Os motivos de Judas
“Amados, procurando eu escrever-vos com toda a diligência acerca da salvação comum, tive por necessidade escrever, e exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos.” Jud v ;3
Judas introduz sua breve epístola dizendo que tencionava escrever uma coisa e viu necessidade de outra. Ia falar da salvação comum, mas, identificou uma ameaça aos santos, e redirecionou seu alvo: “… batalhar pela fé…”
Claro que ninguém é convocado a uma batalha sem saber o objetivo; antes, conhece contra quem deverá lutar. O fato de que nossa luta não é contra carne e sangue, como ensinou Paulo, não nos guinda a um plano metafísico como se pudéssemos lutar abstraindo o corpo. Mesmo “andando em Espírito”, de certo modo andamos na carne; digo, nosso corpo, o templo do Espírito estará presente, sujeito às inclinações naturais, contra as quais deveremos pelejar.
De igual modo, enganadores que servem o inimigo se fazem habitat de suas influências nefastas, reféns das quais dividem igrejas, infiltram-se e solapam a fé dos que abandonaram a vida de erros. Quais suas características? Como identificá-los? Judas os expõe: “Ai deles! porque entraram pelo caminho de Caim, e foram levados pelo engano do prêmio de Balaão, e pereceram na contradição de Coré.” V 11
O caminho de Caim era sedimentado com a areia da inveja e conduzia à cidade da violência. Normalmente quando aludimos à violência pensamos numa violação física; mas, qualquer espécie de imposição é violenta pois pisa no arbítrio alheio em prol da própria vontade. “Bênçãos há sobre a cabeça do justo, mas a violência cobre a boca dos perversos.” Prov 10; 6
O mentiroso faz violência à verdade, ao tempo, à esperança, à fé de quem lhe acredita. Na verdade, a inveja que lhe assessora já é uma violência contra os fatos, pois, recusa-se a vê-los como são. A inveja anseia o bem alheio; sem o mérito alheio, sequer o próprio; seu método é injusto, violento. Deus desafiou Caim a merecer a aprovação desejada: “Se bem fizeres, não é certo que serás aceito?” Gn 4; 7 O que é um falso profeta senão um invejoso que deseja a reputação de verdadeiro sem pagar o preço da consagração daquele que Deus aprova? Seu egoísmo é tal que furta mesmo a Deus, em busca de seus anelos mórbidos; “Portanto, eis que eu sou contra os profetas, diz o Senhor, que furtam as minhas palavras, cada um ao seu próximo.” Jr 23; 30 Notemos que o falso não inventa palavras; furta as que vêm de Deus; ou seja: Falsifica a interpretação, deturpa o sentido. Batalhar pela fé contra os tais requer mais que conhecimento da Palavra; antes, certa destreza nas regras de interpretação também.
“… o engano do prêmio de Balaão…” Embora o mercenarismo espiritual se convencionou chamar de simonia, em “homenagem” a Simão o mago, Geazi, moço de Eliseu e Balaão, bem que poderiam ser pais da criança também. Balaão, mais, talvez. Afinal se dispunha a amaldiçoar ao povo de Deus solenemente em troca de dinheiro.
Ora, o dinheiro, quando extrapola suas funções sadias; avaliar, transformar e conservar bens e serviços, vira um detestável ídolo. Se furta o lugar devido à pregação da mensagem de salvação, enseja um “downgrade”; digo, além de ídolo, torna-se impostor por figurar em ambientes que lhe não pertencem.
Por irônico que seja, os que mais acentuam a “fé” são os da prosperidade; mas sua mensagem não deriva da Cruz; afinal, a maravilhosa graça demonstrada a indignos, eles convertem num “direito adquirido”. Mesmo chamando, eventualmente, Jesus de Senhor, O tratam como serviçal de suas cobiças. Quem não identifica a obscenidade de tais mensagens no nascedouro, já não tem fé pela qual batalhar; foi vencido, capitulou.
“… a contradição de Coré…” Sabem os familiarizados às Escrituras que se trata de uma sedição liderada por este, em busca de poder espiritual sem delegação Divina. Isso resultou num levante contra Moisés; e, em última análise, contra Deus.
O simples desejar lugares altos já é indício de uma fé doentia. Afinal, um homem probo vê numa delegação qualquer, antes, os deveres inerentes, que os privilégios. Ministério não é oportunidade, emprego; antes, vocação, dever, responsabilidade.
Muitos confundem sacerdócio universal, onde todos têm acesso a Deus mediante Cristo, com ministério universal. Ora, ministério requer credenciais explícitas na Palavra, e uma entrega a Deus, antes de possibilitar realização de projetos pessoais.
Se quisermos, enfim, batalhar mesmo pela fé, devemos entender de uma vez por todas que não se trata do direito de crer; mas, do conteúdo no qual se crê. Sem isso estaremos desarmados na peleja. “Tomai também o capacete da salvação, e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus;” Ef 6; 17