Pluralizar a singularidade Divina

“A quem me assemelhareis; com quem me igualareis e comparareis, para que sejamos semelhantes?” Is 46; 5

Deus propõe mediante o profeta um desafio aos seus ouvintes: Que se lhe apresente outro semelhante a Ele. Porém, não está escrito que Deus mesmo disse: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”? Está. Então, bastaria apresentar ante Ele a um ser humano e o desafio estaria cumprido? A coisa não é tão simples assim. Nem mesmo Hércules se candidataria com sucesso a esse “trabalho”.

Há duas coisas que precisamos considerar. Primeira: O contexto refere-se a outros deuses, pois, diz: “Gastam o ouro da bolsa e pesam a prata nas balanças; assalariam ao ourives, e ele faz um deus; diante dele se prostram e se inclinam. Sobre os ombros o tomam, o levam, e põem no seu lugar; ali fica em pé, do seu lugar não se move; se alguém clama a ele, resposta nenhuma dá, nem livra alguém da sua tribulação.” Vs 6 e 7 Tais deuses carecem transporte, são mudos e inócuos; de modo que, nem de longe poderiam se assemelhar ao Criador.

Segunda: A semelhança humana foi uma condição original, anterior à queda, quando a perfeita comunhão com O Eterno era ainda possível. O pecado trouxe numa mão culpa, noutra medo; de modo que a similitude inicial se perdeu desde então.

A perfeita comunhão com O Santo é o “Everest” espiritual e moral o apogeu. Dali só é possível mudar de plano para baixo. Assim a humanidade, quanto mais andou no monte do tempo mais se afastou do Criador.

Desse modo, não apenas deixou a beleza espiritual da inocência que o fazia semelhante nos atributos Divinos comunicáveis, como ainda se tornou injusto nas relações laterais, feito que a Palavra denuncia: “Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer.” Rom 3; 10

Isso privou ao Pai de seu “espelho” por alguns milênios. Não contemplava mais Sua Santa imagem na face do homem que tão belo criara. Pois, a pergunta Edênica, “Onde estás” era antes, emocional que intelectual; feita por Aquele que É Onisciente. Não era uma presença a razão da busca, mas uma essência.

Havia sobejas razões, pois, para Sua intervenção emotiva dos Céus, quando, uns quatro milênios depois, a “resposta” caminhou sobre a Terra. “Sendo Jesus batizado, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba e vindo sobre Ele. E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo.” Mat 3; 16 e 17 Eis Sua resposta ao desafio feito por Ele mesmo!

Quem se poderia comparar a Deus de modo a ser semelhante? O Eterno disse que no Filho tinha prazer; Esse, por Sua vez asseverou: “Estou há tanto tempo convosco e não me tendes conhecido, Filipe? Quem me vê a mim vê ao Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai?” Jo 14; 9 E o autor da epístola aos Hebreus corroborou disse que Cristo veio “… sendo o resplendor da Sua Glória, (de Deus) e a expressa imagem da Sua Pessoa,…” Heb 1; 3

Nosso desafio não é apontarmos, simplesmente, para Um que todo o Novo Testamento descreve; antes, na medida do possível nos tornarmos semelhantes a Ele. Paulo o fez de tal forma, que arrancou uma expressão veraz sobre a saga de Cristo, dos lábios de quem sequer O conhecia; “… Fizeram-se os deuses semelhantes aos homens e desceram até nós.” Atos 14; 11 Isso foi o que O Salvador fez, embora, o tenham dito dos apóstolos, ao invés de identificar Cristo que atuava neles.

O mesmo Paulo coloca a “linha de chegada” na nossa maratona espiritual: “Até que todos cheguemos à unidade da fé, ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo” Ef 4; 13

Essa semelhança não se mede por títulos eclesiásticos tão em voga, antes, em serviço abnegado e humildade. “De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou a si mesmo tomando forma de servo…” Fp 2; 5 a 7

Então, em Cristo é possível e desejável, muitos filhos da ressurreição, regenerados, exibindo traços espirituais do Pai. Pois, se é vero que nos domínios materiais as aparências enganam, no âmbito espiritual, as pessoas são tais, quais, parecem. Desde já podemos ver Deus nas relações interpessoais, “… contemplarei a Tua face na justiça;…” Sal 17;15 e na placidez de uma hígida consciência; “Bem aventurados os limpos de coração, eles verão a Deus;” Mat 5; 8