Viagem ao inferno

“Estes são fontes sem água, nuvens levadas pela força do vento, para os quais a escuridão das trevas eternamente se reserva.” II Ped 2; 17 “E aos anjos que … deixaram a sua própria habitação, reservou na escuridão e em prisões eternas até ao juízo daquele grande dia;” Jd v 6

Tanto Pedro quanto Judas ao se referirem ao inferno lhe atribuem um predicado interessante: Escuridão. Inferno derivado do Latim sugere apenas um lugar inferior, sem aventar em quê consiste tal inferioridade.

A ideia vulgar é de um lugar onde ardem chamas eternas a torturar seus presos, embora, pareça contraditório chamas associadas à escuridão. Mas, isso não está contido nas Escrituras? Está. “Assim como Sodoma e Gomorra, e as cidades circunvizinhas, … foram postas por exemplo, sofrendo a pena do fogo eterno.” Jd v 7 ainda: “E, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e manda a Lázaro, que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama.” Luc 16; 24 etc.

Nesse contexto O Senhor amplia: “Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro somente males; e agora este é consolado e tu atormentado.” V 25 Se Lázaro fora miserável, o outro rico, e estavam ambos recebendo o outro lado da moeda é lícito inferir que a absoluta privação de refrigério era a “chama” atormentando ao infeliz. Tanto que, mesmo água lhe faltava.

A Palavra fogo é uma metáfora muito ampla nas Escrituras. Pode dar forma visível à Ira Divina ; “Porque o Senhor teu Deus é um fogo que consome, …” Dt 4; 24 Ao poder de Sua Palavra, “Porventura a minha palavra não é como o fogo, diz o Senhor, e como um martelo que esmiúça a pedra?” Jr 23; 29 ou, figurar excitação espiritual ao receber entendimento, como no caminho de Emaús; “…Porventura não ardia em nós o nosso coração quando, pelo caminho, nos falava, e quando nos abria as Escrituras?” Luc 24; 42 Ainda, a provação dos salvos; “…esse vos batizará com o Espírito Santo e com fogo. Ele tem a pá na sua mão; e limpará a sua eira, e ajuntará o trigo no seu celeiro, mas queimará a palha com fogo que nunca se apaga.” Luc 3; 16 e 17 etc.

Esse queimar a palha que fora tipificada como visões humanas em Jeremias, bem pode ser o suplantar de todo engano doutrinário, filosófico, pela virtude da Palavra de Deus.

A ignorância espiritual é nomeada de trevas, escuridão, desde sempre. “Levanta-te, resplandece, porque vem a tua luz, e a glória do Senhor vai nascendo sobre ti; Porque eis que as trevas cobriram a terra, e a escuridão os povos; mas sobre ti o Senhor virá surgindo, e a sua glória se verá sobre ti.” Is 60; 1 e 2 Essa promessa atina a Jerusalém; mas, ao referir-se ao início do ministério messiânico na Galileia também foi figurado como um conflito de luz com trevas. “O povo que andava em trevas, viu uma grande luz, e sobre os que habitavam na região da sombra da morte resplandeceu a luz.” Is 9; 2 Mesmo a conversão é apresentada como uma mudança sob os mesmos signos; “Porque noutro tempo éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor; andai como filhos da luz;” Ef 5; 8

Em relação ao Salvador não podemos “Pilatear”, digo, não existe um terceiro caminho, um lavar as mãos. Estaremos com, ou, contra Ele; o demais será parte da forma, não, do teor. Se a salvação é mediante a fé, como a palavra ensina, o juízo será conforme as obras. “…os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras.” Apoc 20; 12

Todos que disseram não a Cristo preferiram a independência para cuidar de suas vidas do seu jeito mantendo seus vícios , pouco importa como isso pareceu à vista natural; ante o Espírito, escolheram as trevas. Deus, no juízo, lhes dará exatamente o fruto de suas escolhas. Porém, do lado de lá, as benesses da criação que estão ao dispor de justos e injustos não estarão mais. Assim, todos os maus anseios ainda palpitarão nas almas, como num dependente químico preso numa redoma em abstinência compulsória; será isso, uma chama deveras atormentadora, um inferno.

Como vimos sobre rico aquele, no inferno manteve a consciência e os sentimentos em relação aos seus, mas, faltavam os meios que desprezou em vida.

Mesmo o Inferno, porém, terá fim. Depois de punidos os ímpios serão extintos junto com sua “morada”. “E a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo. Esta é a segunda morte.” Apoc 20; 14