O ás na manga, de Deus

“E aconteceu que pela manhã o seu espírito perturbou-se, enviou e chamou todos os adivinhadores do Egito, todos os seus sábios; e Faraó contou-lhes seus sonhos, mas ninguém havia que lhos interpretasse.” Gen 41; 8

Quem conhece o relato sabe que José só entrou em cena depois de todos os “sábios”. Ele foi, digamos, a ideia derradeira, tipo, não tem tu vai tu mesmo, como dizem alhures. Então, depois de esgotados os recursos de Faraó o Eterno resolveu entrar em campo; afinal qualquer deles que arranhasse uma interpretação, ao menos, verossímil para os sonhos do soberano daria a glória aos ídolos egípcios. Deus não permite tal espólio. “Eu sou o Senhor; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não darei, nem o meu louvor às imagens de escultura.” Is 42; 8

Com Daniel em Babilônia ocorreu algo semelhante; os pretensos sábios, magos, adivinhos foram chamados para lembrar o sonho do rei e interpretar. Ele só foi buscado depois, quando da sentença de morte; aí pediu um tempo ainda e Deus operou maravilhosamente.

Por que Deus “ganha o jogo” quase sempre nos acréscimos? Estará Ele querendo chamar atenção? Sim. Qual o amante não desejaria fazer assim com o amado? Ele faz isso porque nos ama. Também porque conhece nossa capacidade de auto engano. Qualquer coisa de origem sobrenatural que pudermos explicar por meios “lógicos” alienando Ao Senhor, o fazemos. Então, não raro, Ele opera de modo estrondoso para que as escamas da incredulidade caiam de nossos olhos.

Afinal, como Daniel, Ele também é ignorado na Babel humana e chamado apenas nas horas ruins. Acontece uma catástrofe, homens ímpios vociferam: “Onde estava Deus?” Um documentário qualquer exibe maravilhas da criação atribuem tais coisas à evolução natural dizendo: “A natureza é sábia”. Isaías denunciou algo assim; “Senhor, a tua mão está exaltada, mas nem por isso a veem; vê-la-ão, porém, confundir-se-ão por causa do zelo que tens do teu povo;…” Is 26; 11

Mesmo os que alardeiam crer, muitos vivem uma duplicidade entre dúvida e fé, obediência e rebeldia, santo e profano; Tiago trata desse tema na sua epístola. Entre outras coisas, diz: “Peça, porém, com fé, nada duvidando; porque o que duvida é semelhante à onda do mar, que é levada pelo vento, e lançada de uma para outra parte. Não pense tal homem que receberá do Senhor alguma coisa. O homem de coração dobre é inconstante em todos os seus caminhos.” 1; 6 a 8 “E sede cumpridores da palavra, não somente ouvintes, enganando-vos com falsos discursos.” V 22 “De uma mesma boca procede bênção e maldição. Meus irmãos, não convém que isto se faça assim.” 3; 10 por fim, corrobora com uma exortação ainda sobre o tema: “Chegai-vos a Deus, ele se chegará a vós. Alimpai as mãos, pecadores; e, vós de duplo ânimo, purificai os corações.” 4; 8

O lado “terráqueo” desse duplo ânimo arranja explicações lógicas para o que puder tentando evadir-se à responsabilidade de uma relação com Deus. Sim, diverso dos pregoeiros da moda que alistam facilidades na senda espiritual, a Palavra não sonega o peso e estreitamento necessários.

Aliás, o mesmo Tiago disse que essa busca natural que atenta mais aos prazeres do mundo que à Vontade de Deus é adultério espiritual. “Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.” 4; 4 Assim, pregadores água com açúcar, que temem a polêmica, a linguagem “politicamente incorreta” mostram mais escrúpulos quanto à aceitação humana que à Divina.

A suma é: Enquanto acharmos que podemos “interpretar” do nosso modo os meandros da vida, enquanto pensarmos que temos todas as cartas, Ele se manterá, ainda que contrariado, à parte. “Por isso, o Senhor esperará, para ter misericórdia de vós;…” Is 30; 18 Mas, se O buscarmos de coração aberto Ele sempre terá um ás na manga para desfazer as dúvidas que nos assombram.

E a busca Nele necessariamente evocará as nossas culpas como foi então com o copeiro de Faraó; “Então falou o copeiro-mor a Faraó, dizendo: Dos meus pecados me lembro hoje:” Gn 41 9

Sair do cárcere para o trono como se deu com José é um roteiro maravilhoso com o qual muitos devaneiam. Entretanto, é precisamente isso que nos é oferecido em Cristo. Assim como o Espírito Santo revelou o porvir a José, de modo que a manutenção da vida fosse planejada se dá conosco no âmbito espiritual. A singularidade no reino de Faraó é a regra no Reino de Deus. “E disse Faraó a seus servos: Acharíamos um homem como este em quem haja o espírito de Deus?” v 38