Púlpito ou palco?
“E Simão, vendo que pela imposição das mãos dos apóstolos era dado o Espírito Santo, lhes ofereceu dinheiro, dizendo: Dai-me também esse poder, para que aquele sobre quem eu puser as mãos receba o Espírito Santo.” Atos 8; 18 e 19
Muito se falou sobre os meios escusos da “Simonia”; pretender aquisição de valores espirituais via compensação com vil metal. Como o incidente mais notório foi esse, com Simão, em sua “homenagem” temos o nome. Além do meio ser blasfemo, o fim é estúpido, carnal; a obtenção de poder.
Claro que, quem acha o poder um fim, facilmente achará o dinheiro, um meio. Assim funcionam as coisas nos governos humanos. O poder econômico sempre dá um jeito de lograr o poder político; daí, tantos veios de corrupção com esse fim, além do enriquecimento pessoal; porque ninguém é de ferro.
Acontece que, poder no escopo espiritual em muito diverge do domínio humano, natural. Se esse se assenta sobre privilégios, benesses várias, aquele, sobre dever, responsabilidade.
A parábola dos talentos deixa claro que cada um deve multiplicar o que recebeu, seja um, dois ou cinco. Desse modo, quem desfruta dons mais excelentes deve produzir os frutos correspondentes. Mais que isso; quando do julgamento, a severidade será maior sobre o que dispunha de melhores meios. “Meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo. Porque todos tropeçam em muitas coisas. Se alguém não tropeça em palavra, o tal é perfeito, poderoso para também refrear todo o corpo.” Tg 3; 1 e 2
Aliás, a despeito de possuir dons excelentes, ou não, o mero contemplar sinais de Deus já aumenta a responsabilidade da plateia. “E tu, Cafarnaum, que te ergues até aos céus, serás abatida até aos infernos; porque, se em Sodoma tivessem sido feitos os prodígios que em ti se operaram, teria ela permanecido até hoje. Eu vos digo, porém, que haverá menos rigor para os de Sodoma, no dia do juízo, do que para ti.” Mat 11; 23 e 24
Embora a conversão seja pela Palavra, os sinais que seguem também testificam do amor e poder Divinos; assim, quem ignora a Palavra e desconsidera sinais, despreza duas testemunhas; trai a si mesmo.
Claro que, sendo a salvação o que é, peregrinação em território hostil, num mundo que “jaz no maligno”, certa dose de poder carecemos para nos mantermos fiéis. Deus, além de Santo É Prudente, Sábio. Assim, aos que O recebem destina um “kit” emergencial para suprimento na peregrinação. “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome;” Jo 1; 12
Não que seja vetada ascensão aos que ingressam no Reino; mas, o crescimento se dá via serviço, não, mediante mais poder. Por contraditório que pareça, quanto menor, maior. “...Bem sabeis que pelos príncipes dos gentios são estes dominados, e que os grandes exercem autoridade sobre eles. Não será assim entre vós; mas todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande seja vosso serviçal;” Mat 20; 25 e 26
Se essa concepção estivesse patente em todos que se acercam da Obra, não haveria disputas por poder, tampouco, desejo de adquiri-lo por meios escusos. Não fosse a egolatria e falta de noção que grassa em nosso tempo, e não teríamos essa revoada de “apóstolos” que, se outra doença não atesta, pelo menos a vaidade pelo poder deixa patente.
Justiça seja feita para com Simão, o Mago; era novo convertido, assustado com o que vira. “E creu até o próprio Simão; sendo batizado, ficou de contínuo com Filipe; e, vendo os sinais e as grandes maravilhas que se faziam, estava atônito.” Atos 8; 13 Num momento de deslumbramento, euforia, falou inadvertidamente, mas, exortado por Pedro por ter dado uma bola fora, presto se arrependeu, se refez. “Respondendo, porém, Simão, disse: Orai vós por mim ao Senhor, para que nada do que dissestes venha sobre mim.” V 24
Se o mundo “canoniza” seus ícones, os famosos nos esportes, artes, moda, etc. na igreja a beleza está no coletivo, o Corpo de Cristo crescendo em santidade e quantidade também.
Quem precisa de fama, renome aqui, ainda que não admita, não confia na recompensa celeste. Além do mais, o aplauso da Terra se dá por identificação; as pessoas aplaudem o que gostam, de modo que, no fundo, aplaudem a si mesmas. Essas coisas deixam de valer, exatamente onde a salvação começa. “... negue a si mesmo, tome sua cruz e siga-me.” Luc 9; 23
Dons espirituais são meras ferramentas de trabalho. Se alguém os quer em maior quantidade, que se disponha a trabalhar mais. Quem pensa que púlpito é palco desconhece a diferença entre Inferno e Céu.