A insurreição da preguiça

“Como vinagre para os dentes, como fumaça para os olhos, assim é o preguiçoso para aqueles que o mandam.” Prov 10; 26

Entre as “qualidades” encontradas no preguiçoso, uma sobressai; egoísmo. Quando recebe uma incumbência os cuidados de outrem são lançados sobre ele. Em busca do conforto entrega-se à indolência, alheio ao mal que está fazendo.

Desincumbir-se diligentemente de uma tarefa é bom para quem nos ordena, para nós; ou, geralmente, para ambos. Verte daí o prazer pelo dever cumprido, pela confiança justificada, e eventuais efeitos colaterais sobre terceiros. A confiança malograda é comparada ao vinagre sobre o esmalte dos dentes, ou, fumaça à retina. Desconforto, irritação, dano. Isaías, aliás, usa figura semelhante: “Povo que de contínuo me irrita diante da minha face,… Estes são fumaça no meu nariz, um fogo que arde todo o dia.” Is 65; 3 e 5 Agora a fumaça atinge as narinas, o efeito é semelhante: Irritação.

O pressuposto básico que permite alguém ordenar é a autoridade. Entre iguais hierarquicamente não se ordena; se solicita, eventualmente, um favor. Assim, além da indolência, omissão, egoísmo, o preguiçoso manifesta uma faceta de insurreição ao arrostar a autoridade de quem ordena.

O princípio da autoridade deriva de três fontes; natureza, convenção ou delegação. A hierarquia natural é expressa na Bíblia. “Porque, quando Deus fez a promessa a Abraão, como não tinha outro maior por quem jurasse, jurou por si mesmo,” Heb 6; 13 o primeiro posto parece evidente. Anjos que vêm à seguir lhE devem adoração como criaturas que são; “E todos os anjos de Deus o adorem.” Heb 1; 6 Após, vem o homem; “Que é o homem mortal para que te lembres dele? e o filho do homem, para que o visites? Pois pouco menor o fizeste do que os anjos,…” Sal 8; 4 e 5 Por fim, a natureza, os animais; “…enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra.” Gên 1; 28 Assim, a hierarquia natural se estabelece: Deus, anjos, homem, animais.

A autoridade por convenção pode existir entre iguais segundo a natureza. Atenta ao mérito, conhecimento, idade… como as patentes militares, funções eclesiásticas, etc. Mesmo entre anjos, que, “lato sensu”, são iguais, existe distinções como serafins, arcanjos, querubins, que parece definir atuações também.

A autoridade por delegação se estabelece, quando, um superior por natureza ou convenção comissiona, ordena, que outrem faça algo em seu nome. Mesmo os políticos de nosso sistema são delegados pela escolha do povo mediante voto, ainda que atuem em causa própria, não como tais. São lá preguiçosos a seu modo.

É algo tão sério a autoridade delegada que traz junto o peso de quem a delega. Anjos são superiores a nós por natureza, como vimos. Isso inclui aos caídos. Entretanto, em Nome de Jesus que nos delegou podemos expulsá-los. Assim, ao colocar sua comodidade antes da de quem lhe incumbe, o preguiçoso apossa-se de uma autoridade que não possui, uma vez que a desobedece impondo sua inclinação ao anseio de quem lhe mandou. Por isso é comparado a fumaça nos olhos, dada a irritação que causa.

Entretanto, a maioria dos mentirosos não se satisfaz em ser isso apenas; anexa a hipocrisia, desobedecendo de modo a parecer que obedece, como fez Saul. Geralmente interpreta a ordem a seu modo, cegado pela própria hipocrisia. Esse vício tem atrofiado o Corpo de Cristo, a igreja. Foi-nos ordenado que denunciemos a insensatez do mundo e suas práticas chamando eventuais avisados à salvação; mas, a maioria prefere amoldar-se para ser aceito. A ordem Divina segue lá; “Não vos conformeis com esse mundo…”

Desgraçadamente reduzimos o Todo Poderoso à impotência com nossa omissão e hipocrisia; pois, o Verbo que se fez carne um dia, agora que fazer isso em nós.

Stephen Hawkins é um gênio da física, embora, tetraplégico. Escreve soprando um tubinho que foi adaptado ao seu computador. Assim está a maior parte da igreja moderna. Uma cabeça genial, ( Cristo ) corpo atrofiado e membros que não respondem, nós.

Os sacrifícios aceitáveis a Deus no Velho Testamento eram adjetivados como “Cheiro Suave ao Senhor”. Ainda que fosse necessária certa fumaça, isso aprazia, antes, que irritava a Deus. O Cheiro aceitável hoje é outro. “E andai em amor, como também Cristo vos amou, e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave.” Ef 5; 2 “Porque para Deus somos o bom perfume de Cristo…” II Cor 2; 15

Nas coisas espirituais, invés de conforto, o preguiçoso encontra a morte; “O desejo do preguiçoso o mata, porque as suas mãos recusam trabalhar.” Pv 21; 25