Quietude; convém ou não?

“...No estarem quietos será a sua força.” Is 30; 7

Quietude é um valor que pode ser definido como relativo. Não é em si qualidade nem defeito; depende das circunstâncias com as quais se relaciona.

Há alguns exemplos bíblicos onde estar quieto soa como mal, omissão. Ester quando promovida a rainha da Pérsia, esposa de Assuero, foi desafiada a não estar quieta; antes, fazer uso da posição, mesmo com risco, quando da ameaça de extermínio dos judeus. Seu tio Mardoqueu lhe mandou dizer: “...Não imagines no teu íntimo que por estares na casa do rei escaparás só tu entre todos os judeus. Porque, se de todo te calares neste tempo, socorro e livramento de outra parte sairá para os judeus, mas tu e a casa de teu pai perecereis; quem sabe se para tal tempo como este chegaste a este reino?” Et 4; 13 e 14 A Rainha lhe deu ouvidos e cooperou com o grande livramento de Deus.

A quietude omissa e indiferente das nações vizinhas quando Israel estava em cativeiro também foi denunciada ante o Eterno. “...Nós já percorremos a terra, e eis que toda a terra está tranqüila e quieta... com grande indignação estou irado contra os gentios em descanso; porque eu estava pouco indignado, mas eles agravaram o mal.” Zac 1; 11 e 15

Sim, quando os judeus foram em cativeiro seus vizinhos ajudaram aos adversários, como denunciou Sofonias. “Eu ouvi o escárnio de Moabe, e as injuriosas palavras dos filhos de Amom, com que escarneceram do meu povo; se engrandeceram contra o seu termo... meu povo os saqueará; o restante do meu povo os possuirá. Isso terão em recompensa da sua soberba, porque escarneceram, e se engrandeceram contra o povo do Senhor dos Exércitos. Sof 2; 8 a 10 Tivessem ficado quietos, então, seria melhor. Pois, foram ativos para auxiliar no mal, invés, de buscarem o bem de seus vizinhos.

Assim, tanto há uma quietude culpada, quanto, outra que é desejável ante o Senhor, dado que significa confiança em Sua integridade e provisão.

A inquietude de Isaías 30 derivava de falta de relação com Deus; deliberada rejeição aos Seus conselhos; ouçamos: “Porque este é um povo rebelde, filhos mentirosos, filhos que não querem ouvir a lei do Senhor. Que dizem aos videntes: Não vejais; e aos profetas: Não profetizeis para nós o que é reto; dizei-nos coisas aprazíveis, e vede para nós enganos.” VS 9 e 10 Se rejeitavam os preceitos, natural que soubessem que lhes faltava crédito para pedir o Divino socorro.

A providência ante a ameaça os fazia pedir socorro ao Egito invés de Deus. “Porque o Egito os ajudará em vão, e para nenhum fim; por isso clamei acerca disto: No estarem quietos será a sua força.” V; 7 Sim, a ação necessariamente é má, quando deriva de impiedade, culpa.

O mesmo profeta denuncia aos ímpios como privados da paz, da capacidade de estarem quietos, dado o peso de suas culpas. “Mas os ímpios são como o mar bravo, porque não se pode aquietar, e as suas águas lançam de si lama e lodo. Não há paz para os ímpios; diz o meu Deus.” Is 57; 20 e 21

Aos que laborava para justificar, o Salvador aconselhou o descanso confiante no Pai. “Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia seu mal.” Mat 6; 34 As longas e repetidas rezas que enchem a Santa Paciência de Deus, se, dessem lugar a uma meditação reverente seria mais eficaz. “E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que por muito falarem serão ouvidos.” V; 7 Sim, muitos confundem mantras com orações. Se aqueles pretendem ter eficácia em si, orar é colocar-se humilde e confiante sob a eficácia e vontade de Deus.

Embora não pareça, a princípio, manter-se quieto não é tão simples assim. Sobretudo, quando as circunstâncias sugerem que devemos fazer alguma coisa. Todavia, o Santo não trabalha com “alguma coisa”; Ele é Onisciente. Algo indefinido projetamos nós como fuga quando nada vemos.

Mas, se somos Dele, mesmo nessas horas estejamos quietos fiados em Sua fidelidade. “Quem há entre vós que tema ao Senhor e ouça a voz do seu servo? Quando andar em trevas, e não tiver luz nenhuma, confie no nome do Senhor; firme-se sobre o seu Deus.” Is 50; 10

Assim, antes de nos inquietarmos tentemos entender os motivos, reacender a esperança, como fez Davi. “Por que estás abatida, ó minha alma? E por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus; pois, ainda o louvarei; o qual é a salvação da minha face e Deus meu.” Sal 43; 5