O Milagre da Mudança Interior.
Então, aproximando-se dele um escriba, disse-lhe: Mestre, seguir-te-ei para onde quer que fores. (Mat 8:19). Mateus entre todos os evangelistas,é o mais organizado. Durante o estudo do evangelho segundo ele escreveu podemos perceber que ele distribuiu seus relatos de maneira organizada e não ao acaso. No evangelho segundo Mateus há uma ordem particular das distintas passagens que compõem o relato, essa ordem ou sequência obedece a uma razão bem fundada. Vemos isso no capítulo quatro a partir do versículo 23 e nos capítulos 5, 6 e 7, onde ele relata sobre o Sermão do monte. Ali Jesus ensina os princípios básicos que normatizam e orientam a uma verdadeira vida Cristã, e uma vida que baseada nestes princípios nos levará ao reino do céu. O sermão do monte nos mostra a sabedoria divina em palavras. Já no capítulo oito ele nos mostra o amor divino em ação. No capítulo 8, ele nos oferece o relato de Jesus praticando o que foi ensinado no sermão do monte, ou seja, da teoria e a prática.
O capítulo oito trata de vários milagres praticado por Jesus, se nos ocuparmos de comentar cada um deles o estudo se tornaria muito longo, por isso falaremos de forma resumida. Neste capítulo vemos acontecer seis milagres de forma física e exterior, mas há um milagre que foge do comum e usual, e, é a este que estudaremos com mais atenção. Como podemos ver Jesus curou e agiu sobre os elementos da natureza: 1 – A cura do leproso (vs. 1-4), 2 – A cura do servo do centurião(vs. 5-13), 3 – A cura da sogra do Pedro (vs. 14 e 15), 4 – A cura de todos os doentes que foram levados à porta da casa ao pôr do sol (versículos 16 e 17), 6 – O milagre da sujeição da tempestade (vs. 23-27), 7 – A cura do endemoninhado gadareno (vs. 28-34). Aqui está o relato sequencial dos milagres acontecidos no capítulo oito, mas quando olhamos atentamente pulamos o milagre de número cinco. Porque é sobre ele que falaremos mais atentamente.
O milagre de número cinco acontece no interior do escriba (vs. 18-22): Então, aproximando-se dele um escriba, disse-lhe: Mestre, seguir-te-ei para onde quer que fores. (Mat 8:19). À primeira vista se poderíamos pensar que esta passagem está fora de lugar em um capítulo dedicado a milagres. Mas este é também milagre operado sobre a personalidade de um homem. O que será que aconteceu para que um escriba se dispusesse a seguir a Jesus? Com certeza não foi um fato comum, antes sim um verdadeiro milagre. Como já estudamos em outra feita, o escriba era um especialista na Lei (No Antigo Testamento, principalmente na Lei de Moisés). Suas principais funções eram interpretar a Lei de Moisés, trazendo soluções para as questões difíceis, e fazer cópias exatas da Lei para o uso nas sinagogas. Era referência quando o assunto era a Lei de Deus. Era uma espécie de teólogo, de mestre, de professor ou um doutor da Lei. Geralmente eram pessoas de posse e bem-sucedidas financeiramente. E além disto os ensinos que Jesus acabara de ensinar no sermão do monte contradizia todas as coisas às quais este e escriba tinha dedicado sua vida, a aprender e a ensinar, mas, mesmo assim, ele não viu em Jesus um inimigo, mas um amigo; não um opositor, mas um mestre. O interessante aqui é que ele deixou tudo de lado para seguir a Jesus mesmo quando, Jesus mostra a ele a vida que ele teria pela frente: Mas Jesus lhe respondeu: As raposas têm seus covis, e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça. (Mat 8:20). Vemos que outro discípulo busca desculpas para deixar de seguir a Jesus, quando na continuação do relato vemos: E outro dos discípulos lhe disse: Senhor, permite-me ir primeiro sepultar meu pai. (Mat 8:21). E aqui então podemos notar o lindo milagre acontecendo no coração do escriba que o fez correr para Jesus. Fazendo com que ele visse em Jesus um esplendor e magnificência que nunca tinha visto em nenhum outro homem.
E o que podemos aprender com este relato? Aprendemos que dentre todos os milagres o maior milagre que pode nos acontecer, é aquele que acontece em nosso interior. Porque este milagre traz para nós uma mudança radical da maneira que enxergamos o mundo. Pois como vemos no relato o outro discípulo ainda estava preso as coisas deste mundo. Não quero aqui dizer que não devamos valorizar as coisas deste mundo, mas, existe uma diferença entre usarmos as coisas do mundo para nos propiciar um bem viver e deixar que estas mesmas coisas no escravize. Uma coisa é usar um barco para atravessar um rio, outra coisa é se prender a este barco ao ponto de não pisarmos mais em terra firme. Pois aquele que se firma nas coisas da terra jamais enxergará as coisas do céu. Cabe a cada um de nós, nos observarmos a fim de saber, se temos uma semelhança com o discípulo ou com o escriba. E se acaso a semelhança for com a do discípulo, busque rapidamente o milagre da mudança interior. Porque Jesus em outra passagem nos ensina: Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias. (Mat 15:19). Que a paz de Cristo Jesus seja o arbitro de nossos corações.
(Molivars).