Com que roupa irei?
“Esta palavra chegou também ao rei de Nínive; ele levantou-se do seu trono, tirou as suas vestes, cobriu-se de saco e sentou-se sobre a cinza.” Jn 3; 6
Era comum manifestar exteriormente sentimentos de grande consternação, dor, vergonha, humilhação… Faziam isso tirando as vestes normais e vestindo-se de saco, para deixar patente o estado da alma. No exemplo supra, temos o rei de Nínive dessa forma, ante a mensagem do juízo Divino iminente entregue por Jonas. Mardoqueu fez o mesmo quando soube do decreto de Assuero ordenando a destruição dos judeus; Jacó ao saber da falsa morte de José, etc.
O leproso deveria trazer vestes rotas e gritar sua condição, quando em ambiente social, para evitar contagiar outros. Figura que Isaías usou para ilustrar a inutilidade da “justiça” humana. “Mas todos nós somos como o imundo, todas as nossas justiças como trapo da imundícia; todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniqüidades como um vento nos arrebatam.” Is 64; 6
Quando o juízo do Eterno foi cumprido no cativeiro, a transição para novo tempo propício foi figurada pelo trocar das vestes do sacerdote; “Josué, vestido de vestes sujas estava diante do anjo. Então respondeu aos que estavam diante dele, dizendo: Tirai-lhe estas vestes sujas. E a Josué disse: Eis que tenho feito com que passe de ti a tua iniquidade e te vestirei de vestes finas.” Zac 3; 3 e 4 Assim, vestes alvas são usadas como símbolo de Justiça, de agir sob inspiração Divina. “Em todo o tempo sejam alvas as tuas roupas e nunca falte o óleo sobre a tua cabeça.” Ecl 9; 8
Na verdade, expressar estados de espírito mediante vestes é comum em nossos dias. Quando alegres, festivos, usamos cores vivazes, quentes; ou, em momentos de consternação, tristeza, cores frias, neutras. Mesmo ideia de algum pleito por justiça associada à roupa suja também é proverbial. Dizemos: “Roupa suja lava-se em casa”. Significando que problemas estritamente familiares devem ser tratados em particular, invés de caírem em domínio público.
Além das cores, a forma diz muito sobre cada um. Pessoas moderadas usam cortes sóbrios; outras, dadas à sensualidade, ou mesmo, promiscuidade, se expõem de modo que suas vestes falam por si.
Embora algumas denominações cheguem a ser meio dogmáticas quanto ao vestir, ante Deus basta que não causem escândalos, que sejam adequadas ao meio no qual estamos inseridos. Tanto é decente o “skilt” escocês, quanto, um jeans, bermuda, ou terno; salvo peculiaridades de ambientes solenes.
Contudo, se as vestes têm poder de expressar algo de nosso interior, são excelentes disfarces quando quer alguém dissimular; esconder algo. Há muita promiscuidade em trajes sóbrios; nem tudo o que é espontâneo, jovial, necessariamente deixa de ser sério. Ante o Eterno é inútil; “E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar.” Heb 4; 13
Convém lembrar que, a festa para a qual Deus convida todos tem um “traje a rigor” sem o qual acabaremos barrados. Claro que me refiro às vestes espirituais, como a mesma Palavra faz.
Em Apocalipse somos chamados a nos lavar com sangue de Cristo, de modo que, a mesma Bíblia interpreta que roupas limpas, em sua perspectiva, têm a ver com obras justas. “…Estes são os que vieram da grande tribulação, e lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro.” Apoc 7; 14 Mais; noutra parte além de limpas as vestes são de tecido nobre, pra ilustrar os feitos dos que se deixam conduzir pelo Santo. “E foi-lhe dado que se vestisse de linho fino, puro e resplandecente; porque o linho fino são as justiças dos santos.” Apoc 19; 8
Como as vestes do Salvador foram fracionadas entre muitos, exceto a túnica que foi mantida inteira, assim deve ser conosco. A eficácia de Seu Sangue purificador poder ser partilhada entre todos; mas, como a peça inteira, há um revestimento pessoal, particular, que deve ser completo em cada um que desejar segui-lo. “Porque também nós, os que estamos neste tabernáculo gememos carregados; não porque queremos ser despidos, mas revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida.” II Cor 5; 4
Esse revestimento espiritual dado aos salvos é o “modelito” necessário para sermos aceitos nas Bodas do Cordeiro. Sem isso, seremos lançados fora. “E o rei, entrando para ver os convidados viu ali um homem que não estava trajado com veste de núpcias. E disse-lhe: Amigo, como entraste aqui, não tendo veste nupcial? E ele emudeceu. Disse, então, o rei aos servos: Amarrai-o de pés e mãos, levai-o, e lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes.” Mat 22; 11 a 13