Devemos orar a Palavra de Deus?

“E a sua palavra não permanece em vós, porque naquele que ele enviou não credes.” Jo 5; 38

Jesus estava dizendo que a Palavra de Deus não permanecia nos ouvintes porque eles não criam Nele, o Enviado. Que será que Ele pretendia com “permanecer”? Os dois versos que seguem sugerem entender o sentido e agir conforme. “Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam; e não quereis vir a mim para terdes vida.” 39 e 40 Lidas por bons entendedores, as Escrituras deveriam conduzir a Ele.

Qualquer cristão minimamente esclarecido concordará que, entender a Palavra de Deus e agir conforme é o que Ele ainda espera de nós. Só que alguns, infelizmente, confundem receita com remédio.

Cheio está o universo virtual com ensinos que devemos “orar a Palavra”. Um dos textos evocados em defesa disso é: “Se vós estiverdes em mim e minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes e vos será feito.” Jo 15; 7 Ou, uma oração de Davi, em agradecimento depois de promessas grandiosas que o Eterno lhe fizera; o rei orou: “Faze como disseste.” Ora, era uma promessa específica, direcionada a ele e sua descendência, como oraria diverso?

Tais mestres ensinam que a Bíblia é um livro de cheques; basta pegarmos uma promessa qualquer e crermos, que nossa fé acabará descontando no “Banco do céu”. Uma favorita é Filipenses 4; 19: “O meu Deus, segundo suas riquezas suprirá vossas necessidades em glória por Cristo Jesus.” Ora, não precisamos ser teólogos, apenas, bem intencionados e atentos ao contexto para entender que essa promessa não nos diz respeito. Basta ler para ver que Paulo está agradecendo por uma oferta generosa que recebera da igreja de Filipos, e assegurando que Deus os recompensaria por aquilo; nada a ver conosco.

Promessas que nos dizem respeito não trazem pronomes pessoais. Vós; é coletivo, mas, específico, para comunidade de Filipos. A nós chegam promessas apoiadas em pronomes indefinidos, tipo: “Se alguém quiser fazer a vontade Dele Conhecerá...” “Todo aquele que Nele crê, não pereça...” “ Se alguém está em Cristo nova criatura é...” etc. Sempre será o predicado, a condicionante, que identificará o sujeito a quem a promessa se destina. Tentar pegar carona em promessa alheia é “preencher cheque” sem fundos, para usar a alegoria deles.

Quando o Mestre diz que Suas Palavras devem estar em nós, não tenciona uma citação “ipsis litteris”, antes, a essência do ensino. Todos do ramo costumam dizer que orar é falar com Deus; e que a Bíblia é Deus falando conosco. Ora, como falarei com Deus com Suas Palavras invés das minhas? Quando Jesus ensinou a oração conhecida como Pai Nosso era só um modelo. A Santificação do Nome, a vinda do Reino, a submissão à Vontade Dele, antes das minhas coisas, que incluem perdoar antes de pedir perdão, etc. Apenas uma ordem de prioridades, não um mantra que pode ser repetido metálico, sem coração.

Ele mesmo, aliás, condenou as repetições, as ditas rezas, que chamou de fracas, vãs. “E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que por muito falarem serão ouvidos.” Mat 6; 7

Deus não atende orações graças ao conteúdo ou à forma das palavras. Antes, à sinceridade da fala e à fé anexa. “E buscar-me-eis, e me achareis quando me buscardes com todo o vosso coração.” Jr 29; 13 “E bem sei eu, Deus meu, que tu provas os corações e que da sinceridade te agradas;...” I Cr 29; 17 etc. Coração contrito, verdade, vale mais para Deus que palavras belas, mesmo que religiosas, como vimos no exemplo do Fariseu e do Publicano.

Se alguém trata à Bíblia como mero banco de promessas, não deve esquecer que há muitas promessas de juízo contra os egoístas, materialistas, infiéis. Sua Palavra em nós faria que buscássemos Seu Reino e Justiça; mas, frequentemente usam pelas demais coisas que Ele disse que nos seriam acrescentadas.

Essa lorota de ficar repetindo para mim mesmo trechos das Escrituras mesmo que o coração não creia é engano, artifício. A fé vem pelo ouvir, não por repetir a Palavra. Ademais, o fim da Palavra é muito mais nobre que coisas comezinhas que se ensina a buscar. “Respondeu-lhe, pois, Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna.” Jo 6; 68 A Palavra de Deus veio para salvar, moldar, regenerar nosso ser; não para alavancar cobiças na carne.

Coloquei um comentário educado sob um vídeo desses no You Tube discordando e expondo as razões; foi “moderado”, ou seja: Apagado. Pior que ser dono da verdade é quando tal “verdade” é mera idiossincrasia, como razão de bêbado.