Que esperança!
“Tendo, pois, tal esperança, usamos de muita ousadia no falar.” II Cor 3; 12
Paulo não alude à esperança em si, mas, a uma particular que, segundo ele, tornava ousado seu discurso. No contexto vemos que ele está cotejando situações do Antigo Testamento, a era da Lei, o “ministério da condenação”, e o Novo, o Ministério do Espírito. Se, as Tábuas da Lei, que não visavam salvar, mas, mostrar a necessidade de salvação, já vieram num invólucro de glória que fazia o rosto de Moisés resplandecer, quão mais excelente seria o ministério do Espírito, argumentou.
E era essa excelência superior que emprestava audácia à sua fala. A transição do Velho para o Novo Testamento é um “upgrade” na revelação, que muitos credos legalistas veem como se fosse uma doutrina rival. Claro que o Novo traz o doloroso espetáculo do Calvário que melindra à filosofia de uns, e a pretensa honra de outros, como disse o mesmo Paulo. “nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos. Mas, para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus.” I Cor 1; 23 e 24
A epístola aos Hebreus coloca a transição como necessária, e superior. “Porque, mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também mudança da lei.” “De tanto melhor aliança Jesus foi feito fiador.” “…porque permanece eternamente, tem um sacerdócio perpétuo.” Heb 7; 12, 22 e 24
Acontece que a ideia de superioridade espiritual, geralmente é deturpada pela errônea régua humana. Jesus asseverou que os seus seguidores fariam obras maiores que as Dele, presto pensamos em enormes milagres, não em lavar os pés a mais pessoas que O Mestre. Assim, se o Rosto de Moisés resplandecera após o encontro Com Deus, nossos, uma vez que habitados pelo Espírito Santo deveriam ofuscar a vista alheia, como na transfiguração.
Entretanto, Paulo propôs algo diverso; “Ora, o Senhor é Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade. Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor.” II Cor 3; 17 e 18 Liberdade espiritual e regeneração da Imagem perdida, coisa que a Lei não podia nem tencionava fazer.
Assim, aos que aquiescem à Doutrina de Cristo se lhes faculta ousadia; aos que sentem-se atingidos em seus melindres acaba dando origem a contradições, oposição.
Claro que uma esperança dessa estirpe traz algo mais que ousadia; compromisso. “Porque Deus não é injusto para se esquecer da vossa obra, e do trabalho do amor que para com o seu nome mostrastes, enquanto servistes aos santos; e ainda servis. Mas desejamos que cada um de vós mostre o mesmo cuidado até ao fim, para completa certeza da esperança;” Heb 6; 10 e 11 Vemos que o autor coloca em relevo como crédito no banco celeste o “serviço aos santos”, não milagres. Contudo, adverte que é necessário perseverar, para que a esperança vire certeza.
Na verdade é fácil a ousadia em climas de euforia, do agito das massas; porém, a têmpera de nossa fé é fixada nos dias de provação, adversidade. Isso se dava na comunidade cristã hebraica, e muitos estavam deixando a fé, ao peso das lutas inerentes à Cruz de Cristo. Daí, a exortação: “Mas o justo viverá da fé; E, se ele recuar, a minha alma não tem prazer nele. Nós, porém, não somos daqueles que se retiram para a perdição, mas daqueles que creem para a conservação da alma” Heb 10; 38 e 39
Em suma, se acostumamos equacionar grandeza com Poder, Deus, detentor de todo o poder, anseia vê-la onde falta, santidade. Se aos nossos olhos soa belo ser forte, aos Divinos, ser santo. “Dai ao Senhor a glória devida ao seu nome, adorai o Senhor na beleza da santidade.” Sal 29; 2
Assim como um pai humano se alegra ao encontrar seus traços no filho, também ocorre com Deus. Anseia, pois, que sejamos santos como Ele É. Daí labora para fazer em nós, luzir o brilho de Cristo, que, em última análise, é o Dele. “…sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa…” Heb 1; 3
Quem se separa do modo ímpio de vida do mundo, entende as razões de Deus; assim, se a esperança nos faz ousados ante a oposição, nos faz mansos ante os que a querem possuir também. “… santificai ao Senhor Deus em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós,” I Ped 3; 15