Vidas
“Metade de suas vidas são vividas, ou melhor, passam resolutos, confiantes, senhores de si mesmos. Buscam algo que não encontram, estão sempre procurando, mas não acham. Vão em rumo ao vazio, o vazio que os contém, que os domina. Procuram no exterior aquilo que está dentro de vocês mesmos. E nessa busca sem pensar nas consequências, não se dão conta de que estão correndo para baixo.
Para um caminho sem volta. São aqueles que buscam os prazeres da carne, e deixam de lado as bênçãos da alma. Pobres hipócritas! Iludidos em seu pequeno e revolto mundo. Mal sabem distinguir suas vidas de um amontoado de feno. Animem-se, pois seu fim está próximo, não tarda a vinda e seu regresso é por mim esperado. Rebelem-se, lutem, mas sem chance, retornam sempre.
Após a guerra o luto muitas vezes se faz necessário, mas luto do que? Morreu quem? O antigo? Mas não morre de verdade! Acaba por fazer uma volta e retorna mais adiante. Isso sempre acontece. Já vi acontecer muitas e muitas vezes. Seres arrogantes que são, quando aqui retornam, devolvem-me o presente que me é de direito. Fico com ele na certeza de que quando fores chamado, certamente não perderei, apenas estarei fazendo um favor e logo retornarás pra mim, para onde é seu lugar.
Mais carregados assim voltam e mais pesados, mais sujos! Mais fácil se torna mantê-los aqui, até parecem que gostam se sentem bem à vontade, não conseguem se livrar, mas ao mesmo tempo querem sair. Quanta fraqueza e indecisão. Dó é o que merecem, gratidão seria demasiadamente ridícula nesse ponto da vida! O desabafo é sincero, o perigo é real e as falhas os tornam fracos e desesperançados, assustados.
Corpos ridículos à deriva no mar da evolução. Muitos veem, porém poucos saem e dos que saem, alguns acabam por voltar, como já disse antes: é um círculo vicioso e no centro estão as almas viciadas e corrompidas pelo desespero das eternas voltas de suas existências. As máculas são fortes em suas vidas, são como correntes que os prendem em suas celas espirituais.
Todo o poder e a glória da evolução estão totalmente, mas mãos destes que insistem em não cortar os grilhões que os atormentam e ferem. Condenados a serem prisioneiros, assim, de seu cárcere mental dos desejos que inquietam os corações e denigrem o ser.”