Embaixadores ou garimpeiros?

“Quando, pois, algum homem ou mulher em si tiver um espírito de necromancia ou espírito de adivinhação, certamente morrerá; serão apedrejados; o seu sangue será sobre eles.” Lev 20 ; 27

Esse imediatismo do juízo, inclusive com pena de morte escandaliza alguns críticos da Bíblia que rejeitam os relatos veterotestamentários como indignos de Deus, manifesto tão gracioso em Jesus. Todavia, precisamos contextualizar a ação se quisermos entendê-la. “…agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos, porque toda a terra é minha. E vós me sereis um reino sacerdotal e o povo santo.” Ex 19; 5 e 6

Apesar de Dono de tudo Deus queria algo especial, uma embaixada do Seu Reino. Um povo que deveria ser santo para O representar. Assim, circunstancialmente, o Reino de Deus era desse mundo; os escolhidos tinham privilégios e deveres especiais, diverso das demais nações.

As guerras eram uma triste necessidade, posto que, os derrotados habitantes de Canaã não tinham nada de inocentes. Depois de vetar incesto, homossexualismo, espiritismo, adultério, zoofilia, etc . Deus acresceu: “E não andeis nos costumes das nações que eu expulso de diante de vós, porque fizeram todas estas coisas; portanto fui enfadado deles.” Lev 20; 23

A maioria das instruções dadas tinha caráter profilático. Atentavam à higiene e alimentação saudável, posto que o veto tinha um componente espiritual; quem desobedecesse pecaria por estar afrontando Deus. O juízo era imediato porque as consequências de pecados graves também eram. O erro de Acã fez Deus se afastar dos soldados em combate o que ocasionou 36 mortes em Ai.

Assim, com nenhum outro povo Deus foi tão rigoroso e imediatista; porém, que outra nação teve o mar aberto diante de si no caminho da libertação? Quem recebeu alimento do céu quarenta anos no deserto? Água da rocha, codornizes e tantos milagres mais? Mesmo assim, nem tudo era punido imediatamente, pois, encontramos muito da misericórdia Divina naqueles dias.

Ele ordenara um “Sábado” para a terra a cada sete anos; ou seja deveria descansar que Ele abençoaria a colheita do sexto para que fosse suficiente para dois anos. Não observaram isso durante 490 anos; de modo que, os setenta anos do cativeiro babilônico, Medo-Persa, era tardio juízo por tal transgressão.

Todavia, mesmo depois do cativeiro nunca alcançaram a obediência intentada por Deus. Tanto que, quando o Rei visitou a “embaixada” invés de calorosa recepção, sequer tinha trânsito livre, como denunciou o profeta: “Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor; endireitai no ermo vereda a nosso Deus.” Is 40; 3

Deus mesmo lamenta dizendo que seu trabalho fora inútil. O salmista lembra o feito; “Trouxeste uma vinha do Egito; lançaste fora os gentios e a plantaste. Preparaste-lhe lugar, e fizeste com que ela deitasse raízes e encheu a terra.” Salmo 80; 8 e 9 Isaías denuncia o resultado: “E cercou-a, e limpando-a das pedras, plantou-a de excelentes vides; e edificou no meio dela uma torre, e também construiu nela um lagar; e esperava que desse uvas boas, porém deu uvas bravas.” Is 5; 2 Mais adiante interpreta a alegoria; “Porque a vinha do Senhor dos Exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá são a planta das suas delícias; e esperou que exercesse juízo, e eis aqui opressão; justiça, e eis aqui clamor.” V 7

Assim, a Bíblia apresenta a falência da embaixada celeste mediante Israel; a videira santa degenerara, se tornara falsa pelo frutos produzidos; opressão, clamor.

Com esse pano de fundo em mente o Salvador asseverou: “ Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. Toda a vara em mim, que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto.” Jo 15; 1 e 2 Os santos, então, não mais numa nação, mas, numa pessoa: Em Cristo, e os frutos os mesmos; juízo, justiça, acrescidos de misericórdia, perdão, pois, as consequências dos erros incidem menos sobre os outros que sobre cada um.

A nova embaixada é espiritual. “…É chegado o reino dos céus.” Mat 10; 7 Tal qual Israel, os salvos têm privilégios, mas, deveres maiores também. O simples dizer ser um dos tais, compromete. “Todavia o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade.” II Tim 2; 19

Nosso alvo não é enriquecer na terra, antes, promover a reconciliação. “De sorte que somos embaixadores da parte de Cristo, como se Deus por nós rogasse. Rogamo-vos, pois, da parte de Cristo, que vos reconcilieis com Deus.” II Cor 5; 20