Religião e Espiritualidade
A ver se nos entendemos. Religião, não no sentido de experiência religiosa, mas no seu entendimento institucional, supõe um corpo de dogmas e doutrinas acerca da realidade última, bem como uma moral e rituais, modos canónicos de nos comportarmos perante essa realidade e na relação uns com os outros. A religião implica crer naquilo que não se vê e experimenta directamente e a integração numa hierarquia formal de representantes e administradores da verdade, do divino ou do sagrado, que estrutura uma comunidade religiosa específica.
Espiritualidade, por seu lado, é o exercício de abertura e expansão da consciência e do coração rumo à natureza profunda das coisas e por amor a todos os seres, para além de todo o dogma e doutrina e sem outra crença senão aquela que advém da experiência directa, aqui e agora. A espiritualidade convida a uma ética da espontaneidade e da autenticidade, não a uma moral rígida. A espiritualidade pode viver-se com ou sem o apoio de rituais, dentro ou fora de qualquer comunidade religiosa específica e dispensa qualquer hierarquia formal de representantes e administradores da verdade, do divino ou do sagrado, embora dê lugar à hierarquia natural e informal que resulta da diferença de níveis de abertura e expansão da consciência e do coração, ou seja, da visão do real e do amor por todos os seres.
O que há de mais autêntico na religião é a espiritualidade, mas a espiritualidade não tem de ser religiosa. Pode ser laica, ateia ou agnóstica.
A espiritualidade é urgente.