Profetas empalhados
“Porquanto, sim, porquanto andam enganando o meu povo, dizendo: Paz, não havendo paz; e quando um edifica uma parede, eis que outros a cobrem com argamassa não temperada;” Ez 13; 10
Mediante Ezequiel, falsos profetas são denunciados com duas características que merecem análise; uma, a cumplicidade; um edifica a parede sem fundamentos, outro, reboca. Noutras palavras: Um profetiza falso outro confirma. O segundo traço, que no texto aparece primeiro é que eles sempre “facilitam” as coisas.
A situação ante Deus é uma, eles a fazem parecer menos grave, ou, aceitável, mesmo que o Eterno a deplore. Jeremias menciona algo semelhante: “Os teus profetas viram para ti, vaidade e loucura, e não manifestaram a tua maldade, para impedirem o teu cativeiro; mas viram para ti cargas vãs e motivos de expulsão.” Lam 2; 14 Isso, depois da queda de Jerusalém; porém, antes, a doença era a mesma denunciada por Ezequiel. “E curam superficialmente a ferida da filha do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz.” Jr 6; 14
Por que essa tendência insana de abrandar as coisas mediante mentira? Por duas razões básicas; primeira: Fidelidade ao pai da mentira, que também o é, dos falsos profetas. Ele entregou no Éden a “profecia” inaugural dessa estirpe que contradisse a ameaça Divina de morte em caso de desobediência, com seu, “certamente não morrereis.” Segunda: A profecia falsa soa agradável aos ouvintes, o que enseja uma fácil aceitação.
Assim, uma sociedade de incautos tinha seus enganadores em realce, como disse o mesmo Jeremias: “Os profetas profetizam falsamente, e os sacerdotes dominam pelas mãos deles, e o meu povo assim o deseja; mas que fareis ao fim disto?” Jr 5; 31 Era uma cumplicidade coletiva. Profetas falsos corroborando um sacerdócio corrupto com aplauso da plebe. Isaías, aliás, foi além: “Porque este é um povo rebelde, filhos mentirosos, filhos que não querem ouvir a lei do Senhor. Que dizem aos videntes: Não vejais; e aos profetas: Não profetizeis para nós o que é reto; dizei-nos coisas aprazíveis, e vede para nós enganos.” Is 30; 9 e 10
Então, não se tratava de mera acomodação ao falso; mas, de positiva rejeição ao veraz, a Deus, sem deixar de envernizar a hipocrisia com o brilho da religião.
Essa artimanha diabólico-humana de desarmar as defesas com o engano, aliás, foi assumida pelo mestre sala das bodas de Caná. “…Todo o homem põe primeiro o vinho bom e, quando já têm bebido bem, então o inferior;…” Jo 2; 10 Só que tal prática, ante Deus é abjeta, como denunciou por Habacuque. “Ai daquele que dá de beber ao seu companheiro! Ai de ti, que adiciona à bebida o teu furor, e o embebedas para ver a sua nudez!” Hc 2; 15
No caso do falso profeta, entretanto, nem se trata de enganar para ver a nudez alheia; antes, o faz para usufruir proveito próprio a despeito das consequências que venham sobre os que engana.
Acaso não são estimados por suas vítimas os atuais? Mesmo ostentando riquezas, veros impérios, títulos eclesiásticos grandiosos, como “Apóstolos” “Patriarcas” etc… algum é pregoeiro do juízo iminente, como foram os anjos a Ló ao dizer: “Escapa por tua vida”. Não.
Esses advogam que é mensagem bíblica que as pessoas escapem da pobreza, construam o céu ainda na terra, tudo, claro, “em nome de Jesus”. Acontece que O Nome Santo, foi escolhido a propósito, por uma razão diversa: “E dará à luz um filho e chamarás o seu nome Jesus; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados.” Mat 1; 21 E significa, “O Senhor é Salvação”, não, promoção.
Não dá pra ignorar que é mais fácil ouvir, ao invés do “Negue a si mesmo e tome sua cruz”, o clássico “pare de sofrer!” da Universal e satélites. Aliás, quando Cristo já sentia antecipadamente as dores da cruz, Pedro O instigou a isso; a resposta foi cabal: “Para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens.” Mat 16; 23 Essa é a origem do drama dos falsos profetas; projetar anseios humanos a um nível Divino. Enquanto almejamos facilidades, o Eterno lida com possibilidades, necessidades.
No conflito entre pleitos humanos e Divinos, os falsos optam sempre pelos primeiros, diverso do que faz um outro que esteja cheio do Espírito Santo. “…Respondendo, porém, Pedro e João, lhes disseram: Julgai vós se é justo, diante de Deus, ouvir antes a vós do que a Deus;” Atos 4; 19
Escolher a palha em lugar do trigo não é próprio de gente sábia; aliás, já os pré-socráticos tinham um conceito diverso: “O asno prefere a palha ao ouro.” Estobeu