A vida continua
Enquanto durar a terra, não deixará de haver sementeira e ceifa, frio e calor, verão e inverno, dia e noite.
(Gênesis 8:22)
Após o dilúvio, o Eterno decidiu não mais destruir a humanidade como havia feito. Firmou uma aliança com Noé. O arco-íris é o símbolo daquela aliança. Suas cores revelam o compromisso divino de não usar a força das águas – bem como de toda a natureza – para destruir todo o gênero humano. Às vezes, acontece uma ou outra tragédia provocada por forças da natureza, todavia, uma análise imparcial comprovará que a natureza é a vítima e não o algoz.
Fica bem claro, no livro das origens, Gênesis, ter sido a natureza criada para o regalo humano. Ela é o cenário planejado por Deus para que o protagonista da história universal vivesse o seu papel de astro. A natureza, com toda a sua beleza e pujança, deveria contribuir para que o homem reinasse em harmonia com ela, consigo mesmo, com o próximo e, acima de tudo, com o Artista Ímpar, o ser que tudo aquilo criou por causa dele e para ele.
Esta excelência de convivência é a verdadeira felicidade. Esta felicidade é o destino do homem. Por ela todos anseiam. Sem ela, a vida se torna um fardo, o existir vira castigo, e a convivência passa a ser um jogo de sobrevivência.
Conviver foi, é e será o maior desafio da humanidade. Somos mestres na construção de muros que nos separam, que nos isolam, que nos limitam. Por ser muito fácil a construção de muros, achamos dificílima a construção de pontes. Por isso, sequer tentamos. Se tentarmos, veremos que não demanda tanto esforço quanto o gasto na construção de muros.
Conviver é viver com e viver com implica ceder, respeitar, compreender, dialogar, reconhecer erros nossos e acertos dos outros. Parece, hoje em dia, que acertar é um feito agressivo, visto que há uma torcida inflamada por que o outro erre e se dê mal.
De quem quer conviver, exige-se a valorização do ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus. A modernidade colocou os seres humanos em uma competição. Os homens não são mais companheiros na travessia do deserto da vida. A competitividade tornou-os adversários, às vezes, inimigos. A insensibilidade impera e quase não há compartilhamento.
Domina e se alastra o caos. Há uma semelhança com o quadro no qual Noé estava inserido quando Deus lhe falou que enquanto durar a terra, não deixará de haver sementeira e ceifa, frio e calor, verão e inverno, dia e noite? O que quis Deus dizer?
Que a vida continua e que, enquanto houver vida, há esperança. Que ceifa é conseqüência de sementeira, ou seja, a Lei da Semeadura é inexorável – o que o homem plantar, há de colher. Que dia, frio, verão e inverno não são inimigos de noite, calor, inverno e verão, respectivamente. Eles se completam e um não existiria sem o outro. Que o que faz na terra a vida durar é esse jogo de contrários que se completam, é essa convivência harmônica. Que, acima de tudo, no que depender dEle, com Ele podemos contar para que a vida dure, muitíssimo, harmônica e triunfalmente, na terra.