"Conversão" à flor da pele
“E aquele que ouve estas minhas palavras, e não as cumpre, compará-lo-ei ao homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia; e desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e caiu, e foi grande a sua queda.” Mat 7; 26 e 27
A diferença entre sensatez e insensatez na passagem dos dois fundamentos se verifica num aspecto apenas; as palavras dadas a ambos eram as mesmas; um ouviria e cumpriria; outro apenas iria ouvir. Assim, um era profundo, outro, superficial.
A superficialidade daquele que “aceita” a doutrina do Santo é um aspecto interessante da personalidade doentia. Se não estamos a fim de um relacionamento com Deus basta ignorá-lO. Agora, se dispor a ouvir sem obedecer é intrigante. O diagnóstico necessário disso é que, a mente está convencida de algo, contudo, a vontade reluta em abraçar de modo cabal. Daí, nossa “atenção” aos reclames Divinos advém de um momento em que nossa vontade rebelde “fraqueja” e devaneia poeticamente com uma relação salutar com o Eterno, atentando aos privilégios apenas; fraqueza que logo desaparece, quando assoma o peso da responsabilidade na relação. Como nubentes ansiosos pelo deleite do amor que prometem fidelidade incondicional, na alegria, tristeza, saúde, doença, etc. e, quando tais tempos chegam, os adversos, o “sim” empenhado se revela inútil.
O sacerdote Eli reagiu de modo pueril a uma exortação de Deus mediante Samuel, e isso foi fatal; “…Ele é o Senhor; faça o que bem parecer aos seus olhos.” I Sam 3; 18 Ora, ante uma mensagem de juízo por estar em culpa era ainda tempo de clamar por misericórdia, coisa que até o pusilânime Acabe fez a seu turno. Também o anônimo rei de Nínive dada a mensagem do juízo Divino entregue por Jonas, não foi banal em sua reação, antes, contrito, intenso, profundo. “Esta palavra chegou também ao rei de Nínive; e ele levantou-se do seu trono, e tirou de si as suas vestes, e cobriu-se de saco, e sentou-se sobre a cinza. E fez uma proclamação que se divulgou em Nínive, pelo decreto do rei e dos seus grandes, dizendo: Nem homens, nem animais, nem bois, nem ovelhas provem coisa alguma, nem se lhes dê alimentos, nem bebam água;” Jon 3; 6 e 7 Ao invés de dar de ombros como Eli, “Ele é Deus, faça o que quiser”, o rei transformou humilhação e arrependimento em assunto do reino onde todos deveriam tomar parte. A coisa foi de tal modo impactante que Deus resolveu sustar o juízo.
Entretanto, em nossa geração virtual, das ditas redes sociais, a interação é de tal monta que, mesmo não querendo agir assim, a superficialidade se torna inevitável.
Outro dia deparei com uma manchete que demonstra o “espírito” de nosso tempo; dizia: “Pastor converte Naldo e sua esposa no interior de Minas Gerais”. Curioso fui ler a matéria e constava que o funkeiro passara um fim de semana na casa de um cantor gospel e recebera oração, sentindo-se muito bem no ambiente, etc.
Ora, conversão é algo profundo, transformador; demanda boa dose de tempo para que o pretenso convertido passe pelo “deserto” e demonstre mediante provas a veracidade de sua decisão. Isso carece uma considerável perseverança na situação de peregrino, ambiente adverso, rejeição, embates… tais combates não se verificam num final de semana, pois.
O que pode ter acontecido foi uma decisão, que em ambiente propício soou desejável, mas, ainda não é mais que isso; mera decisão. Queira Deus que o tempo revele ter sido mesmo, o primeiro passo da salvação do dito casal; mas, pretender verificar num dia o que demanda anos é ser superficial como as marolas da lagoa.
Embora muitos ministros da praça apregoem seus “enlatados” espirituais, Deus trabalha com sementes, e insta cada um que O aceita, a recebendo a Boa Semente frutificar para glória Dele, não para a realização egoísta do “agricultor”. O egoísmo, aliás, é a mais pujante das ervas daninhas na seara do Senhor; tanto que, o “secante” inicial para o plantio vindouro deve tolher, erradicar, justo o ego; “ Negue a si mesmo…” Luc 9; 23
Por mais eloquente que seja a mensagem, por mais agradável que seja o ambiente, se o alvo for a satisfação do pecador, invés da justiça Divina, sequer a decisão é sadia, uma vez que o ego espinhento continua alheio à cruz.
Jeremias em seus dias foi muito didático: “Porque assim diz o Senhor aos homens de Judá e a Jerusalém: Preparai para vós o campo de lavoura, e não semeeis entre espinhos.” Jr 4; 3 Deus não vai “curtir” nossa foto enquanto não exibir traços de Jesus. Esses se alcança cumprindo Sua Palavra, não apenas ouvindo.