Nascer de Novo, Como?
Havia, entre os fariseus, um homem chamado Nicodemos, um dos principais dos judeus. (João 3:1). Quando estudamos o evangelho é comum vermos Jesus rodeado por pessoas das classes mais modestas e de gentios. Mas nesta passagem vemos Jesus ser procurado por alguém da mais alta classe dos judeus. E esta pessoa era Nicodemos, o relato nos mostra algumas coisas sobre ele: ele era rico, fariseu e membro do sinédrio. Apesar de hoje em dia ouvirmos somente frases depreciativas sobre os fariseus, os que pertenciam a esta seita judaica segundo os historiadores eram a melhor gente de todo o país. A palavra fariseu tem sua raiz na palavra: פרש parash. Que entre os seus significados têm o de: tornar distinto, declarar, distinguir, separar. Ou seja, os fariseus era uma classe separada em suas atitudes, os fariseus eram aqueles que se separaram de toda a vida comum para poder observar cada detalhe da Lei dos escribas. Os fariseus; compunham o que se conhecia com o nome de chaburah, ou irmandade. Para pertencer a esta irmandade era necessário fazer um juramento diante de três testemunhas no qual prometiam passar toda sua vida observando cada um dos detalhes da Lei dos escribas. E a lei era a coisa mais sagrada deste mundo para um escriba e para um fariseu. A Lei eram os primeiros cinco livros do Antigo Testamento. Criam que a Lei era a mais perfeita palavra de Deus. Acrescentar-lhe ou lhe tirar uma só palavra era um pecado mortal. E a seguiam sem em exageros vezes mil. Os escribas se encarregavam de interpretar cada item da lei e a trazia para cada ato da vida cotidiana. E os fariseus eram os que dedicavam suas vidas a obedecê-los. É evidente que, por mais que isso hoje nos pareça errado para eles era uma verdade e ele a seguiam com sinceridade. E dedicando a suas vidas a observar em obediência a cada uma das milhares de regras. Isso era exatamente o que os fariseus faziam. Mas o que se faz interessante aqui é que Nicodemos tendo esta visão de que a bondade e a vontade de Deus se cumpria através da observância da lei, ser movido pelo ímpeto de ir ter com Jesus que ensinava que a vontade do pai se faz através de atos de misericórdia e amor.
Mas o mais interessante foi o que Jesus ensinou a Nicodemos e a nós. No versículo dois vemos Nicodemos dizer a Jesus o seguinte: Este, de noite, foi ter com Jesus e lhe disse: Rabi, sabemos que és Mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele.(João 3:2). Parafraseando o que ele disse temos o seguinte: Que ninguém podia evitar sentir-se impressionado pelos sinais e maravilhas que Jesus fazia. E que tais maravilhas e sinais só poderiam vir da parte de Deus. E Jesus responde com uma resposta que levaria ele a raciocinar sobre tudo o que estava acontecendo e o que realmente importava: A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. (João 3:3). A resposta de Jesus é que o que importava verdadeiramente não eram os sinais, os milagres e as maravilhas; o que importava era o que tudo isso devia produzir na vida interior de um ser humano. Os milagres, sinais e maravilhas deviam produzir uma mudança radical no interior do ser humano tal que só pudesse ser considerada a um novo nascimento. Ou seja, retirar o ser humano de um servir legalista e estéril para um servir em amor e verdade que produz vida.
E ao continuarmos lendo o relato vemos que Nicodemo não entendeu de primeira o que Jesus lhe ensinou e pode até parecer que ele entendeu errado. à primeira vista pareceria ter que ele tomou o termo ao pé da letra, ou seja, no sentido literal. Pois sua resposta foi: Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez? (João 3:4). Mas se atentarmos um pouco mais veremos que ele na realidade estava ansiando por entender o que Jesus lhe havia dito. Em seu coração havia um grande desejo insatisfeito. É como se Nicodemos tivesse dito, com um desejo infinito, ansioso: "Você fala de nascer de novo; fala a respeito desta mudança radical, fundamental, que é tão necessária, e no fundo do meu coração eu sinto que é verdade e sei que é realmente necessária. E eu a quero, mas como poderei fazer? E então vemos Jesus responder: Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito. (João 3:5,6). E esta resposta leva um peso de grande responsabilidade a Nicodemos e a todos nós Cristãos. O ser humanos comum é guiado pelos seus desejos, planos e ambições. O ser humano comum e levado de um lado para outro pelos impulsos de seus sentimentos que tornam a sua alma um caos. No Evangelho segundo Mateus vemos Jesus dizer: E disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus. (Mat 18:3). O menino tem quatro qualidades que quando nos tornarmos adultos a perdemos: Humildade, perdão, confiança e amor. A humildade e a capacidade de perdoar do menino é o modelo da conduta do cristão para o próximo, a dependência do amor e a confiança do menino são o modelo da atitude do cristão para com Deus, o Pai de todos nós. Vemos estas qualidades serem ressaltadas quando Jesus diz a Nicodemos o seguinte: Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo. O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito. (João 3:7,8). E Jesus deixa claro que só podemos Servir a Deus tendo o coração repleto de amor e obediência. Pois a essência de ser filhos de Deus está no amor; e a essência do amor é a obediência. Não podemos dizer com sinceridade que amamos a alguém, e logo fazer coisas que ferem e machucam o coração dessa pessoa. E somente quando abrimos o nosso interior para ser guiado pelo Espirito em obediência e verdade começa a tal mudança em nosso interior. É indubitável que, tal como somos e com nossas próprias forças, somos incapazes de oferecer esta obediência perfeita a Deus; só quando a graça de Deus nos invade e toma posse de nós e nos, muda é que podemos brindar a Deus a reverência e a devoção que devemos lhe oferecer. Jesus Cristo é quem pode operar a mudança em nós; através dele é como renascemos; quando Ele toma posse de nossos corações e de nossas vidas se produz a mudança. E esta foi a resposta que Jesus deu a Nicodemos e a todos nós. Quando não versículo anterior Ele disse: O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito. (João 3:6). Sendo assim entendemos que, o que nasce da carne é carne e o que nasce do Espírito é Espírito. O homem por si mesmo é carne, e com seu poder está limitado ao que pode fazer a carne. Por si mesmo não pode sentir-se mais que vencido e frustrado; isso nós sabemos muito bem, porque isto é fato na experiência universal humana. Mas a própria essência do Espírito é o poder e a vida que estão além de todo poder e força humana; e quando o Espírito se apodera de nós faz o que só ele pode fazer e a vida vencida da natureza humana se transforma na vida triunfante em Cristo Jesus no reino de Deus.
Então o que aprendemos com isto? Aprendemos que voltar a nascer significa mudar o nosso interior de tal maneira, que já não mais sejamos impulsionado pelos milagres ou maravilhas e que não precisemos mais de sinais de que Deus existe ou nos ama. Porque em nosso interior queima a chama do Espirito, nos impulsionando num servir em amor e obediência. Mesmo que em meio as dificuldades, tribulações, frustrações e ingratidões; seguiremos humildemente como meninos amando, confiando e perdoando. E este novo estado só pode ser descrito como um renascimento e uma recriação. Mas lembremos que esta mudança só pode acontecer quando damos livre acesso em nossos corações a Cristo Jesus. A partir de então podemos aceitar autenticamente a vontade de Deus. E então nos converteremos em cidadãos do Reino; nos tornamos filhos de Deus; entramos na vida eterna, que é a própria vida de Deus.
(Molivars).