Em Cristo, fora da Lei

“… a lei opera a ira. Porque onde não há lei também não há transgressão.” Rom 4; 15

Parece que temos a possibilidade de acabar com o pecado sem cruz; basta eliminar a lei. De fato; uma transgressão pressupõe avançar arbitrariamente sobre um limite, o que não é possível, se, tal, não existir. Entretanto, Paulo não advoga a inocência do homem, antes, a falta de noção. Enquanto aquela é ausência de culpa, essa, privação de senso crítico. “Porque até à lei estava o pecado no mundo, mas o pecado não é imputado, não havendo lei.” Rom 5; 13

Então, o que ele quer dizer é que o homem caído é um “carro sem freio”; a Lei construiu muros para que a colisão demonstrasse cabalmente. Como seria se não houvesse restrições, limites? Seríamos meros animais; instituiríamos a lei do mais forte, uma raça predadora, autofágica.

O primeiro mandamento que restringia certa árvore já deixava claro que o fim era a preservação da vida, não, tolher o prazer; afinal, a consequência imediata da transgressão era a morte. “No dia em que dela comeres, morrerás.” Paulo mesmo, esposa essa conclusão: “E o mandamento que era para vida, achei eu que me era para morte.” Cap 7; 10

Assim como as leis de trânsito, “lato sensu”, visam a preservação da vida, a Lei de Deus, “stricto sensu”, mira o mesmo fim. Isso seria impossível aos irracionais, nível ao qual descemos reféns do pecado; pois, sendo a lei espiritual, e estando nossos espíritos mortos, não havia como cumprir os Divinos mandamentos. “Porque bem sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o pecado. Porque o que faço não o aprovo; pois o que quero isso não faço, mas o que aborreço isso faço. E, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa.” 7 ; 14 a 16

Isso enseja a percepção que a morte espiritual não é a extinção do espírito, antes, a separação de Deus; pois, seu senso que faz “não querer” o mal que o pecador faz, ainda é uma nuance espiritual; como uma placa que mostra a curva, cujo volante da vontade doente recusa a contornar. Paulo chega a abstrair o “Eu” disso tudo, como se o vero ser fosse refém de um intruso mais forte; “De maneira que agora já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim.” V 17

Esse intruso, aliás, é o “si mesmo” que Jesus nos desafia a negar para que possamos seguí-lO. Como ante o Santo não existe isso de varrer sob o tapete, não se remove o pecado sem cruz. Daí, a sentença: “Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê.” 10 ; 4

Fim, porém, é ambíguo em nosso idioma; pode significar término, ou, objetivo, alvo. Qual o sentido tencionado aqui? Ambos. Cristo como alvo da Lei é apresentado na epístola aos Gálatas: “De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados.” 3; 24 A Lei manifesta o pecado, esse, a necessidade de um Salvador; assim, a Lei conduz a Cristo. E na mesma carta, o trabalho do Messias resulta no encerramento dos reclames da Lei sobre os que nasceram de novo; “ Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra estas coisas não há lei.” 5 ; 22 e 23

Aquele “Eu” outrora preso, em Cristo é recriado e volta ao comando, apto pra agradar a Deus. “Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito. Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte.” Rom 8; 1 e 2 Essa resume-se a um substantivo, amor, e dois alvos: Deus e o próximo. “ Porque toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.” Gál 5; 14

Mas, e Deus? Nossa forma de mostrar amor a Ele está ao nosso lado, o semelhante. “Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu?” I Jo 4; 20

Alguns fazem da Lei um ídolo, concorrente do Salvador. “Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei;…” Gál 5; 4 Os muros da terra perdem a eficiência depois que ganhamos asas; “Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima,…” Col 3; 1