O Excelso Juiz

“Ainda que me mate, nele esperarei; contudo os meus caminhos defenderei diante dele.” Jó 13; 15

Após suplicar que seus conselheiros calassem a boca, Jó desejou expor seu pleito ante O Eterno. Nas palavras daqueles não achava alento, e suspirou: “Quem dera que vos calásseis de todo, pois isso seria a vossa sabedoria.” V 5 mais adiante acusou: “As vossas memórias são como provérbios de cinza; as vossas defesas como defesas de lodo.” V 12 Em suma, estava enfadado das palavras deles, que considerou como clara de ovo sem sal, intragável; assim, ansiava uma audiência com o Criador, mesmo sabendo os riscos.

Ainda que me mate… a intensidade do pleito era tal, que considerou válido expor a vida em busca de solvê-lo. Afinal, sentia-se vítima de injustiça e buscava reparo. Que raros são os homens que acham a justiça um valor supremo como a vida! A maioria dos “homens” atuais, se dá por satisfeita em ludibriá-la, se puder.

Certo que não é sábio pedirmos justiça quando está ao nosso alcance algo melhor, a misericórdia. Zofar, um dos conselheiros dissera a coisa certa no contexto errado; “sabe, pois, que Deus exige de ti menos do que merece a tua iniquidade.” Cap 11; 6 Tal é vero em relação a qualquer pecador; Deus demanda arrependimento, abandono do pecado, em troca do quê, oferta perdão. Isso não é justiça, antes, favor, graça.

Mas, no caso de Jó era sua integridade que incomodava, não seus pecados. Incomodava à oposição, claro, que deu azo à dura prova que ele estava passando em face à permissão Divina.

Quanto mais o escudo da integridade alguém embraça, menos é alvo das setas da presunção. Assim, um homem reto e temente a Deus, cogitava ser morto se visse o Santo; muitos filhos de Belial modernos “oram”, “não aceito”, “Ordeno” “determino”… Deus, em Sua infinita misericórdia inverte a frase: “Ainda não os mato, esperarei”, para ver se algum deles desperta do engano, e se converte deveras.

De que bela combinação era plasmada a alma de Jó! Temor, confiança em Deus e integridade tal, que ousava defender seus caminhos ante Ele. Quando cessaram as ponderações dos três amigos, e um quarto, mais jovem, que tentou ainda, Deus concedeu a sonhada audiência.

Sem mais nem menos, aparece o meirinho na sala de espera e chama: “Sr. Jó Tristão de Uz, sua vez”! Atônito ouviu a interpelação do Juiz: “Quem é este que escurece o conselho com palavras sem conhecimento? Agora cinge os teus lombos, como homem; e perguntar-te-ei, e tu me ensinarás. Onde estavas tu, quando eu fundava a terra? Faze-mo saber, se tens inteligência.” Cap 38; 2 a 4

Interessante que o Meritíssimo Supremo não acusou Jó de pecados, falta de integridade; antes, de ignorante das coisas Eternas. “Escurece o conselho com palavras sem conhecimento.” A série de perguntas subsequentes atinavam à criação do universo, e sua regência. Dando a entender com isso, que havia mais coisas em jogo que a dura sina de Jó. Então, questionou: “Porventura o contender contra o Todo-Poderoso é sabedoria? Quem argui assim a Deus, responda por isso. … Eis que sou vil; que te responderia eu? A minha mão ponho à boca. Uma vez tenho falado, e não replicarei; ou ainda duas vezes, porém não prosseguirei.” Cap 40; 2, 4 e 5

Uma vez que não somos autônomos espirituais, antes, células de um corpo, muitas vezes, à nossa sorte está atrealada a de outros, e, não raro, algum sofrimente é necessário, mesmo que, não seja em consequência de nossas faltas. E, aos olhos Divinos, não é injustiça; antes, concessão. “Mas alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo, para que também na revelação da sua glória vos regozijeis e alegreis.” I Ped 4; 13

Nossa busca geralmente é pessoal, egoísta; a Divina além de graciosa é ampla, inclusiva, e somos chamados, em Cristo, a sermos veículos de Sua graça. No caso de Jó, sua história tinha-nos, como alvo, para que entendêssemos melhor o sofrimento dos Justos. Não foi precisamente em nosso lugar que Cristo sofreu?

Então, entender melhor a “esfera” da atuação Divina ampliou seu conhecimento espiritual. “Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te veem os meus olhos. Por isso me abomino e me arrependo no pó e na cinza.” Cap 42; 5 e 6

Assim como ao nosso sofrimento por Cristo é prometida uma recompensa, pareceu bom a Deus recompensar Seu servo então. Ao invés de restituir o que ele perdera, o fez em dobro, como galardão. Em suma, se nossos caminhos são defensáveis diante de Deus, não carecemos pleitear; pois, bem disse Abraão: “…Não faria justiça o Juiz de toda a terra?” Gên 18; 25