O alvo da luta

“Pois assim corro, não como a coisa incerta; assim combato, não como batendo no ar.” I Cor 9; 26

Figura de um boxeador treinando, coisa comum em Corinto naquele tempo, para ilustrar alguém que “combate” adversário imaginário.

Noutra parte identificara adversários da nossa luta; “Porque não temos que lutar contra carne e sangue, mas contra os principados, potestades, contra os príncipes das trevas deste século, hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.” Ef 6; 12

Para sermos bem sucedidos carecemos saber contra quem estamos lutando; conhecer estratégias, pontos fortes e vulneráveis do adversário. Acontece que esse ensino tem sido muito mal entendido e dado azo à propalada “Batalha Espiritual” que, mesmo ufanando-se de grandes feitos dá golpes no ar, coisa a qual se recusava, o apóstolo.

A peleja pode dar-se em dois âmbitos: manutenção do território conquistado; ou, busca de novas conquistas. No primeiro caso nossa postura é defensiva; no segundo, de ataque.

O “território” conquistado por Cristo em cada salvo é precisamente sua salvação. A perseverança na fé mesmo em face às ciladas malignas é a necessária defesa. Nesse caso, há um componente de carne e sangue, o corpo, cuja inclinação é favorável ao pecado e precisa ser mortificado.

Então, depois de dizer que não golpeava o ar Paulo anexou: “Antes subjugo meu corpo e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado.” I Cor 9; 27

E isso não era exclusividade dele; antes, identificou todos os salvos no mesmo barco. “Os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências.” Gál 5; 24 Crucificar à carne é não ceder aos seus apelos, andar em espírito.

A postura ofensiva visa a conquista de outros para ingresso no Reino.

Duas coisas precisam ser bem entendidas antes de sairmos a esse combate; uma: Não existe salvação compulsória; será sempre arbitrária. Nada vale orarmos por alguém, expulsarmos espíritos maus que lhe assediam se, esse alguém não submeter livremente sua vida ao Salvador.

Outra: não podemos enviar para longe os espíritos maus que tentam a pecar; liberdade para isso, até oprimir, é facultada por Deus. Fizeram com o próprio Senhor, por que não fariam conosco?

A peleja se dá com espadas específicas. A Palavra de Deus é a Espada do Espírito Santo; eufemismos, sofismas, enganos, nomes oblíquos da mentira são munições dos demônios; o mesmo Paulo identificou. “Porque, andando na carne, não militamos segundo a carne. As armas da nossa milícia não são carnais, mas poderosas em Deus para destruição das fortalezas; destruindo conselhos e toda altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, levando cativo todo entendimento à obediência de Cristo;” II Cor 10; 3 a 5

Vemos que a obediência sucede ao entendimento, o que anula a pecha gratuita que a fé é cega. Aliás, é estratagema inimigo; cegar entendimentos recrudescendo a incredulidade. “Mas, se ainda o nosso evangelho está encoberto, para os que se perdem está encoberto. Nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da Glória de Cristo, que é a Imagem de Deus.” II Cor 4; 3 e 4

Embora os desdobramentos sejam múltiplos, fé x incredulidade; luz x trevas; salvação x perdição; etc. a essência da batalha será sempre verdade contra mentira. Se, para identificar uma cédula falsa demanda que alguém conheça bem a verdadeira que ela imita, também a Palavra de Deus conhecida, vivida e sobriamente interpretada “blinda” contra ataques malignos.

Muito ouvi mensageiros dizerem: “Não aceite acusação; acusação é do diabo”. Ora, ele acusa perante Deus, até sem motivos, como fez com Jó; todavia, se o fizer em minha consciência quando erro, devo concluir que ele se converteu e ajuda à obra de Deus.

Quem inquieta nossas consciências quando falhamos é o Espírito Santo; para tal não há exorcismo nem objeção possível; antes, arrependimento e confissão para sermos perdoados. Pois, pior que dar golpes no ar por não identificar o inimigo seria blasfemar atribuindo “qualidades” dele ao Santo.

Quando líderes hipócritas pediram que Jeremias orasse para saber por que os Babilônios lutavam contra eles a resposta de Deus foi surpreendente: “Eu pelejarei contra vós com mão estendida, com braço forte, com ira, indignação e grande furor.” Jr 21; 5 Deus estava pelejando; os Caldeus eram só instrumentos daquela peleja.

Isaías reforçou: “Mas eles foram rebeldes, contristaram O Seu Espírito Santo; por isso se lhes tornou em inimigo, Ele mesmo pelejou contra eles.” Is 63; 10

Antes de sairmos bravateando tolices olhemos no espelho; pode ser que o inimigo seja minha própria rebeldia; e nesse caso vociferar contra o Canhoto seria dar golpes no ar.