A Quaresma de todos
Convido todas e todos vocês a refletirem comigo sobre a quaresma, período de preparação para páscoa.
Não uma quaresma ou páscoa temporais, muito menos restritas à tradição cristã, pois, tanto a quaresma, como a páscoa, são eventos que merecem ser refletidos e vivenciados por todos os seres, independente de sua tradição religiosa.
Parafraseando o grande teólogo pluralista John Rick, “Jesus evidentemente se preocupava mais com a vida dos homens e mulheres do que com qualquer conjunto de proposições teológicas que pudessem ter em suas cabeças”.
Se formos analisar a parábola das ovelhas e dos cabritos (Mt 25:31-46), apontada como o grade julgamento final, são-nos apontadas as ações de alimentar os famintos, dar água aos sedentos, acolher os estrangeiros, vestir os desnudos, visitar os doentes e prisioneiros. Destacadamente, Jesus afirma que tais práticas não são imaginárias ou hipotéticas, mas sim ações direcionadas aos mais pequeninos de seus irmãos, ou seja, aos nossos irmãos, e que elas, quando feitas, seriam como se estivessem sendo dirigidas ao próprio Altíssimo.
Dessa forma, assim como o alvo de nossas ações deve ser indiscriminado e universal, independente de qualquer individualidade ou característica pessoal, tais com sexo, cor, etnia, cultura, nacionalidade ou credo, igualmente será, e o é, o “julgamento” de nossos atos, também, independente de qualquer característica que nos individualize.
Lembro-me de um sermão de um pastor evangélico estadunidense ao dizer que o importante não era sermos cristãos, pois ser cristão não caracteriza a atitude ou a prática de vida de ninguém. Porém, o fundamental é sermos discípulos de Jesus, cristãos ou não. Discípulos é ação, ser cristão é rótulo. É como se pegássemos um determinado remédio e o colocássemos em dois vidros diferentes. Apesar do rótulo, o remédio não deixaria de ter sua fórmula e suas propriedades originais, ele continuaria sendo utilizado com a mesma finalidade e seriam esperados os efeitos para os quais ele foi produzido, independente do frasco onde está armazenado.
Por acaso, as cápsulas são mais eficazes do que os xaropes? Os comprimidos azuis produzem efeitos mais fortes do que os de cor alaranjada?
Devemos reconhecer nossas ações como verdadeiros tratamentos, agem contra os males da arrogância, da usura, da ira, da inveja, da vaidade e de todos os demais males que causam as doenças da alma. Porém, para que nossos atos sejam medicamentos eficazes, precisamos, não de rótulos, mas de ações efetivas, faz-se necessário deixar que o nosso limitado ser, contido na frágil casca humana, deixe-se conduzir pelo Santo Espírito que em nós habita, para que Ele possa direcionar nossos passos, nossa caminhada e nossas atitudes.
O próprio Cristo Jesus disse-nos: “Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas os que estão doentes. Não foram os justos que Eu vim chamar ao arrependimento, mas os pecadores.” (Lc 27:31-32) Dessa feita, assim como Ele, respondeu tal afirmativa quando questionado porque estava cercado de cobradores de impostos e de outras pessoas mal vistas pelos homens da Lei, devemos responder, também, com a importância que damos às ações e não aos rótulos, pois elas é que têm, de fato, efeito medicamentoso.
Pelo exposto, ao falarmos da preparação na quaresma, não estamos falando de rótulos cristãos, mas sim de práticas pertinentes aos discípulos de Jesus, cristãos ou não, pois um discípulo é um seguidor de outro em suas ideias, atitudes, posições ideológicas e determinações existenciais. Pode-se dizer que um discípulo não busca ser chamado qualquer nome ou titulação, ele almeja, sim, agir da forma com que o “seu mestre” assim orientar e der o exemplo, rotulando ou não tal prática.
Dessa forma, poderemos ser discípulos de Cristo Jesus sem sermos cristãos? Claro! Se agirmos como Ele agia, se vivermos como Ele indicava, se praticarmos o que Ele ensinava. O que mudará, para melhor ou pior, se tivermos o rótulo ou não de cristãos? O que diferenciará nossas atitudes, se passarmos o dia inteiro gritando – Jesus! Jesus! – caso elas não forem condizentes com os seus ensinamentos e seus exemplos?
É por isso que, novamente, clamo a todas e todos a refletirem comigo sobre o período da quaresma.
A quaresma é um período de preparação. Quarenta dias que, na quantidade de dias tem a representação bíblica simbológica de conclusão ou realização. Quarenta é um tradicional número hebraico e pode ser encontrado 146 vezes nos dois testamentos. Desde os quarenta dias e quarenta noites do dilúvio de Noé, os quarenta anos de peregrinação do povo de Israel no deserto até chegarem a terra prometida, os quarenta dias pelos quais passou Moisés no Monte Sinais para receber a Lei de Deus, até o jejum de Jesus que durou quarenta dias, passando por tentações, antes de iniciar sua vida pública, e após sua ressurreição, passou mais quarenta dias com seus apóstolos, completando seus ensinamentos. Esses e outros exemplos destacáveis podem ser encontrados no primeiro e segundo testamentos.
É obvio que, a quaresma, não se caracteriza como o único período em que devemos nos preparar, nos aperfeiçoar, nos fortalecer, para enfrentarmos os desafios de nosso cotidiano neste mundo. Vivermos como discípulos de Jesus, cristãos ou não, significa preparação permanente e enfrentamento das dificuldades cotidianas, das ilusões constantes neste mundo, com vistas ao nosso desenvolvimento espiritual.
Assim como existe um dia em que celebramos o natal como nascimento de Jesus, um dia em que refletimos mais intensamente sobre a sua morte, há, também, um período específico – a quaresma – que se configura como a época destinada à preparação e à reflexão para páscoa.
A preparação para páscoa não representa, somente, uma preparação para um dia, para um evento. Não é apenas a recordação de um dia temporalmente identificado e marcado na história da humanidade. A preparação para páscoa é a preparação para o nosso renascimento, para o ressurgir do novo ser, após a morte do velho ser. É a nossa renovação, a morte para os erros e falhas humanas e a ressurreição de nosso ser para a plenitude divina, expressada pelas nossas ações como discípulos de Jesus, cristãos ou não.
Renovemo-nos na quaresma, para renascermos na páscoa como seres novos e capazes de fazermos a diferença neste mundo, para a melhoria de seus relacionamentos, gerando mais compaixão, fraternidade e amor ao próximo. É por isso que a quaresma e a páscoa são apenas exemplos temporais, nos quais refletimos mais intensamente sobre a nossa preparação e a nossa tão desejada transformação, são momentos de exemplificação de atitudes que devemos nutrir e concretizar por toda nossa vida.
Um fraterno abraço a todas e todos vocês e que a paz de Deus inunde a sua vida!
Não uma quaresma ou páscoa temporais, muito menos restritas à tradição cristã, pois, tanto a quaresma, como a páscoa, são eventos que merecem ser refletidos e vivenciados por todos os seres, independente de sua tradição religiosa.
Parafraseando o grande teólogo pluralista John Rick, “Jesus evidentemente se preocupava mais com a vida dos homens e mulheres do que com qualquer conjunto de proposições teológicas que pudessem ter em suas cabeças”.
Se formos analisar a parábola das ovelhas e dos cabritos (Mt 25:31-46), apontada como o grade julgamento final, são-nos apontadas as ações de alimentar os famintos, dar água aos sedentos, acolher os estrangeiros, vestir os desnudos, visitar os doentes e prisioneiros. Destacadamente, Jesus afirma que tais práticas não são imaginárias ou hipotéticas, mas sim ações direcionadas aos mais pequeninos de seus irmãos, ou seja, aos nossos irmãos, e que elas, quando feitas, seriam como se estivessem sendo dirigidas ao próprio Altíssimo.
Dessa forma, assim como o alvo de nossas ações deve ser indiscriminado e universal, independente de qualquer individualidade ou característica pessoal, tais com sexo, cor, etnia, cultura, nacionalidade ou credo, igualmente será, e o é, o “julgamento” de nossos atos, também, independente de qualquer característica que nos individualize.
Lembro-me de um sermão de um pastor evangélico estadunidense ao dizer que o importante não era sermos cristãos, pois ser cristão não caracteriza a atitude ou a prática de vida de ninguém. Porém, o fundamental é sermos discípulos de Jesus, cristãos ou não. Discípulos é ação, ser cristão é rótulo. É como se pegássemos um determinado remédio e o colocássemos em dois vidros diferentes. Apesar do rótulo, o remédio não deixaria de ter sua fórmula e suas propriedades originais, ele continuaria sendo utilizado com a mesma finalidade e seriam esperados os efeitos para os quais ele foi produzido, independente do frasco onde está armazenado.
Por acaso, as cápsulas são mais eficazes do que os xaropes? Os comprimidos azuis produzem efeitos mais fortes do que os de cor alaranjada?
Devemos reconhecer nossas ações como verdadeiros tratamentos, agem contra os males da arrogância, da usura, da ira, da inveja, da vaidade e de todos os demais males que causam as doenças da alma. Porém, para que nossos atos sejam medicamentos eficazes, precisamos, não de rótulos, mas de ações efetivas, faz-se necessário deixar que o nosso limitado ser, contido na frágil casca humana, deixe-se conduzir pelo Santo Espírito que em nós habita, para que Ele possa direcionar nossos passos, nossa caminhada e nossas atitudes.
O próprio Cristo Jesus disse-nos: “Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas os que estão doentes. Não foram os justos que Eu vim chamar ao arrependimento, mas os pecadores.” (Lc 27:31-32) Dessa feita, assim como Ele, respondeu tal afirmativa quando questionado porque estava cercado de cobradores de impostos e de outras pessoas mal vistas pelos homens da Lei, devemos responder, também, com a importância que damos às ações e não aos rótulos, pois elas é que têm, de fato, efeito medicamentoso.
Pelo exposto, ao falarmos da preparação na quaresma, não estamos falando de rótulos cristãos, mas sim de práticas pertinentes aos discípulos de Jesus, cristãos ou não, pois um discípulo é um seguidor de outro em suas ideias, atitudes, posições ideológicas e determinações existenciais. Pode-se dizer que um discípulo não busca ser chamado qualquer nome ou titulação, ele almeja, sim, agir da forma com que o “seu mestre” assim orientar e der o exemplo, rotulando ou não tal prática.
Dessa forma, poderemos ser discípulos de Cristo Jesus sem sermos cristãos? Claro! Se agirmos como Ele agia, se vivermos como Ele indicava, se praticarmos o que Ele ensinava. O que mudará, para melhor ou pior, se tivermos o rótulo ou não de cristãos? O que diferenciará nossas atitudes, se passarmos o dia inteiro gritando – Jesus! Jesus! – caso elas não forem condizentes com os seus ensinamentos e seus exemplos?
É por isso que, novamente, clamo a todas e todos a refletirem comigo sobre o período da quaresma.
A quaresma é um período de preparação. Quarenta dias que, na quantidade de dias tem a representação bíblica simbológica de conclusão ou realização. Quarenta é um tradicional número hebraico e pode ser encontrado 146 vezes nos dois testamentos. Desde os quarenta dias e quarenta noites do dilúvio de Noé, os quarenta anos de peregrinação do povo de Israel no deserto até chegarem a terra prometida, os quarenta dias pelos quais passou Moisés no Monte Sinais para receber a Lei de Deus, até o jejum de Jesus que durou quarenta dias, passando por tentações, antes de iniciar sua vida pública, e após sua ressurreição, passou mais quarenta dias com seus apóstolos, completando seus ensinamentos. Esses e outros exemplos destacáveis podem ser encontrados no primeiro e segundo testamentos.
É obvio que, a quaresma, não se caracteriza como o único período em que devemos nos preparar, nos aperfeiçoar, nos fortalecer, para enfrentarmos os desafios de nosso cotidiano neste mundo. Vivermos como discípulos de Jesus, cristãos ou não, significa preparação permanente e enfrentamento das dificuldades cotidianas, das ilusões constantes neste mundo, com vistas ao nosso desenvolvimento espiritual.
Assim como existe um dia em que celebramos o natal como nascimento de Jesus, um dia em que refletimos mais intensamente sobre a sua morte, há, também, um período específico – a quaresma – que se configura como a época destinada à preparação e à reflexão para páscoa.
A preparação para páscoa não representa, somente, uma preparação para um dia, para um evento. Não é apenas a recordação de um dia temporalmente identificado e marcado na história da humanidade. A preparação para páscoa é a preparação para o nosso renascimento, para o ressurgir do novo ser, após a morte do velho ser. É a nossa renovação, a morte para os erros e falhas humanas e a ressurreição de nosso ser para a plenitude divina, expressada pelas nossas ações como discípulos de Jesus, cristãos ou não.
Renovemo-nos na quaresma, para renascermos na páscoa como seres novos e capazes de fazermos a diferença neste mundo, para a melhoria de seus relacionamentos, gerando mais compaixão, fraternidade e amor ao próximo. É por isso que a quaresma e a páscoa são apenas exemplos temporais, nos quais refletimos mais intensamente sobre a nossa preparação e a nossa tão desejada transformação, são momentos de exemplificação de atitudes que devemos nutrir e concretizar por toda nossa vida.
Um fraterno abraço a todas e todos vocês e que a paz de Deus inunde a sua vida!