O imponderável e a experiência

“Não te indignes por causa dos malfeitores, nem tenhas inveja dos ímpios, porque o homem maligno não terá galardão, e a lâmpada dos ímpios se apagará.” Pv 24 19 e 20

Claro que instruir conhecendo as consequências pode derivar da experiência. Não carece revelação do futuro quem já trilhou determinado caminho e sabe onde leva. Entretanto, nas coisas espirituais, nem tudo pode ser avaliado pelo escopo das vivências, uma vez que, mesmo a Palavra de Deus vaticinando que nos últimos dias haveria um upgrade do conhecimento, (…muitos correrão de uma parte para outra, e o conhecimento se multiplicará. Dn 12; 4) ela coloca um limite à gnose humana; “As coisas encobertas pertencem ao Senhor nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei.” Dt 29; 29

Na área de exclusiva competência Divina nos é vedada intromissão, para que a hierarquia não seja violada. “Eu sei que tudo quanto Deus faz durará eternamente; nada se lhe deve acrescentar, e nada se lhe deve tirar; e isto faz Deus para que haja temor diante dele.” Ecl 3; 14

Tiago chega a ser mais severo quanto à excursionar ao futuro em planos que não pedem permissão Ao Eterno; “Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque, que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e depois se desvanece. Em lugar do que devíeis dizer: Se o Senhor quiser, e se vivermos, faremos isto ou aquilo. Mas agora vos gloriais em vossas presunções; toda a glória tal como esta é maligna.” Tg 4; 14 a 16

Nessa época em que todos planejam o ano vindouro parece oportuno refletirmos sobre isso. Não que seja errado projetarmos, sonharmos com conquistas porvir. Mas, submetermos isso à aprovação de Deus, e “planejarmos” também, o imponderável. Como assim? O mundo assiste o drama de dois campeões que foram encontrados pelo destino de modo totalmente impensado, indesejado. O lutador de MMA, Anderson Silva fraturou a perna num movimento de ataque, coisa improvável, uma vez que não acontecera nem quando fora atacado pelos adversários. Michael Schumacher, o heptacampeão de Fórmula 1 depois de pilotar várias centenas de horas em altíssima velocidade sem sofrer nada mais grave, agora agoniza devido a um acidente de esqui em seu momento de lazer.

Nenhum desses bruxos que fazem “previsões” em final de ano anteviu tais eventos. Afinal, prever o previsível até meu cavalo consegue, como brincou o humorista Marcelo Adnet, no Fantástico último fazendo a “retrospectiva de 2014”

Mas, como seria possível se preparar para o imprevisível? Muitos filosofam: “Viva cada dia como se fosse o último”; isso é ambíguo; e, no contexto em que é usado geralmente atina a preceituar intensidade, busca de prazer a todo custo… do prisma hedonista pode ter lá sua sapiência. Contudo, eu diria as mesmas palavras com um mirante espiritual. Viva cada dia como se fosse o último no sentido de estar espiritualmente preparado para o encontro com Deus; dado que esse pode ser apressado por um incidente qualquer.

O Senhor Jesus, aliás, ilustrou isso falando de um que ganhou a “Mega da virada” e seria chamado a prestar contas com Deus antes de receber o prêmio. “Derrubarei os meus celeiros, e edificarei outros maiores, e ali recolherei todas as minhas novidades e os meus bens; e direi a minha alma: Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e folga. Mas Deus lhe disse: Louco! esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus.” Luc 12; 18 a 21

Precisamente por ignorarmos quando se romperá o vidro de nossa redoma temporal, a Bíblia sempre apresenta a mensagem de salvação como assunto de extrema urgência; “Enquanto se diz: Hoje, se ouvirdes a sua voz, Não endureçais os vossos corações,…” Heb 3; 15

Soava ridícula a mensagem de Noé falando de um dilúvio quando sequer chovia; faltava experiência com chuva, e não criam na Palavra de Deus. Ora, nenhum dos que poderão cair na perdição se perdeu ainda, falta-lhes tal experiência; esses, não têm como se evadir ao nefasto risco senão, confiando absolutamente na mesma Palavra.

Afinal, quem poderia falar com mais propriedade sobre as coisas do além, que Aquele que venceu a morte? As coisas porvir que carecemos saber, por Ele nos foram reveladas; mas, a experiência com as mesmas não é o caminho da salvação, antes, a consequência de seguir o caminho. “Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus,…” Jo 7; 17