar; isto faz Deus para que haja temor diante dele.” Ecl 3; 1 e 14
Temos nessas sentenças situações opostas; uma, tributária ao tempo, outra, refratária. Há um tempo determinado pra tudo “debaixo do sol”, mas, “o que Deus faz durará eternamente.” Se alguém pode dizer com verdade, “tenho todo o tempo do mundo”, como dizem alguns, Esse É Deus.
O indivíduo move-se em seu tempo estrito; Ele tem um tempo específico para o trato com a humanidade. Romper as cortinas férreas do tempo permeia nosso imaginário. Basta evocar a utópica fonte da eterna juventude, ou, as viagens ao passado e futuro fantasiadas no cinema.
Entretanto, quando o sábio postula que tudo tem seu tempo determinado, nem de longe está abraçando a ideia do fatalismo, comum na mitologia grega. Basta ler a íntegra de seus escritos para ver que coloca sempre o homem como arbitrário, daí, com o dever de ser conseqüente. Pois, no fim de suas meditações adverte sobre o juízo segundo nossas escolhas, não, um determinismo frio, injusto. “De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo o homem. Porque Deus há de trazer a juízo toda a obra; até tudo o que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau.” Cap 12; 13 e 14
Não raro, vemos a resignação em face à morte de alguém em palavras fatalistas, tipo: “Quando chega a hora não adianta, a pessoa vai mesmo.” Como se, houvesse uma hora pré-determinada da qual ninguém se pode evadir. Não. Quando diz que há um tempo determinado inclui a possibilidade total de uma vida humana. Podemos abreviar isso por imprudência, descuido, quiçá, sermos vitimados por males alheios, o que, tolheria nosso tempo; sem ser, amiúde, o tempo de Deus para nós.
Paulo apresenta a vida na terra como uma redoma de tempo e espaço, dentro da qual, nos compete buscarmos a Deus; uma espécie de labirinto filosófico e espiritual do qual devemos sair encontrando o rumo de volta à casa Paterna perdido em Adão. “de um só sangue ( Deus ) fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da terra; determinando os tempos já dantes ordenados e os limites da sua habitação; para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, o pudessem achar; ainda que não está longe de cada um de nós;” Atos 17; 26 e 27
Embora seja limitado o tempo, é mais que suficiente; a carência é de luz, uma vez que muitos O buscam tateando. Acontece que as altas paredes do labirinto são de concepções humanas, quando não, satânicas; sobre a vida, Deus, e salvação.
Esse monstro meio animal, meio humano, o Minotauro da cegueira foi morto já. O “Teseu” enviado o fez; Jesus Cristo; A Luz do mundo.
Se aquele saiu vitorioso do labirinto graças ao novelo de Ariadne que permitiu encontrar o caminho de volta, Esse, Cristo, não dependeu de ajuda alguma, saiu pelo alto, vitorioso e coroado de glória.
Para nós, porém, deixou uma corda luminosa que, seguindo chegaremos seguros à casa do Pai. “...Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.” Jo 14; 6
Assim, ficamos numa dimensão onde pesa a mão do tempo; “debaixo do sol”; mas, somos chamados a passarmos para o outro lado, onde o tempo não ameaça mais. “Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna; não entrará em condenação, mas, passou da morte para a vida.” Jo 5; 24
Seria temerário, contudo, supormos que temos todo tempo; podemos protelar a decisão em relação a Cristo. A palavra coloca a salvação como urgente; “...Hoje, se ouvirdes sua voz, não endureçais os vossos corações...” Heb 3; 15 Uma vez mais, a questão não é o tempo; antes a reação de cada um à Palavra de Deus.
Se a salvação transpõe a vida de sob, para sobre a influência do tempo, traz junto a responsabilidade com as coisas do alto. “Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima; não nas que são da terra;” Col 3; 1 e 2
A fuga do labirinto é apenas por cima; muitos devaneiam presos às cordas dos prazeres insanos, que, enganam divertindo a permanência e matam impossibilitando a saída.