Quem teme à morte?
“Procura vir ter comigo depressa, porque Demas me desamparou, amando o presente século, e foi para Tessalônica, Crescente para Galácia, Tito para Dalmácia. Só Lucas está comigo…” II Tim 4; 10 e 11
Isso lido de modo superficial pode parecer que a solidão de Paulo o está incomodando e ele está rogando a breve presença do jovem Timóteo. Entretanto, seu senso de urgência deriva de outra causa. Estava condenado à morte; restava-lhe pouco tempo e tinha ainda providências antes de partir.
Dissera: “Porque eu já estou sendo oferecido por aspersão de sacrifício, o tempo da minha partida está próximo. Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.” Vs 6 e 7 De certo modo estava passando o bastão do revezamento na corrida ministerial; tinha mais cuidado com ordenar bem as coisas que preocupação com a própria vida, a qual encerrava como vencedor.
Queria estabelecer diretrizes ministeriais; “…Toma Marcos e traze-o contigo, porque me é muito útil para o ministério.” V 11 e cuidar do “espólio” de seus bens. “Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, e os livros, principalmente os pergaminhos.” V 13 Livros eram raridade, portanto, de alto valor. Certamente deixaria seu legado aos sucessores, não, alhures.
Que não tinha sentimentos rancorosos contra os que o desampararam patenteou: “Ninguém me assistiu na minha primeira defesa, antes todos me desampararam. Que isto lhes não seja imputado. Mas o Senhor assistiu-me e fortaleceu-me, para que por mim fosse cumprida a pregação, e todos os gentios a ouvissem; e fiquei livre da boca do leão.” Vs 16 e 17 Consolava-se no fato que o lapso de amparo humano fora suprido com o apoio Divino.
Alguns brincam propondo a questão: O quê você faria se soubesse que lhe restam poucos dias de vida? A maioria das respostas afirmam que aproveitariam ao máximo o tempo para se divertir. Paulo o fez organizando o trabalho que deveria seguir.
O rei Ezequias posto em situação semelhante reagiu de modo diverso: “Naqueles dias Ezequias adoeceu de uma enfermidade mortal; veio a ele o profeta Isaías, filho de Amós, e lhe disse: Assim diz o Senhor: Põe em ordem a tua casa, porque morrerás, não viverás. Então virou Ezequias o seu rosto para a parede, e orou ao Senhor. E disse: Ah! Senhor, peço-te, lembra-te agora, de que andei diante de ti em verdade, e com coração perfeito, e fiz o que era reto aos teus olhos. E chorou Ezequias muitíssimo.” Is 38; 1 a 3
Não estou censurando o rei, do qual a Bíblia dá testemunho, e o próprio Deus o fez acrescendo-lhe quinze anos de vida; apenas, constatando uma reação diversa em contexto igualmente diverso. Era o Velho Testamento, onde a ideia de vida eterna não era nítida como no Novo.
Não seria coerente viver ensinando a bem aventurança porvir, e morrer miseravelmente como se prezasse mais a vida aqui. Sócrates, o filósofo, que defendia coisas semelhantes em seus ensinos, ( que os justos não deveriam temer a morte ) quando condenado se protelou um pouco a execução, e alguns discípulos viram nisso a possibilidade dele fugir. O sábio afirmou que não faria, pois, seria contraditório viver ensinando algo, e na hora de demonstrar cabalmente a coerência entre o ser e o discurso, fraquejar.
Acontece que a maioria dos “apóstolos” atuais ainda que sua pregação acenem, eventualmente, com coisas do Reino dos Céus, o pujante materialismo derivado do engano viça ainda aqui. O que o ímpio chama de “curtir a vida” tem no fim do túnel a ideia da morte; tanto que uns acrescem: porque a vida é curta. Assim, patenteiam seu deserto de esperança além. Sua pressa ao prazer, no fundo, é medo da morte.
Dos servos do Senhor se espera algo melhor, uma vez que o feito de Cristo logrou que, “livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão.” Heb 2; 15 O texto não relata tais como voando nas asas do prazer, antes, sujeitos à servidão, escravos.
Paulo escrevendo aos romanos não avaliou os prazeres pecaminosos em si, mas, o fim a que conduzem. “Porque, quando éreis servos do pecado, estáveis livres da justiça. Que fruto tínheis então das coisas de que agora vos envergonhais? Porque o fim delas é a morte.” Rom 6; 21 e 22
Assim, se a morte a um salvo é mero estágio onde é possível a sua porta tomar providências como se a vida seguisse, para o que ignora O Salvador, é o fim; de seu tempo, esperança, oportunidade. Quem em Cristo já crucificou seus pecados não a teme, pois, Ele a venceu e nos inclui em Sua vitória.