Palavras de amor
“O amor é sofredor, é benigno; amor não é invejoso; amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca seus interesses...” I Cor 13; 4 e 5
Nesse breve “recorte” da excelsa definição de Paulo temos duas afirmações positivas e cinco negativas. É sofredor e benigno; não invejoso, leviano, soberbo, indecente, tampouco, egoísta.
Dentre tanto pano pra manga, aí contido, deter-me-ei, por ora, na última tira: “... não busca seus próprios interesses...” Quantos conseguiriam viver algo belo assim?
Não só falhamos por ficarmos muito aquém, como, em muitos casos “nivelamos” o amor Divino ao nosso, como se Aquele também estivesse ao rés do chão. Por absoluta inépcia, ou, ignorância mesmo, desonramos Deus, justo, quando O pretendemos honrar. Digo, Ele faz algo extraordinário em socorro de um filho, presto apresentamos nossa “conclusão teológica”: “Deus deve ter um plano especial na vida de fulano para ter agido dessa forma.”
Ora, isso é o nosso jeito de “amar”, cáspita! Mero interesse; investir onde se espera retorno. No início de Seus ensinos o Salvador colocou o dedo na ferida. “Amai aos vossos inimigos, bendizei aos que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam; orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus; porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons; a chuva desça sobre justos e injustos. Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? Se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim? Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito vosso Pai que está nos céus.” Mat 5; 44 a 48
Essa mesquinharia na qual incorremos nem de perto se aplica ao Ser Santíssimo de Deus. Justo, por não buscar seu interesse, o amor é um péssimo investidor. Esbanja-se sem cuidados, como fez o Filho Pródigo com sua fazenda.
O mesmo Paulo testificou noutra parte: “Porque apenas alguém morrerá por um justo; poderá ser que pelo bom alguém ouse morrer. Mas, Deus prova seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós sendo nós ainda pecadores.” Rom 5; 7 e 8 Mais: Na Parábola do Semeador, O Mestre ilustrou três tipos de “desperdício” de semente, pelo prazer das poucas que cairiam em boa terra.
Num sentido amplo, Deus tem um plano especial pra cada um; “Porque a graça de Deus se há manifestado trazendo salvação a todos os homens.” Porém, salvará apenas aos que se adequarem aos Seus preceitos. “Ensinando-nos que, renunciando à impiedade, às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, justa e piamente,” Tt 2; 11 e 12
A boa vontade para conosco, bem como, o amor de Deus, não bastam para que sejamos salvos; isso demanda nossa participação, como ensinou, mediante Ezequiel: “Dize-lhes: Vivo eu, diz o Senhor Deus, que não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho e viva. Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois, por que razão morrereis, ó casa de Israel?” Ez 33; 11
Contudo, nosso cuidado em corresponder ao Amor de Deus não é salvo conduto ante as intempéries da vida; “apenas” certeza de vida eterna. Alguns concluem que Deus ama mais, uns que outros, contemplando determinados dons, sem considerar o peso de suportá-los; por outro lado, questionam por que, certos homens de ótima reputação, caráter, terminam sua jornada aqui de modo trágico, como se, o amor Divino tivesse falhado em protegê-los.
Aos precipitados que fazem essa leitura, convém lembrar que, Deus “falhou” em proteger Seu próprio Filho, pois, às vezes o amor tem que “morrer para dar fruto”, como ensinou O Senhor.
É mais que hora, pois, de um “Upgrade” em nosso entendimento, para, enfim, entender e viver o ágape de modo mais apropriado, como, pararmos de vez de “honrar” a Deus como se Ele fosse pequeno qual nós.
No mesmo contexto onde exorta ao amor, aliás, Paulo insinuou que as mesquinharias interesseiras eram frutos de meninos espirituais. “Quando eu era menino falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.” Cor 13; 11
Em suma, convém meditarmos profundo no significado real de nosso “eu te amo”, antes de espalharmos tal perfume ao vento. Falando em perfume, quando Judas deplorou o “desperdício” de um, usou a imagem dos pobres, mas, o “Pobre” em questão era ele, egoísta, interesseiro.
Quem quer aprender amar deve esquecer o “número se sua conta” e começar a depositar nas alheias. Fazendo isso terá um tesouro no céu. Ao buscar interesses alheios, os seus, serão “aleatoriamente” supridos.