O filho pródigo, o pai e o irmão fiel – como nos vemos em nosso cotidiano?
Caríssimas amigas, caríssimos amigos, que a paz de Deus esteja com vocês!
Ontem ao refletir e meditar sobre a passagem bíblica que relata o episódio da volta do filho pródigo, veio-me a mente o quanto ela acontece em nosso cotidiano, em todos os sentidos, ou seja, enquanto o pai que recebe o filho, enquanto o próprio filho pródigo e na condição do irmão que se viu injustiçado.
Convido-os a acompanhar-me nessa reflexão, buscando em nossa vida a sua aplicação cotidiana. Para tanto, com vistas a facilitar nossa reflexão, trago a passagem para nossa leitura.
Disse também: Um homem tinha dois filhos. O mais jovem disse a seu pai: “Pai, dá-me a parte da herança que me cabe”. E o pai dividiu os bens entre eles. Poucos dias depois, ajuntando tudo os seus haveres, o filho mais jovem partiu para uma região longínqua e ali dissipou sua herança numa vida devassa. E gastou tudo. Sobreveio àquela região uma grande e ele começou a passar privações. Foi, então, empregar-se com um dos homens daquela região, que o mandou para seus campos cuidar dos porcos. Ele queria matar a fome com as bolotas que os porcos comiam, mas ninguém lhes dava. E caindo em si, disse: “Quantos empregados de meu pai têm pão com fartura e eu aqui morrendo de fome! Vou-me embora, procurar meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me como um dos teus empregados. Partiu, então, e foi ao encontro de seu pai. Ele estava ainda ao longe, quando seu pai viu-o, encheu-se de compaixão, correu e lançou-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos. O filho, então, disse-lhe: “Pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho”, mas o pai disse aos seus servos: Ide depressa, Trazei a melhor túnica e revesti-o com ela, e ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei o novilho cevado e matai-o; comamos e festejemos, pois este meu filho estava morto e retornou a viver; estava perdido e foi reencontrado! E começaram a festejar. Seu filho mais velho estava no campo. Quando voltava, já perto de casa, ouviu músicas e danças. Chamando um servo, perguntou-lhe o que estava acontecendo. Este lhe disse: “ É teu irmão que voltou e teu pai matou o novilho cevado, porque o recuperou com saúde”. Então ele ficou com muita raiva e não queria entrar. Seu pai saiu para suplicar-lhe. Ele, porém, respondeu a seu pai: “Há tantos anos que te sirvo, e jamais transgredi um só dos teus mandamentos, e nunca me deste um cabrito para festejar com os meus amigos. Contudo, veio este teu filho, que devorou teus bens com prostitutas, e para ele matas o novilho cevado!” Mas o pai lhe disse: “Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. Mas era preciso que festejássemos e nos alegrássemos, pois esse teu irmão estava morto e tornou a viver; ele estava perdido e foi reencontrado”. (Lc 15: 11-32)
Em muitas vezes na nossa vida, vemo-nos na condição do irmão do filho pródigo, como filhos fieis, injustiçados, quase que esquecidos por tudo que fazemos, enforcando-nos na prática do bem e das boas opções, frequentamos nossos cultos, nossas missas, oramos com frequência e, paralelamente, outros que agem tão diferentemente, são muito mais bem aquinhoados pelo “destino”, recebem bônus de suas ações que, ao nosso ver, são desproporcionais e, segundo nosso juízo, desmedidos e descabidas.
Por nos vermos fieis, avaliamos e julgamos o próximo sem o menor constrangimento, sem o menor cuidado, entramos na seara alheia sem a menor cerimônia, como se fossemos capazes de, ampla e profundamente, analisar os fatos, as razões e tudo o que moveu aquela pessoa a fazer o que está fazendo, a dizer o que está dizendo, a reagir da forma que está reagindo. Somo ávidos em olhar, avaliar, julgar e condenar, destinando um tempo enorme ao julgamento do próximo que deveria ser direcionado aos nossos atos, à nossa prática, à nossa vida. E assim julgamos o filho pródigo, desconhecendo a razão da sua partida, do seu afastamento, dos seus atos e do que se passa no seu coração e na sua mente. Somos juízes e carrascos com perfeição, faltando-nos, frequentemente, olhares compassivos e compreensivos para com o outro, ao menos condescendentes.
Chegamos a nos sentir “roubados” e iludidos pelo Altíssimo, pois O questionamos e, igualmente, O criticamos, mesmo sem nos dirigirmos diretamente a Ele, pois, somente pelo fato de questionarmos o outro, suas ações e o que, por conta delas, eles são merecedores, indiretamente o fazemos ao Todo Poderoso. Igualmente ao irmão do filho pródigo, questionamos, direta ou indiretamente, o Pai Eterno, somente pelo fato de nos sentirmos injustiçados ou por intermédio de nosso julgamento, de nossas críticas, de nossos preconceitos, enfim, de nossa atitude pouco ou nada compassiva para com o próximo.
Estejamos certos de que nos comunicamos com o Divino, independente do direcionamento de nossa fala ou mesmo de nossos pensamentos e sentimentos, pois tudo que fizermos, inclusive o julgamento e a falta de compaixão para com nossos irmãos, igualmente estamos fazendo para com o Criador, não por Ele possuir sentimentos humanos de tristeza, revolta, rancor ou a sensação de estar sendo injustiçado, mas porque Ele está presente, vivo e eternamente, em cada um de nós, inclusive naqueles que julgamos, criticamos e condenamos.
Somos aparentemente fieis ao Pai no trabalho, mas verdadeiramente infiéis a Ele na nossa relação para com o próximo.
Além do papel do irmão fiel, que tão frequentemente exercemos, vemo-nos, tão ou mais vezes, na condição do próprio filho pródigo.
Quantas vezes queremos o que acreditamos ser nosso, de nosso direito, para que possamos seguir em frente, de acordo com o que acreditamos ser melhor, de acordo com nossa avaliação egoísta e egóica, segundo nossos interesses pessoais, ludibriados pelos encantos do mundo, envolvidos por condutas hipócritas de uma sociedade que busca o prazer individual, de enaltece o aparente poderoso, de joga holofotes sobre os que subjugam, comandam, conquistam pelo poder da força, uma sociedade discriminadora, que sorri para os belos e fortes e esquecem os fracos e oprimidos, que ajudam os conquistadores, pois são alvo de inveja coletiva e apartam os necessitados. Essa é a nossa busca, esse é o nosso mundo, é para esse lugar que tanto buscamos seguir com o que lutamos para conseguir e conquistar, pois acreditamos que é nosso, só nosso.
Muitos, para expiação de suas falhas e para amenizar o remorso de seus atos, quando existe, dão esmolas, ajudam alguns necessitados que a eles se aproximam, disponibilizando migalhas de suas posses.
Lembrei-me da passagem bíblica da oferta da viúva, ínfima comparada a do homem de posses, mas, de fato, tinha um valor muito maior, pois ela não estava dando as sobras do que tinha, mas parte do que, certamente, lhe faria falta, é a divisão do pouco que tem com aqueles que têm menos ainda. O quanto não somos pródigos e agimos igualmente àquele que condenamos?
Utilizar todos os recursos com os prazeres ilusórios enquanto milhões de irmãos não possuem o básico para viverem não seria a mesma atitude do filho pródigo, a quem tanto criticamos e condenamos, até porque, como já vimos, nisso nós somos ávidos e eficientes.
Mas também tem a figura do pai, que não amarrou o filho que lhe comunicou a saída, que respeitou a vontade e a decisão daquele que buscou os seus caminhos próprios, mesmo que, claramente, se via que era uma rota de fracasso, de destruição pessoal. Apesar disso, o pai o respeito e, com certeza, o entregou nas mãos do Senhor, pois essa é a verdadeira atitude de alguém com fé.
Após o abandono, o pai continuou a vida, a luta diária, a participar da construção do mundo de Deus, até o dia que viu o retorno do filho que o havia abandonado, a volta do filho pródigo.
O pai o criticou, o agrediu, deu lições de moral ou apontou a grande falha que o filho havia cometido, partiu para julgá-lo e condená-lo? Não!! Apenas o amparou, o recebeu amorosamente, independentemente do que havia feito. Nem uma palavra áspera, nem uma lembrança do mal feito, sequer uma mínima reprimenda, nada, somente o abraço, a acolhida compassiva e plena de amor.
Não se preocupou com a justiça dos homens, com a diferente postura dos irmãos, com o que ele merecia ou não, ao ser comparado com o filho que, até então, tinha sido fiel ao pai. Somente demonstrou a plena felicidade com o retorno daquele que havia se perdido, que havia partido para a infelicidade e que, naquele momento, renascera.
Quantas vezes, queridas irmãs e queridos irmãos, vemo-nos na figura desses três personagens em nossa vida?
Reflitamos a respeito e busquemos em nosso cotidiano, mais do a justiça, o amor e a paz, mais do que o merecimento, a compaixão e o perdão.
Que todas e todos fiquem em paz!
Ontem ao refletir e meditar sobre a passagem bíblica que relata o episódio da volta do filho pródigo, veio-me a mente o quanto ela acontece em nosso cotidiano, em todos os sentidos, ou seja, enquanto o pai que recebe o filho, enquanto o próprio filho pródigo e na condição do irmão que se viu injustiçado.
Convido-os a acompanhar-me nessa reflexão, buscando em nossa vida a sua aplicação cotidiana. Para tanto, com vistas a facilitar nossa reflexão, trago a passagem para nossa leitura.
Disse também: Um homem tinha dois filhos. O mais jovem disse a seu pai: “Pai, dá-me a parte da herança que me cabe”. E o pai dividiu os bens entre eles. Poucos dias depois, ajuntando tudo os seus haveres, o filho mais jovem partiu para uma região longínqua e ali dissipou sua herança numa vida devassa. E gastou tudo. Sobreveio àquela região uma grande e ele começou a passar privações. Foi, então, empregar-se com um dos homens daquela região, que o mandou para seus campos cuidar dos porcos. Ele queria matar a fome com as bolotas que os porcos comiam, mas ninguém lhes dava. E caindo em si, disse: “Quantos empregados de meu pai têm pão com fartura e eu aqui morrendo de fome! Vou-me embora, procurar meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me como um dos teus empregados. Partiu, então, e foi ao encontro de seu pai. Ele estava ainda ao longe, quando seu pai viu-o, encheu-se de compaixão, correu e lançou-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos. O filho, então, disse-lhe: “Pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho”, mas o pai disse aos seus servos: Ide depressa, Trazei a melhor túnica e revesti-o com ela, e ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei o novilho cevado e matai-o; comamos e festejemos, pois este meu filho estava morto e retornou a viver; estava perdido e foi reencontrado! E começaram a festejar. Seu filho mais velho estava no campo. Quando voltava, já perto de casa, ouviu músicas e danças. Chamando um servo, perguntou-lhe o que estava acontecendo. Este lhe disse: “ É teu irmão que voltou e teu pai matou o novilho cevado, porque o recuperou com saúde”. Então ele ficou com muita raiva e não queria entrar. Seu pai saiu para suplicar-lhe. Ele, porém, respondeu a seu pai: “Há tantos anos que te sirvo, e jamais transgredi um só dos teus mandamentos, e nunca me deste um cabrito para festejar com os meus amigos. Contudo, veio este teu filho, que devorou teus bens com prostitutas, e para ele matas o novilho cevado!” Mas o pai lhe disse: “Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. Mas era preciso que festejássemos e nos alegrássemos, pois esse teu irmão estava morto e tornou a viver; ele estava perdido e foi reencontrado”. (Lc 15: 11-32)
Em muitas vezes na nossa vida, vemo-nos na condição do irmão do filho pródigo, como filhos fieis, injustiçados, quase que esquecidos por tudo que fazemos, enforcando-nos na prática do bem e das boas opções, frequentamos nossos cultos, nossas missas, oramos com frequência e, paralelamente, outros que agem tão diferentemente, são muito mais bem aquinhoados pelo “destino”, recebem bônus de suas ações que, ao nosso ver, são desproporcionais e, segundo nosso juízo, desmedidos e descabidas.
Por nos vermos fieis, avaliamos e julgamos o próximo sem o menor constrangimento, sem o menor cuidado, entramos na seara alheia sem a menor cerimônia, como se fossemos capazes de, ampla e profundamente, analisar os fatos, as razões e tudo o que moveu aquela pessoa a fazer o que está fazendo, a dizer o que está dizendo, a reagir da forma que está reagindo. Somo ávidos em olhar, avaliar, julgar e condenar, destinando um tempo enorme ao julgamento do próximo que deveria ser direcionado aos nossos atos, à nossa prática, à nossa vida. E assim julgamos o filho pródigo, desconhecendo a razão da sua partida, do seu afastamento, dos seus atos e do que se passa no seu coração e na sua mente. Somos juízes e carrascos com perfeição, faltando-nos, frequentemente, olhares compassivos e compreensivos para com o outro, ao menos condescendentes.
Chegamos a nos sentir “roubados” e iludidos pelo Altíssimo, pois O questionamos e, igualmente, O criticamos, mesmo sem nos dirigirmos diretamente a Ele, pois, somente pelo fato de questionarmos o outro, suas ações e o que, por conta delas, eles são merecedores, indiretamente o fazemos ao Todo Poderoso. Igualmente ao irmão do filho pródigo, questionamos, direta ou indiretamente, o Pai Eterno, somente pelo fato de nos sentirmos injustiçados ou por intermédio de nosso julgamento, de nossas críticas, de nossos preconceitos, enfim, de nossa atitude pouco ou nada compassiva para com o próximo.
Estejamos certos de que nos comunicamos com o Divino, independente do direcionamento de nossa fala ou mesmo de nossos pensamentos e sentimentos, pois tudo que fizermos, inclusive o julgamento e a falta de compaixão para com nossos irmãos, igualmente estamos fazendo para com o Criador, não por Ele possuir sentimentos humanos de tristeza, revolta, rancor ou a sensação de estar sendo injustiçado, mas porque Ele está presente, vivo e eternamente, em cada um de nós, inclusive naqueles que julgamos, criticamos e condenamos.
Somos aparentemente fieis ao Pai no trabalho, mas verdadeiramente infiéis a Ele na nossa relação para com o próximo.
Além do papel do irmão fiel, que tão frequentemente exercemos, vemo-nos, tão ou mais vezes, na condição do próprio filho pródigo.
Quantas vezes queremos o que acreditamos ser nosso, de nosso direito, para que possamos seguir em frente, de acordo com o que acreditamos ser melhor, de acordo com nossa avaliação egoísta e egóica, segundo nossos interesses pessoais, ludibriados pelos encantos do mundo, envolvidos por condutas hipócritas de uma sociedade que busca o prazer individual, de enaltece o aparente poderoso, de joga holofotes sobre os que subjugam, comandam, conquistam pelo poder da força, uma sociedade discriminadora, que sorri para os belos e fortes e esquecem os fracos e oprimidos, que ajudam os conquistadores, pois são alvo de inveja coletiva e apartam os necessitados. Essa é a nossa busca, esse é o nosso mundo, é para esse lugar que tanto buscamos seguir com o que lutamos para conseguir e conquistar, pois acreditamos que é nosso, só nosso.
Muitos, para expiação de suas falhas e para amenizar o remorso de seus atos, quando existe, dão esmolas, ajudam alguns necessitados que a eles se aproximam, disponibilizando migalhas de suas posses.
Lembrei-me da passagem bíblica da oferta da viúva, ínfima comparada a do homem de posses, mas, de fato, tinha um valor muito maior, pois ela não estava dando as sobras do que tinha, mas parte do que, certamente, lhe faria falta, é a divisão do pouco que tem com aqueles que têm menos ainda. O quanto não somos pródigos e agimos igualmente àquele que condenamos?
Utilizar todos os recursos com os prazeres ilusórios enquanto milhões de irmãos não possuem o básico para viverem não seria a mesma atitude do filho pródigo, a quem tanto criticamos e condenamos, até porque, como já vimos, nisso nós somos ávidos e eficientes.
Mas também tem a figura do pai, que não amarrou o filho que lhe comunicou a saída, que respeitou a vontade e a decisão daquele que buscou os seus caminhos próprios, mesmo que, claramente, se via que era uma rota de fracasso, de destruição pessoal. Apesar disso, o pai o respeito e, com certeza, o entregou nas mãos do Senhor, pois essa é a verdadeira atitude de alguém com fé.
Após o abandono, o pai continuou a vida, a luta diária, a participar da construção do mundo de Deus, até o dia que viu o retorno do filho que o havia abandonado, a volta do filho pródigo.
O pai o criticou, o agrediu, deu lições de moral ou apontou a grande falha que o filho havia cometido, partiu para julgá-lo e condená-lo? Não!! Apenas o amparou, o recebeu amorosamente, independentemente do que havia feito. Nem uma palavra áspera, nem uma lembrança do mal feito, sequer uma mínima reprimenda, nada, somente o abraço, a acolhida compassiva e plena de amor.
Não se preocupou com a justiça dos homens, com a diferente postura dos irmãos, com o que ele merecia ou não, ao ser comparado com o filho que, até então, tinha sido fiel ao pai. Somente demonstrou a plena felicidade com o retorno daquele que havia se perdido, que havia partido para a infelicidade e que, naquele momento, renascera.
Quantas vezes, queridas irmãs e queridos irmãos, vemo-nos na figura desses três personagens em nossa vida?
Reflitamos a respeito e busquemos em nosso cotidiano, mais do a justiça, o amor e a paz, mais do que o merecimento, a compaixão e o perdão.
Que todas e todos fiquem em paz!