Da Mochila Vazia
O que será que move esses irmãos que conseguem caminhar nesse caminho tão improvável mas, ao mesmo tempo, tão sedutor chamado simplicidade? Talvez a simplicidade seja mesmo essa escalada de que falam alguns. Uma escalada para a montanha da felicidade. Uma escalada onde eles estão com suas mochilas de provimento praticamente vazias; como se a fé que carregam consigo, fosse o item principal (e quase único) de suas bagagens. Mas, de fato, quando não nos pesa sobre as costas certas cargas (certos apegos) tão limitantes, a escalada do dia-a-dia é, mesmo, mais leve e tranquila. Por exemplo, o peso da inquietude por conservar tudo aquilo que já foi materialmente conquistado. Enquanto eles simplesmente dividem suas conquistas interiores com os mais pobres que encontram. A carga de medo, que pesa tanto sobre quem encara a própria morte (e a dos entes queridos) como um risco terrível de abreviação daquilo que (no presente) parece tão indispensável. Enquanto eles entendem que morrem todos os dias para aquilo que, simplesmente, não os pertencem. Sabendo que o que lhes é verdadeiramente propriedade, não pode jamais deixar de lhes pertencer. O peso das extravagâncias alimentares, que, além de desigualar a fatia de provimento (que deveria ser dividida igualitariamente por todos os seres que habitam o planeta), também corrompe o vaso físico com as implacáveis ervas daninhas chamadas doenças. Enquanto eles só ingerem o necessário para se manter ativos; sabendo que suas vidas físicas não podem pesar sobre a vida de outro ser, que a perderia para alimentá-lo. E que o alimento principal não é absorvido pela boca, mas pelas portas abertas do coração. O peso do apego emocional, que é como um cinturão de pedras envolvendo cada sentimento; e limitando o poder de voo de algo (como o amor) que poderia proporcionar experiências imprevisivelmente arrebatadoras; desde que ultrapassasse a fronteira delimitada pelas nuvens da racionalidade e do materialismo. Enquanto eles flutuam (como plumas de desprendimento) levados pelo vento da vontade divina, que sabe (melhor que eles mesmos) onde e com quem deve ser compartilhado todo o amor que lhes é tão íntimo e tão necessário. Sim, parece que o que faz deles muito diferentes de nós, não é o que carregam a mais; mas o que carregam de menos.
Nov - 2012