O Santo ourives

“Tira da prata as escórias, e sairá vaso para o fundidor;” Prov 25; 4

A figura evocada pelo pensador é de algo valioso maculado por imperfeições; as escórias. Como essas podem ser removidas no processo de depuração da prata, o coração humano de vícios e inépcias pode ser melhorado, purificado.

Deus menciona a intenção de fazer isso nos últimos livros do Velho Testamento: “E farei passar esta terceira parte pelo fogo, e a purificarei, como se purifica a prata, e a provarei, como se prova o ouro. Ela invocará o meu nome, e eu a ouvirei; direi: É meu povo; e ela dirá: O Senhor é o meu Deus.” Zac 13; 9 Em Malaquias, alude ao “modus operandi” do “Anjo do concerto”: “E assentar-se-á como fundidor e purificador de prata; purificará os filhos de Levi, e os refinará como ouro e como prata; então ao Senhor trarão oferta em justiça.” Mal 3; 3

O evento predito por Zacarias é genérico; digo, refere-se à santificação de todo aquele que pretende ser tido como povo de Deus. O de Malaquias é pontual; atina aos ministros do Santuário; então, “filhos de Levi”; hoje, obreiros na Casa de Deus.

Claro que a meta Divina é santificar todos os que Lhe pertencem; “Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor;” Heb 12; 14 Ou, “ Porquanto está escrito: Sede santos, porque eu sou santo.” I Ped 1; 16 Porém, começa pelos que escolhe como instrumentos de difusão da Sua vontade, os obreiros.

Paulo, aliás, condiciona a aplicação de eventual disciplina somente a pessoas que têm intimidade com ela, conhecendo e vivenciando seus benefícios. “E estando prontos para vingar toda a desobediência, quando for cumprida a vossa obediência.” II Cor 10; 6

Quando o Senhor pôs em relevo a vigilância, Pedro cogitou estarem, os discípulos, acima disso; coisas que se refeririam apenas ao povo comum. “E disse-lhe Pedro: Senhor, dizes essa parábola a nós, ou também a todos? E disse o Senhor: Qual é, pois, o mordomo fiel e prudente, a quem o senhor pôs sobre os seus servos, para lhes dar a tempo a ração?” Luc 12; 41 e 42

Claro que cada um é responsável ante Deus por suas escolhas. Entretanto, quem foi posto na condição de atalaia, a segurança de muitos, está atrelada a si. Carece o tal, advertir de modo inequívoco sobre a aproximação do inimigo; figura que Paulo usou noutro contexto: “Porque, se a trombeta der sonido incerto, quem se preparará para a batalha? Assim também vós, se com a língua não pronunciardes palavras bem inteligíveis, como se entenderá o que se diz? porque estareis como que falando ao ar.” I Cor 14; 8 e 9

Ele aludia ao uso disciplinado do dom de línguas; mas, o que disse resulta veraz também no que tange à exortação contra infiltrações malignas na Doutrina da Salvação. Claro que palavras inteligíveis e inequívocas não bastam. Carece todo o líder espiritual o “plus” de um testemunho coerente, que resulta sempre mais loquaz que palavras. Infelizmente, muitos acenam com “prata” nos lábios mesmo cheios de escórias no coração. Esse é o modo de ser dos hipócritas que tanto vicejam por aí.

O pai de todos os hipócritas, aliás, é assim descrito: “As palavras do intrigante são como doces bocados; elas descem ao mais íntimo do ventre. Como o caco de vaso coberto de escórias de prata, assim são os lábios ardentes com o coração maligno. Aquele que odeia dissimula com seus lábios, mas no seu íntimo encobre o engano; quando te suplicar com voz suave não te fies nele, porque abriga sete abominações no seu coração, cujo ódio se encobre com engano, a sua maldade será exposta perante a congregação.” Prov 26; 22 a 26

Ora a exposição da maldade não é outra coisa senão a pregação fiel da verdade; a Palavra de Deus. Ele é pura em si mesmo; aliás, a prata que precisa ser reiteradamente afinada para, enfim, assemelhar-se a Ela: “As palavras do Senhor são palavras puras, como prata refinada em fornalha de barro, purificada sete vezes.” Sal 12; 6

Em suma, para comungar ritualmente com o “corpo de Cristo” somos exortados a um exame de consciência; “Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice. Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor.” I Cor 11; 28 e 29 De igual modo devemos, ao ensinar ministerialmente, avaliarmos a fundo nossos motivos, bem como a coerência entre vida e mensagem. Se ainda restam escórias em nossos caracteres, que a sã doutrina nos derreta primeiro.