Os dignos indignos
“Digno és, Senhor, de receber glória, e honra, e poder; porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade são e foram criadas.E cantavam um novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro, e de abrir os seus selos; porque foste morto, e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda a tribo, e língua, e povo, e nação;” Apoc 4; 11 e 5; 9
Nos louvores tributados Ao Eterno encontramos dignidade, irmã gêmea do mérito, associada às Obras do Senhor. “Digno és porque criastes todas as coisas... foste morto e com teu sangue compraste homens...” Paulo, por sua vez, quando tenciona realçar o poder Divino, também evoca Suas obras; “...tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas,...” Rom 1; 20 Quanto à providência, idem; “Contudo, não deixou a si mesmo sem testemunho, beneficiando-vos lá do céu, dando-vos chuvas e tempos frutíferos,...” Atos 14 17
Podemos inferir que apreços humanos consideram alguém digno pelo que faz; contudo, em se tratando de Deus, o inverso também é verdadeiro; isto é: Ele faz porque é digno. Não fosse assim, não se submeteria a esse exame dos santos que atesta Sua dignidade à honra, Glória... apenas diria com um ditador: Eu mando e está acabado.
Mas, sua dignidade intrínseca “precisa” de tal testemunho. Por certo, mais para impregnar em nós, noções de dignidade, que por carecer em Si.
Aliás, por falar em nós, a Bíblia ensina que não há um justo sequer, todos pecaram; que a salvação não advém das obras; e, como vimos acima, a dignidade é testificada mediante obras; contudo, Paulo exorta que não participemos do Corpo de Cristo indignamente, como resolver isso?
Bem, no mesmo texto que veta o concurso das obras como meio de justificação, apresenta a fé. E, um exemplo de fé que recebeu alto elogio do Salvador foi de um centurião romano que reconheceu-se indigno. “...Senhor, não te incomodes, porque não sou digno de que entres debaixo do meu telhado.” “...Digo-vos que nem ainda em Israel tenho achado tanta fé.” Luc 7; 6 e 9 Claro que concorreu a confiança irrestrita que Jesus poderia curar seu servo com uma palavra apenas, à distância.
A dignidade dos salvos deriva de reconhecerem cabalmente sua indignidade e total dependência de Cristo. Bem faremos, aliás, se tomarmos como nossas as palavras que Mefibosete disse a Davi e direcionarmos ao “Filho de Davi”. “Porque toda a casa de meu pai não era senão de homens dignos de morte diante do rei meu senhor; e contudo puseste a teu servo entre os que comem à tua mesa; e que mais direito tenho eu de clamar ao rei?” II Sam 19; 28
Certamente, uma maneira digna de seguir a Cristo demandará obras semelhantes, para que possamos de modo idôneo professar Seu Santo Nome, como exorta Paulo: “...O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniqüidade.” II Tim 2; 19 E essa separação, também chamada de santificação é uma carga que, ajudado pelo Espírito Santo, todo salvo pode levar. “Porque Deus não sobrecarrega o homem mais do que é justo, para o fazer ir a juízo diante dele.” Jó 34; 23 Ou seja: Ele não requer de nós nada além do que nos é possível; isso feriria Sua Justiça e seria indigno do Altíssimo.
Então, se as obras nos são vetadas como meio de salvação, são requeridas como testemunho da dignidade de Cristo atuante em nós. “Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus.” Mat 5; 14 a 16
Assim, não resta espaço algum ao utilitarismo egoísta tão em voga, ainda que com verniz religioso. Afinal, a difusão da mensagem de Cristo sobre a Terra é chamada de Obra do Senhor, trabalho coletivo e abnegado.
Pois, apesar de indignos, Ele trabalha por nós. “Porque desde a antiguidade não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu um Deus além de ti que trabalha para aquele que nele espera.” Is 64; 4
E trabalhar por amor invés de interesse dignifica deveras, mas, a igreja professa anda meio sem noção; talvez um curso de humildade com o pródigo fizesse bem; ele disse: “Eu não sou digno de ser chamado teu filho, faz-me como teu servo...” Luc 15; 19