E A VIDA CONTINUA

Todos nós já sofremos pela separação de um ente querido, um amigo, um animal de estimação, e ao nos virmos sem eles, um vazio imenso se faz em nossas vidas.

Diversos seres partem dessa vida diariamente... Por quê? Para onde foram? Por que isso aconteceu? São perguntas que fazemos nesses momentos tão difíceis.

Acidentes tiram a vida física de muitos todos os dias, pessoas morrem em tenra idade, outros sofrem e levam uma vida conturbada, enquanto outros parecem ter de tudo. Alguns já nascem sem braços, sem pernas, sem a visão, audição ou com algum tipo de deficiência. Por quê?

No século XIX, 1848, nos Estados Unidos da América do Norte, alguns fenômenos estranhos começaram a ocorrer em Hydesville, Condado de Waine, no Estado de Nova York. Duas irmãs, Margareth e Katherine, membros da Igreja Metodista, que mais tarde ficaram conhecidas como as Irmãs Fox, estavam ouvindo em suas casas ruídos, pancadas, e vendo objetos serem levantados e moverem-se no ar. As pessoas ficaram perplexas ao virem e ao ouvirem falar do ocorrido.

Diversos estudiosos da época foram chamados para presenciarem aqueles acontecimentos para, então, encontrarem uma resposta que satisfizesse aos anseios da sociedade. Um desses, era um estudioso francês chamado Hippolyte Léon Denizard Rivail, que ficou conhecido depois como Allan Kardec. Era filho de um juiz, Jean Baptiste Antoine Rivail, e de Jeanne Duhamel. Discípulo de Johann Heinrich Pestalozzi__ um homem que foi fundador de diversas escolas e preocupou-se em formar homens e cidadãos em vez de apenas intelectualizados__ poliglota, homem caridoso, Hippolyte começou a dedicar-se àquele trabalho que representaria um divisor de águas do Espiritualismo.

Depois de muitos estudos e questionamentos foi descoberto que quem estava por detrás daqueles fenômenos era um espírito, que se identificou como Charles Rosma, afirmando em seguida que quando estava “vivo”, ou seja, dentro de um corpo físico, era um vendedor ambulante que foi assassinado naquele local após ter tido seus pertences roubados. Naquela casa das Irmãs Fox, ele foi sepultado, e depois de alguns anos sua ossada foi realmente encontrada naquela residência. Era o prenúncio da codificação, ou seja, da reunião de dados e informações; da compilação de respostas a perguntas feitas aos espíritos que surgiram naquele enredo, por diversos daqueles que participaram do evento na época. Eram eles cientistas, pesquisadores e filósofos renomados, como Gabriel Delanne, Léon Denis e Camille Flammarion.

Hippolyte teve também o apoio de sua dedicada esposa Amelie Gabrielle Boudet, fazendo jus àquela máxima de que por trás de todo grandioso trabalho tem sempre alguém que serviu de arrimo para o trabalhador e de que ninguém faz nada sozinho. Nem mesmo Jesus dispensou o auxílio dos companheiros em sua época, convidando doze amigos para ajudá-lo naquele trabalho de Mensageiro do Amor, e esses foram os seguidores de seu legado e encarregaram-se de nos repassar aquela experiência divinal.

Assim seguindo, outros espíritos se comunicaram, e O Espírito da Verdade, avisou a Hippolyte Léon Denizard Rivail que ele teria a missão de codificar uma nova doutrina, que foi denominada de Doutrina Espírita ou Espiritismo. Como podemos ver, não é uma ideia humana ou vinda de um homem que deu origem ao Espiritismo. Aí está a supremacia da Doutrina Espírita, porque não é ela criada por um homem, mas pelo Espírito da Verdade, uma plêiade de benfeitores, sob a égide de Jesus, com o propósito de trazer a verdade à Terra e reformar o homem. O Espiritismo é o Consolador prometido por Jesus, narrado em João 16:7.

O Professor Rivail ficou incumbido de ser o pilar central daquele trabalho de extrema importância que revelaria uma nova era para a humanidade. Mais tarde, lhe fora revelado que o nome Allan Kardec era seu nome na Gália pré-romana (região da Europa Ocidental), em uma de suas reencarnações, época em que ele pertenceu ao grupo dos Druidas, uma classe sacerdotal da sociedade Celta que englobava professores, médicos, juízes, adivinhos e conselheiros dos reis e rainhas. O termo Celta aplica-se aos povos que viveram na Grã Bretanha e na Europa Ocidental entre 2000 a.C.e 400 d.C.

Os espíritos informaram ao professor Rivail sobre sua missão e lhe falaram sobre um tema até então pouco conhecido por ele e seus amigos da época: Reencarnação.

Porém, esta palavra, reencarnação, já era conhecida com outros nomes como ressurreição, pluralidade das existências, nascer de novo, ressurgir, entre outros, e já fazia parte da crença de povos atuais e de povos antigos.

Através de perguntas feitas por aqueles que se propuseram a estudar o fato junto com médiuns, ou seja, intermediários entre o mundo físico e o mundo espiritual, foi-se observando que não havia a morte, pelo menos da forma como muitos imaginavam ou acreditavam. O que ocorre é o desprendimento, a separação do espírito da matéria. Por isso os espíritas usam os termos encarnados e desencarnados. Os prefixos en (encarnado) denotam dentro de:, imerso em:. Os prefixos des (desencarnado) denotam fora de:, separado de:. E “carnado” vem de “carne.”

Então, temos: encarnado = dentro da carne.

Desencarnado = fora da carne.

Todas aquelas experiências, informações e relatos foram avolumando-se e formaram páginas e mais páginas de escritos referentes às perguntas formuladas. Assim surgiu, em 18 de abril de 1857, o Livro dos Espíritos, com 1019 perguntas tratando dos mais variados assuntos e temas como imortalidade da alma, reencarnação, vida após a morte, vidas em outros planetas, comunicação entre o plano físico e o plano espiritual, morte em tenra idade, fidelidade conjugal, piedade filial, e muitos outros. Além de O Livro dos Espíritos, temos O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno, A Gênese, O Que é o Espiritismo e Obras Póstumas, formando o conjunto das obras básicas do Espiritismo.

Todos esses livros, e muitos que surgiram após a Codificação Espírita, são obras mediúnicas, ou seja, ditadas pelos espíritos e absorvidas pelos médiuns. Só que essa comunicação mediúnica já existe há muitos séculos. No Código dos Vedas encontramos registros de classes que já adotavam práticas assim em sua época. Vedas significa conhecimento. O Código dos Vedas são escritos diversos reunidos em quatro textos escritos em sânscrito por volta de 1500 a.C.. Os Vedas acreditavam nas revelações do mundo espiritual. É uma corrente filosófica e religiosa da Índia.

No Código de Manu há também registros dessas comunicações. O Código de Manu é parte de uma coleção de livros bramânicos reunidos em quatro livros resumidos. Constitui-se na legislação do mundo indiano e estabelece o sistema de castas na sociedade hindu. Foi redigido entre os séculos I a.C. e I I d.C.. Nesses escritos do Código de Manu,

eles nos falam sobre punição em encarnações futuras.

No Antigo Testamento, Levítico 19:31, encontramos passagens em que Moisés proíbe a comunicação com os mortos, mas que o legislador hebreu, segundo Allan Kardec, queria que seu povo abandonasse todos os costumes adquiridos no Egito e nos povos vizinhos, onde as evocações dos entes do mundo espiritual estava em voga. Ele não reprimiu a comunicação entre vivos e mortos senão a prática abusiva desse dom com coisas fúteis, visando os benefícios materiais e interesses pessoais.

Observamos no livro de Samuel, no Antigo Testamento, capítulo 28, uma passagem que nos narra que Saul, um dos contemporâneos do Rei Davi,

que matou o gigante Golias, consulta uma médium ou pitonisa em En- dor.

E por último, vemos Jesus, no Monte Tabor, conversando com dois mortos: Moisés e Elias, na presença dos discípulos Pedro, João e Tiago. O Monte Tabor é uma colina da Galileia, em Israel, conhecido como Monte da Transfiguração, pois foi ali que Jesus se transfigurou, ou seja, se transformou, porque teve que usar de seus poderes medianímicos para entrar em contato com Elias e Moisés, e ao fazer isso é causada uma mudança no corpo físico, pelo perispírito.

Percebemos, através dessas obras, que não morremos, e assim como não morremos, nossos sonhos e objetivos também não morrem. O que chamamos de fatalidades são Leis de Ação e Reação da qual já falamos. O porquê, as causas, como acontece, tudo isso tem uma causa e uma consequência. Nada acontece por acaso.

Com a codificação da Doutrina Espírita surgiram diversos trabalhos nas casas espíritas. Entre eles está a Reunião Mediúnica. Nesse trabalho faz-se a comunicação entre encarnados e desencarnados. É um trabalho a ser feito com um grupo de pessoas preparadas, conhecedoras de mediunidade para que entendam e atendam aqueles irmãos que vêm até ali em busca de uma resposta e de esclarecimentos, querendo enviar um recado para um familiar, um amigo, ou falar de como estão se sentindo. Alguns segmentos religiosos os chamam de diabos, despertando neles a revolta, a indignação e a tristeza.

Imagine só se quando você partir e der saudade de seu filho, pai, mãe

amigo, irmão, e for até o templo religioso que eles frequentam e quiser dar um recado ou vê-los. Para isso você irá precisar de um médium. E eles estão no Catolicismo, Protestantismo, Hinduísmo, Calvinismo ou qualquer outro segmento religioso. Ao se aproximar, aqueles que estão em volta começam a te dizer para ir embora dali, pra você sumir, dizendo que você é o diabo e tantas outras palavras contundentes. Como você se sentiria? Pense se você chegar hoje em seu grupo de trabalho e começarem a te xingar, ofender, proferindo palavras degradantes, gritando contigo, esbravejando, como você ficaria?

Suponhamos agora você chegando a qualquer desses lugares e alguém te abraçar, falar que Jesus te ama, que gosta de você, que também sente saudades, e de que Deus é pai e nos ama, e que jamais permitiria que qualquer um de seus filhos fosse condenado a um estado permanente de sofrimento? Você se sentiu bem melhor pensando dessa forma, não é? É porque assim age Deus, dando-nos oportunidades de recomeçar e corrigirmos nossos erros através de uma nova reencarnação. A Lei da Reencarnação não é uma proposta apresentada pela Doutrina Espírita; ela é lei natural, e todos nós estamos submetidos à ela. O trabalho da reunião mediúnica é o de doutrinar essas almas, fazendo com que os ressentimentos, a ligação e o apego febril à vida física se acabem.

Nas reuniões mediúnicas, além desses que vão para mandar recados, abraços, vão esses que estão magoados, feridos, que foram separados de seus corpos por uma arma, foram assassinados, roubados, não aceitam a morte e não querem separar-se de seus bens ou desligar-se desse mundo. Alguns morreram em acidentes e não conseguem perdoar àqueles que de alguma forma os prejudicaram através de um ato, palavra, gesto, machucando seus sentimentos ou não respeitando-os, e muitos outros estão em nossa volta, alojados em suas mágoas, perdidos por aí, com saudades ou decepcionados.

Mas nós podemos reverter esses sentimentos pensando neles com carinho, pedindo perdão, perdoando, desejando o bem, cantando músicas de amor e pedindo a Jesus, o maior médium de todos os tempos, respeitado por esses irmãos mais rebeldes que sabem o quão é grande o amor que existe dentro dele, luz. Luz essa que fará brilhar seus corações, fazendo-os avistar um novo panorama e entendendo o sentido da vida.

Os espíritos que guardam raiva de nós estão sendo controlados, mas

não são por diabos e nem monstros, mas sim pelo sentimento de raiva, inveja, desejo de vingança, apego às coisas terrenas ou às pessoas, mas ao receberem as devidas coordenadas sentirão renovados e caminharão rumo à evolução. Doutrinar nossos irmãos desencarnados, ajudando-lhes nesse estado de perturbação espiritual é devolver-lhes a esperança, fazendo-lhes perceber que são estimados e que há como desvencilhar-se dessa situação de intranquilidade.

A morte é a passagem para a vida espiritual. Saibamos aceitá-la e

entendamos que através dela e da reencarnação é que chegaremos à perfeição, cumprindo aquela premissa de Jesus que nos falou: Vocês poderão fazer tanto quanto eu e até mais. Jesus sabia que através de encarne, desencarne, esforço, perdão, fé, estudo e questionamento chegaríamos a fazer aquilo que Ele fez naquela época, porque esse é o nosso destino: A perfeição. E quando ele nos fala que faríamos tanto quanto Ele, e até mais, vem nos explicar que Ele não poderia nos apresentar tudo o que conhecia e sabia. Que ouçam aqueles que têm ouvidos para ouvir e que vejam aqueles que têm olhos para ver.

Obrigado Deus. Obrigado Jesus. Obrigado Kardec. Obrigado à todas as criaturas de Deus que sempre estarão vivas e que são as ferramentas do Alto para a execução dos desígnios divinos.

E a vida continua...

Com ou sem posses.

Com ou sem dor.

Com ou sem a morte.

Com ou sem um corpo físico.

Com Deus, mas nunca sem Ele.

A vida não cessa jamais. É um processo de fluidez a movimentar-se nas criações de Deus para que possamos entender e nos tornarmos um só com essa Força Inteligente que possui todos os benfazejos atributos em grau maior, inclusive o amor. Para entender e chegar a essa condição plena de liberdade e conhecimento é preciso percorrer as sendas traçadas por Ele, onde em cada canto encontramos oportunidades de vê-lo ou senti-lo. E talvez essa demora para chegarmos a essa condição esteja ocorrendo porque temos procurado Deus em todos os lugares, menos dentro de nós.