Quando a vida é o dom

“Mas, a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil.” I Cor 12; 7

O Espírito Santo distribui Seus dons sem tolher a liberdade nem o sentir humanos, quando se manifesta. A leitura do que escreve é sobrenatural; o reflexo dessa leitura incide sobre o humano, funde-se a ele. Nessa amálgama, tanto a faceta natural quanto a espiritual, se pode identificar.

Quando Maria visitou Isabel, por exemplo, essa disse: “De onde provém isto a mim, que venha visitar-me a mãe do meu Senhor? Pois eis que, ao chegar aos meus ouvidos a voz da tua saudação, a criancinha saltou de alegria no meu ventre.” Luc 1; 43 e 44 Sentiu alegria e honra, ante uma revelação do Espírito Santo. O humano repercutindo ao Divino.

Tiago define as dádivas espirituais como “Sabedoria do alto”; e descreve: “A sabedoria que do alto vem é primeiramente pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia, de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia.” Tg 3; 17

Não que o Espírito Santo use apenas puros; no sentido exato da palavra sequer existe um humano assim. Entretanto, em meio à imperfeição que macula a espécie caída, há uma “perfeição” que Deus demanda daquele que pretender servi-lo.

Isso implica pureza de motivação, acuidade espiritual para identificar as falhas; honestidade de assumir quando acontece; pressa de se purificar mediante os méritos misericordiosos de Cristo.

A Carta aos Hebreus censura-os por serem ainda imperfeitos; “Porque, devendo já ser mestres pelo tempo, ainda necessitais de que se vos torne a ensinar os primeiros rudimentos das palavras de Deus; vos haveis feito tais que necessitais de leite, não de sólido mantimento. Porque qualquer que ainda se alimenta de leite não está experimentado na palavra da justiça, porque é menino. Mas o mantimento sólido é para os perfeitos, os quais, em razão do costume, têm os sentidos exercitados para discernir tanto o bem quanto o mal.” Heb 5; 12 a 14

Assim, Davi, apesar das muitas e graves falhas foi chamado de, “um homem segundo o coração de Deus”. O segundo sempre sucede ao primeiro; não questiona aos preceitos, juízos ou ordens, Divinas; antes, amolda-se aos mesmos.

Aliás, o desafio é que todos andemos segundo Deus, pois, nisso consiste a conversão; “Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus pensamentos, e se converta ao Senhor, que se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar. Porque os meus pensamentos não são os vossos, nem os vossos caminhos os meus, diz o Senhor.” Is 55; 7 e 8

Então, ao sermos dotados de vida espiritual acabamos “pensando os pensamentos de Deus”, e podemos refletir o estado emocional Dele. Em cenário de grande manifestação coletiva de hipocrisia tendemos a nos deprimir um pouco, por estarmos amalgamados à tristeza do Espírito Santo que reside em nós.

Jeremias, como poucos, sentiu isso na pele, dado seu contexto de vida; Deus era rejeitado por pequenos e grandes; ele “herdava” a rejeição. “Ah Senhor, porventura não atentam Teus olhos para a verdade? Feriste-os, e não lhes doeu; consumiste-os, e não quiseram receber a correção; endureceram as suas faces mais do que uma rocha; não quiseram voltar. Eu, porém, disse: Deveras estes são pobres; são loucos, pois não sabem o caminho do Senhor, nem o juízo do seu Deus. Irei aos grandes, falarei com eles; porque eles sabem o caminho do Senhor, o juízo do seu Deus; mas estes juntamente quebraram o jugo, e romperam as ataduras.” Jr 5; 3 a 5

Assim como o profeta herdava a rejeição hipócrita dos religiosos compartilhava a ira Divina; “Tu, pois, ó Senhor dos Exércitos, que provas o justo, e vês os rins e o coração, permite que eu veja a tua vingança contra eles; pois já te revelei a minha causa.” 20;12

Antes, o humano tentou ficar longe do chamado Divino, como se o profeta decidisse pedir demissão; “Então disse eu: Não me lembrarei Dele, e não falarei mais no Seu Nome; mas isso foi no meu coração como fogo ardente, encerrado nos meus ossos; estou fatigado de o sofrer, já não posso mais.” 20; 9

Enfim, se o dom do Espírito é dado a cada um para o que for útil, há escolhidos cuja vida inteira é um dom a terceiros, como foi Jeremias; “… às nações te dei por profeta.” Jr 1; 5

Em tais vidas, pouco ou nada valem projetos pessoais, antes, quando pensam estar em seu lugar no mundo são desafiados a mudanças bruscas; pontes pretéritas são explodidas e caminhos novos descortinados. Essas raridades espirituais quando chegam, não são simpáticos como o velho Noel; são medicinais como a Palavra de Deus.