A Páscoa em cada um de nós.
 
Amadas irmãs, amados irmãos, que a paz do Senhor esteja com vocês!

Iniciamos o que se chama de Tríduo Pascoal, ou seja, a sequência de três dias que podem ser considerados como o ápice do cristianismo. É composto da Quinta-feira Santa, da Sexta-feira da Paixão e da Vigília Pascoal.

Muitos comemoram esse período como forma de recordar a passagem de Jesus por nosso meio humano, outros, sustentados nos aspectos teológicos da remissão dos pecados, recolhem-se em profundos agradecimentos a Deus pela oportunidade de um recomeço. Porém, há um outro aspecto, fundamental e universalmente possível de ser refletido e trabalhado, independente da tradição religiosa, que é a oportunidade do renascer.

É sobre esse renascer, é a respeito dessa Páscoa em cada um de nós que eu gostaria de refletir um pouco com vocês.

Iniciamos o período do Tríduo com a Quinta-feira Santa, quando Jesus nos apresenta, vivamente, a prática do servir e do compartilhar, para os cristãos, tais práticas estão exemplificadas no “lava pés” e na instituição da Eucaristia.

É impressionante como o exemplo deixado por Cristo Jesus, próximo de sua morte física, foi o de servir, o da humildade diante do outro, com vistas a disponibilizar-se, sempre, para ajudar o próximo. Vãs serão nossas palavras de devoção cristã, se nosso cotidiano estiver vazio de práticas compassivas e caridosas. De nada valem palavras devocionais, eloquentes orações, se não percebermos que viemos a este mundo para servir, para auxiliar, para, amorosamente, suportarmo-nos mutuamente. Suporte este, expressado por São Paulo, em sua epístola aos efésios, que representa dar suporte, sustentar com amor o outro para que ele possa seguir em sua caminhada física e espiritual.

Jesus lavou os pés, não apenas daqueles com quem estava naquele momento, mas de toda a humanidade, representada pelos apóstolos presentes. Ele lavou e ainda lava meus pés e os seus, para que possa, com seu infinito amor, limpar-nos da sujeira do ódio, da cobiça, do apego, da ganância, do rancor e de tudo aquilo que nos impede de viver próximo a Ele, que impede de deixarmos que o Espírito Santo conduza a nossa vida e faça de nós verdadeiros cristos vivos diante do próximo. Ele se dispõe para lavar nossos pés e nossa alma, basta permitirmos que o faça.

Se queremos ser seguidores de Jesus, mais do que cristãos formais, espelhemo-nos nele, na sua prática do servir. Não um serviço expiatório, na busca de conquistas, agradecimentos e recompensas, pois isso não é a verdadeira prática que Ele nos ensinou. O exemplo que tivemos foi de alguém que lavou os pés de pessoas que nada poderia dar em troca, nenhum retorno era desejado ou esperado. É, na verdade, o servir sem intenção, sem expectativa, sequer o desejo de reciprocidade ou de acúmulo de méritos, é o servir, pura e simplesmente, como prática amorosa e compassiva.

Assim começa o Tríduo Pascal, e assim se inicia o nosso caminhar para nossa própria ressurreição.

Segue-se, então, para o segundo dia: o doloroso dia da paixão e morte.

Paixão e morte sob o olhar humano, sob o limitado desejo imediatista de felicidade, de alegria e prazer. Não aceitamos a ideia de privações, de aparentes limitações e sofrimentos temporários. Partimos do falacioso princípio de que viemos a este mundo para sermos felizes, mas que felicidade é essa que tanto desejamos neste mundo? Seria não sentirmos a dor física, ou não termos perdas de pessoas amadas, ou de conseguirmos êxitos profissionais e financeiros, ou seria, ainda, portarmos o sorriso perene diante de dias ensolarados?

Minhas queridas, meus queridos, a paz e a felicidade plena vêm de dentro, não como consequência do meio em que vivemos. Elas vêm em decorrência de nossos atos para com os outros, não o contrário. Elas desabrocham com o nosso servir, com o nosso dar, com o nosso fazer, não com o que recebemos ou colhemos deste mundo.

Estamos sempre buscando a vitória, mas nos esquecemos de lutar por ela. Estamos permanentemente almejando renascer para o bem, esquecendo-nos de que o bem nasce pela morte do mal. O renascimento para existir, deve ser precedido pela morte. Buscamos o continuo nascimento e esquecemo-nos da necessária morte que dá a vida.

A Sexta-feira da Paixão, apesar de lembrar da dor e da morte de Jesus Cristo, deve ser para nós o exemplo e a reflexão de tudo que precisamos matar em nossa vida para que com Ele possamos ressuscitar. Não há ressurreição sem morte.

A morte do egoísmo, do orgulho, da ira, da cobiça, enfim de tudo que precisa desaparecer para ser possível nascer o amor, a compaixão, a humildade e a capacidade de servir despretensiosamente, de dar sem o desejo de receber algo em troca, de ajudar sem a preocupação de qualquer retorno, pois o servir, só é verdadeiramente uma ação compassiva se é feito pelo simples e puro estado de amor ao próximo.

Aprendemos a importância do servir sem intenção, percebemos que devemos morrer para as coisas que nos prende e nos limita e chegamos ao terceiro dia, em direção à Páscoa, em direção à verdadeira e plena vida.

A Páscoa, como o próprio nome diz, é uma passagem e não um estado passivo e estático, e jamais será atingida se estivermos parados. Não passamos para algum lugar ou para algum estado, qualquer que seja ele, sem que estejamos em movimento. A Páscoa é, antes de tudo, um convite à mudança de vida, à vitória sobre as limitações, à busca do verdadeiro caminho para a paz, plena e perene.

Alegremo-nos com a Páscoa do Senhor, mas não somente pela comemoração de um episódio histórico exitoso, mas sim como um exemplo a ser seguido. Exultemo-nos diante da possibilidade de morrermos com Jesus e com Ele renascermos para a paz e a real felicidade. O êxito conquistado por Cristo Jesus não foi para Ele, até porque Ele não tinha a menor necessidade dele. Ele nos entrega, a cada instante, a chance do novo renascer, de uma nova ressurreição, de eliminarmos o mal que em nós habita, para que possamos disseminar o bem que Ele nos dá. Para o amor nascer, faz-se necessário que matemos o ódio. Para que possamos “lavar os pés” de nossos irmãos, é necessário que matemos nosso orgulho e nossa prepotência.

A morte e o nascer na Páscoa, nada tem a ver com vida e morte física. Estão ligados, sim, à morte de tudo que nos impede de sermos o próprio Cristo vivo e, como Ele, agirmos com nossos irmãos. Isto sim que é renascimento, ressurreição.

Reflitamos sobre o Tríduo Pascoal, não somente sobre os fatos históricos nele celebrados, mas como reais possibilidades de mudança em nosso cotidiano.

Não nos esqueçamos de que é possível concretizar a Páscoa em cada um de nós.

Que tenhamos todos uma verdadeira Páscoa em nossa vida!    

Um fraterno e amoroso abraço em cada um de vocês!
Milton Menezes
Enviado por Milton Menezes em 17/04/2014
Reeditado em 18/04/2014
Código do texto: T4772246
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.