Irrigação espiritual

“Até que se derrame sobre nós o espírito lá do alto; então o deserto se tornará campo fértil, e o campo fértil será reputado por um bosque. E o juízo habitará no deserto, a justiça morará no campo fértil.” Is 32; 15 e 16

Interessante figura para realçar o Ministério do Espírito Santo; o deserto se torna fértil; onde havia fertilidade surge a excelência. Esse upgrade natural é mera figura; refere-se aos humanos, não, ao campo. Noutras palavras: Onde não havia valor algum, boa índole, caráter, era um deserto moral, passa a existir vida, fertilidade; onde já havia traços de virtude, tais são acentuados em extremo, dada a ação bendita do Espírito.

Mas, não há o risco de estar eu espiritualizando o que é literal, afinal, Israel tem feito maravilhas agrícolas em regiões antes desertas? É. Mas, faz isso usando tecnologia, irrigação; mesmo grande parte da nação não tendo reconhecido Seu Messias e sem necessidade do Espírito Santo, cujo alvo é mais excelso que produzir pão.

Paulo ensina que devemos interpretar “comparando as coisas espirituais com as espirituais…” Claramente é o caso aqui.

Então, qual seria a “clorofila” estimulante desse verde exuberante? “O juízo no deserto… a justiça no campo…” Ou seja: Por toda parte, justiça. Muitos crentes da linha pentecostal ( onde me incluo ) erram ao achar que a manifestação dos dons espirituais seja o supra sumo do Espírito; são meras ferramentas para produzir o que Ele quer. Sim há propósito na Sua ação, tal qual, num lavrador lançando sementes. Paulo após alistar dons ensina: “…a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil.” I Cor 12; 7

Em Joel temos aspectos funcionais da Santa presença; sonhos proféticos, visões, línguas… em Isaías a nuance essencial; justiça.

Entretanto, assim como há divergências entre a paz do mundo e a de Cristo, também entre a justiça humana e a Divina. Certamente é a essa que almeja o Bendito Espírito. A primeira grande injustiça foi cometida no Éden, onde o traidor mor atribuiu infâmia ao caráter Santo do Eterno. Insinuou que Ele mentiu, privou aos humanos de uma grandeza necessária. Assim a mancha inicial a ser corrigida reside aí, na concepção correta da criatura sobre o Ser do Criador.

Aliás, os anjos que celebraram o nascimento de Jesus cantaram isso: “Glória a Deus nas alturas, Paz na terra, boa vontade para com os homens.” Luc 2; 14 Glória a Deus nas alturas é justiça; Ele é digno. Paz na terra consequência de estarem Criador e criatura nos devidos lugares; justiça outra vez. Boa vontade para com os homens, graça; se aplicada a justiça cabalmente o ser humano não estaria mais com vida.

Aqui chegamos à discrepância entre a justiça Divina e a humana. Enquanto para essa justo é dar a cada um o que merece, àquela parece bem dar mesmo sem méritos, desde que o lapso moral e espiritual dê lugar ao arrependimento. Isso alcançado, ( ainda com a ajuda do Espírito ) a justiça Divina é satisfeita com os méritos de um Substituto, Jesus Cristo. Só Nele, por seus inefáveis méritos é possível um pecador se tornar “justo”. A Água da Vida rega o deserto que passa a ser fértil.

Isso entendido e vivido deve vetar qualquer nesga de jactância que pretender mérito na salvação. Nunca será a nossa justiça, da qual disse o mesmo Isaías: “Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundície;…” Is 64; 6 Antes a Graça de Cristo que faz a Sua ser nossa; “…este será o seu nome, com o qual Deus o chamará: O Senhor Justiça Nossa.” Jr 23; 6

Assim sendo, a descida do Espírito Santo, além de consolar e edificar aos salvos atenta à difusão universal da Obra de Cristo que prescinde totalmente de anexos materiais para alegrar e vitalizar aos que O recebem.

O mesmo profeta repercutindo o Feito de Jesus usou outra vez a alegoria da natureza: “Porque com alegria saireis, e em paz sereis guiados; os montes e os outeiros romperão em cântico diante de vós e todas as árvores do campo baterão palmas. Em lugar do espinheiro crescerá a faia e em lugar da sarça crescerá a murta; o que será para o Senhor por nome e por sinal eterno, que nunca se apagará.” Is 55; 12 e 13

Enfim, se por um lado Jesus denunciou como estéreis certos milagreiros que diziam Senhor, Senhor, vivendo injustamente, por outro, Daniel atribuiu aos justos uma luz celeste; “Os que forem sábios, pois, resplandecerão como o fulgor do firmamento; os que a muitos ensinam a justiça, como as estrelas sempre e eternamente.” Dn 12; 3