Telhado de Vidro - Também pode ser contado para adulto
Era uma casa engraçada, não como a de Vinícius de Morares, esta tinha teto. Um teto de Olaria, daqueles antigos, onde a força está no amarramento feito pelas madeiras que lhes dão apoio. As crianças da rua sempre subiam confiadas, certas que jamais cairiam dali, pela segurança com que a casa, que era antiga, fora construída e nos verões de nosso Brasil, o teto se coloria de belas petecas, pipas (papagaios) e rabiolas.
Cresceram pela vila muitas crianças, que depois se tornaram pais, mas confiavam ainda na estrutura da bela casa.
Só que um dia, na chegou um vizinho novo e começou criticar a telha antiga que dava cobertura a casa, onde os moradores, agora idosos, apenas balançavam a cabeça frente a impertinência e intromissão do morador da casa ao lado, que era jovem. E para os idosos, que já viram de tudo, a juventude às vezes era um aprendizado dificultoso para alguns e, na opinião deles, era o caso do novo vizinho.
Revoltado com a Arquitetura antiquada da casa ao lado, o vizinho jovem construiu a sua mais alta que a antiga, que detinha até então o posto de residência mais alta da vila. os idosos sorriram de novo, o título nunca os enriquecera ou empobrecera e eles nem se importavam com ele. Mas o jovem implicante, apostando em novas tecnologias cometeu um erro de principiante: fez seu telhado de VIDRO.
A bela casa até destoava das demais! Se a casados idosos, com sua beleza antiga dava um ar de saudade para a vila, a `Casa de Vidro`, como logo apelidaram as crianças, dava um ar de estranheza, como se toda aquela beleza estivesse fora de tempo e de lugar.
A Casa de Vidro ficou pronta no tempo escolar, as crianças não estavam afinadas com os papagaios e brinquedos de rodas, estavam presas aos livros e aos assuntos de frequência e assiduidade escolar...
Por alguns meses tudo ficou bem.
Chegaram as férias.
As crianças aposentaram os livros e abraçaram seus brinquedos usuais e enfeitaram o Céu de cores diversas e, claro, satisfeitas em seu corta e apara, saiam correndo atrás das pipas que caiam pelos quintais e telhados.
Os idosos, da Casa Antiga, abriam os portões ou sorriam quando algum espertinho pulava o muro e subia no antigo telhado atrás de seus brinquedos de varetas.
O dono da Casa de Vidro quebrava os pipas que via, mas as crianças, quando ele não estava em casa, temendo um tombo e saírem machucadas ou seriamente feridas, não temiam outro fator: a busca pelos brinquedos perdidos por ´apanhadores´. Amarravam linha em um bambu e colocavam forquilhas e pedras nas pontas, assim, lançavam sobre o telhado da Casa de Vidro e reconquistavam seus brinquedos coloridos.
Alguns, mais corajosos, subiam na Casa Antiga para ficarem mais perto do Telhado de Vidro.
Veio as chuvas de Verão e a Casa de Vidro se alagou.
E passando a chuva, o dono da casa, que se viu obrigado a se proteger na Casa Antiga, teve que reformar todas as telhas, insistindo em usar vidor, pois lhe permitia uma claridade maior e todas as desculpas arquitetônicas que conhecia...
E sua vida se alongou a isto, vive feliz na época escolar, mas nas férias ele costuma sofrer com seu Telhado de Vidro.
Ouvi uma criança dizer que é por causa desta história que os mais velhos dizem: `` Quem tem telhado de vidro não joga pedras no telhado do vizinho``.
Não sei se isto é de fato certo, sei que aproveito esta História para pensar em minhas próprias atitudes e pauto meu pensamento em versículo do livro de Mateus que dá fundamento ao meu pensamento: "Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão, e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho? (Mateus 7:2-3)