A SEMANA SANTA E A PÁSCOA
Publicação no início da madrugada de 14 de abril de 2014
Nota. Este texto é republicação, com acréscimos e algumas alterações.
Sejamos nós cristãos católicos, ortodoxos, protestantes, espíritas, evangélicos... Sejamos nós judeus, islâmicos, budistas, hinduístas... Sejamos nós agnósticos... Sejamos nós ateus ... curvemo-nos todos diante do Mistério, ou da possibilidade do Mistério: o Deus-homem vem ao Mundo e se dá ao Sacrifício, ao Sacro-Ofício, morre em seu corpo de carne como o nosso e ressuscita nesse mesmo corpo, para nos dar o Testemunho da Imortalidade.
Lembremo-nos do verso imortal de Fernando Pessoa: "O Mito é o nada que é tudo" e, seja qual for a nossa crença ou o descomunal da nossa descrença, coloquemo-nos todos juntos, em comunhão, neste momento de irrupção do Tempo Sagrado no interior do tempo profano. Deixemo-nos tocar, deixemo-nos impregnar. Se a nossa descrença já impregnou todas as coisas, se nos sentimos impermeáveis a toda e a qualquer Revelação, a qualquer Utopia de cunho sagrado ou humano, ainda assim suspendamos nossos juízos por um instante, para comungarmos com a Grandeza anunciada nestes dias, a da morte e a da ressurreição do homem-Deus.
Incontáveis de nós estamos morrendo nas guerras, em emboscadas nas ruas, em emboscadas dentro dos próprios lares (...); incontáveis de nós estamos morrendo em cidades e em campos devastados pela fome e pelas doenças; incontáveis de nós estamos morrendo de inanição emocional, em castelos de demasiado precárias muralhas, em apartamentos estreitos, bem como em mansardas, e também em masmorras desprovidas de tudo - os incontáveis de nós que estamos morrendo órfãos de nós mesmos, reféns da indescritível solidão de não mais nos reconhecermos nos pensamentos e nos atos de cada dia; quantos, que imensidão de nós a nos sentirmos anestesiados para o amor e para o Amor. Há infinitos modos de se morrer, de se matar e de matar e a nossa morada, a Terra, está infestada por eles. Claro, há também os plenos de Si e dos Mais, para a bênção da Terra e de seu destino. Também os há, esses, os guardiões, por múltiplos caminhos, os guardiões da Preservação física, ético-moral e da Evolução Espiritual da nossa Espécie. Também os há. Para gáudio da Terra e de seus habitantes, ainda que muitíssimos de nós outros não o saibamos nem o possamos compreender.
Por um instante que seja, sintamo-nos Um Só, unidos pela miséria, pela riqueza, pelas contradições da nossa condição de seres humanos que seguem, que seguimos carregando a certeza, a nostalgia, os sentimentos de perda, mesmo a inexistência de percepção do Deus dentro, ao redor e além de toda a nossa infinita pequenez. Sintamo-nos Um, com toda a nossa Esperança tornada ato, nossa Esperança impossível de ser extirpada, semente bendita para sempre, semente sempre-viva replantada, desde todo o Sempre, apesar da legião de mortos e de semivivos no mundo, apesar dos crimes hediondos e das injustiças de toda espécie, que vêm se perpetuando ao longo dos milênios. Sintamo-nos Um Só, ainda que por um único segundo.