Escândalo; o trabalho das palavras ociosas
“E rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles.” Rom 16; 17
O dissenso é saudável e bem vindo; viva a diversidade de opiniões e a liberdade de expô-las! No que tange à doutrina de Cristo, porém, dissensão pode caminhar paralela ao escândalo. Acontece que não é matéria de opinião, antes, obediência. Se nós cristãos somos livres na escolha de métodos, formas de difusão da mensagem, usos e costumes, no referente ao teor, nos é vetado qualquer dissenso.
Paulo advertiu alguns discordantes ; “Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa, e que não haja entre vós dissensões; antes sejais unidos em um mesmo pensamento e em um mesmo parecer.” I Cor 1; 10
Todavia, dizer a coisa e a não praticar, desvirtua igualmente o bom testemunho, e gera escândalo. Sim, grosso modo se equaciona escândalo a grandes espetáculos que exponham a honra, moral, probidade de alguém, à execração pública. Ante O Santo, porém, escândalo é algo bem mais sutil que supõem nossos escrúpulos superficiais.
Vejamos um exemplo: “E, chegando eles a Cafarnaum, aproximaram-se de Pedro os que cobravam as dracmas, e disseram: O vosso mestre não paga as dracmas? Disse ele: Sim. E, entrando em casa, Jesus se lhe antecipou, dizendo: Que te parece, Simão? De quem cobram os reis da terra os tributos, ou o censo? Dos seus filhos, ou dos alheios? Disse-lhe Pedro: Dos alheios. Disse-lhe Jesus: Logo, estão livres os filhos. Mas, para que os não escandalizemos, vai ao mar, lança o anzol, tira o primeiro peixe que subir, e abrindo-lhe a boca, encontrarás um estáter; toma-o, e dá-o por mim e por ti.” Mat 17; 24 a 27
O tagarela Pedro sempre falando demais e colocando sua opinião onde deveria ouvir ao Senhor; quantos “Pedros” temos por aí! Mas, como era “um dos tais”, andava com Jesus, sua palavra foi cumprida ainda que tenha falado precipitadamente, pois, aos olhos de Jesus, escândalo seria prometer e não cumprir. O Salvador proveu milagrosamente os meios mandando o falastrão pescar, para fixar a lição.
Às muitas instruções que nos dispôs nos seus sermões o Mestre anexou essa: A devida seriedade com nossas palavras. “Mas eu vos digo que de toda a palavra ociosa que os homens disserem hão de dar conta no dia do juízo. Porque por tuas palavras serás justificado, e por tuas palavras serás condenado.” Mat 12; 36 e 37
Eloquente a figura usada: palavra ociosa. Ócio é desocupação, falta de trabalho; assim, as palavras verazes “trabalham” quando transportam a verdade, e vagam ociosas ainda que se jactem de grandes coisas, sendo o método o engano, e fim, o interesse.
Pedro falou o que não devia e passou a dever o que falou, para dar sentido às suas palavras. Nos domínios espirituais é mais danoso faltar com a palavra que cobrir eventuais prejuízos materiais derivados de inadvertência, precipitação... Do cidadão do céu, entre outras qualidades é alistada essa: “...aquele que jura com dano seu, contudo, não muda.” Sal 15; 4
A exortação de Paulo vai além de notarmos dissidentes e escandalosos; diz para que nos apartemos dos tais. Isso demanda dos cristãos que conheçam a íntegra da Palavra de Deus. Como saber se determinado ensino é ortodoxo ou não sem sabermos em quê cremos? Infelizmente, muita coisa que escandaliza anjos e homens esclarecidos medra dia a dia, anexando seguidores.
Afinal, o ramo protestante do cristianismo que deplora o culto às imagens, em muitos casos idolatra líderes humanos dependendo exclusivamente do quê eles dizem, por preguiça de conhecer por si, o real teor das Escrituras. E ídolos sejam de madeira, gesso, pedra, ou carne e osso, não são tão inócuos quanto parece; antes, são óbices à ação Divina em nós, e por meio de nós.
A santificação, pois, não deriva de reconhecimento de terceiros sobre nós; antes, de que conheçamos a Vontade de Deus, e nos separemos de tudo o que seja oposto a Ela.
“Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas? E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel? E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. Por isso saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; E não toqueis nada imundo, E eu vos receberei;” II Cor 6; 14 a 17