A fraqueza que move a Deus
“Mas, se ele resolveu alguma coisa, quem então o desviará? O que a sua alma quiser isso fará.” Jó 23; 13 Interessante afirmação de Jó sobre a singularidade do Poder de Deus. Ele disse algo semelhante mediante Isaías. “Ainda antes que houvesse dia eu sou; ninguém há que possa fazer escapar das minhas mãos; agindo eu, quem o impedirá?” Is 43; 13
O fato que não há força alguma que possa “dobrar” ao Eterno não significa que tudo está escrito. Que fará o que quer a despeito de outras coisas. Se é vero que Deus não pode ser demovido à força, também o é, que se comove ante valores, como arrependimento e misericórdia, por exemplo.
Tiago chega a enfatizar a misericórdia como maior que a justiça. “Porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia; e a misericórdia triunfa do juízo.” Tg 2; 13 Esse “triunfo” foi verificado no exemplo da oração do Fariseu e o Publicano. Aquele orava por justiça, pois, na sua concepção era digno; achava que merecia; esse sabia-se, pecador e pedia misericórdia. O Salvador ensinou que o último foi justificado, enquanto o outro seguiu arrogante em suas culpas.
Assim, não significa que a misericórdia seja maior que a justiça em essência, valor; mas, em eficácia dado que somos injustos, dependentes de perdão.
O arrependimento é nossa parte que “impede” o juízo de Deus, uma vez que evoca seu lado afetivo, misericordioso. Todos conhecem a história de Nínive capital Assíria à qual Deus enviou uma mensagem de juízo mediante Jonas, e no fim, sustou, dada Sua misericórdia ao contemplar o arrependimento. Também por ocasião do Êxodo, quando da rebeldia contumaz do povo, Deus ordenou que Moisés se apartasse, pois, o queria consumir. Moisés prostrou-se, orou, e o Eterno cancelou a sentença.
No caso assírio vimos a eficácia do arrependimento; no evento de Moisés, da intercessão. Mesmo não havendo contrição dos culpados, Deus move-se à oração do mediador. Não que isso mude muito, mas, é como se pedisse um tempo mais, para tentar exortar ao arrependimento atrasando o juízo, coisa que Deus não se apraz em aplicar contra humanos. Ele mesmo diz: “Dize-lhes: Vivo eu diz o Senhor Deus, que não tenho prazer na morte do ímpio, mas, que o ímpio se converta do seu caminho e viva. Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois, por que razão morrereis, ó casa de Israel?” Ez 33; 11
Então, mesmo a mediação sendo um paliativo Ele ainda desejava isso, antes, que ter que aplicar o juízo. “E busquei dentre eles um homem que estivesse tapando o muro; estivesse na brecha perante mim por esta terra, para que eu não a destruísse; porém, a ninguém achei” Ez 22; 30
A mediação de Jesus Cristo, contudo, não é um paliativo para ganhar tempo onde não há arrependimento; antes, uma substituição de culpa por perdão, para recuperar a vida, apenas onde o arrependimento se verifica com sinceridade.
Somos chamados a uma identificação com Sua sina, antes Dele nos promover ao Reino. “Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte? De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida. Porque, se fomos plantados juntamente com ele na semelhança da sua morte, o seremos na da sua ressurreição;” Rom 6; 3 a 5 Assim, a Justiça de Deus incidiu sobre Cristo para que a misericórdia, se nos propusesse.
Claro que isso não é irresponsável, antes, devemos cooperar com o Espírito Santo que nos é dado na conversão; só assim teremos força para “dobrar” o juízo merecido. O mesmo que dissera por ocasião da reconstrução do templo em Jerusalém, se verifica em relação à regeneração de nossas vidas. “Não por força nem por violência, mas, pelo meu Espírito diz o Senhor dos Exércitos.” Zac 4; 6
Então, enquanto a graça de Deus está disponível, nosso arrependimento pode movê-lO; mas, se Sua Santa paciência acabar, oração nenhuma bastará, como foi quando desistiu de esperar arrependimento nos dias de Jeremias. Aconselhou ao profeta que não orasse. “Tu, pois, não ores por este povo, não levantes por ele clamor ou oração, nem me supliques, porque eu não te ouvirei.” Jr 7; 16
Sejamos ágeis e inteligentes, pois, enquanto podemos mover o coração de Deus. “Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto. Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus pensamentos, e se converta ao Senhor, que se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar.” Is 55; 6 e 7