As rasuras "de Deus"

“Há um caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte.” Prov 14; 12

O proverbial “as aparências enganam” tem origem, ou, similar, na Bíblia, como vemos. Concedo a dúvida por que pensadores pré-socráticos como Heráclito e outros denunciavam também o logro das aparências. Josué pecou ao não desconfiar delas. Os gibeonitas precisavam convencê-lo que eram peregrinos de origem remota; usaram pães bolorentos e vestes rotas para emprestar verossimilhança à sua história.

O pleito que uma imagem vale por mil palavras dá pano pra manga se examinado; uma das variáveis desse “valor” é que torna mais convincente o ver; ainda que enganoso.

Entretanto, o ver no dito de Salomão, supra, alinha-se mais à opinião que propriamente visão. Os caminhos atraentes parecem direitos aos humanos mais pelo que acham, que pelo que veem. Claro que o achar deriva das circunstâncias visíveis. A visão humana geralmente é tributária das experiências, o que cabe com sobra dentro de um século de vida; isso contraposto a Deus, que além de Onisciente é Eterno resulta pífio. Daí que, contrariar um preceito Divino baseado em idiossincrasias encerra o risco de encontrar a morte no final.

Quando o navio que levava Paulo preso a Roma estava mercê da decisão de zarpar ou não, houve um choque de posições entre o experiente capitão e o servo de Deus. “E, passado muito tempo, e sendo já perigosa a navegação, pois, também o jejum já tinha passado, Paulo os admoestava, dizendo-lhes: Senhores, vejo que a navegação há de ser incômoda, e com muito dano, não só para o navio e carga, mas também para as nossas vidas. Mas o centurião cria mais no piloto e no mestre, do que no que dizia Paulo.” Atos 27; 9 a 11 A experiência humana arrostando a Palavra de Deus dada por Seu servo; acabou em naufrágio, sabemos.

Outro exemplo de alguém que deixou o caminho de Deus por uma “nova opinião” ainda que dada como oriunda do Eterno é o Profeta jovem que profetizou em Betel contra Jeroboão e o altar. A ordem era que não comesse nem bebesse nada lá; mais, que voltasse por outro caminho. Ele aceitou a “nova revelação” do profeta experiente, e isso lhe custou a vida. Ver, I Rs cap 13.

Ora, se Deus dissesse algo e carecesse emendar depois, não seria o Eterno; sofreria ação do tempo. Contudo, “Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e eternamente”. Heb 13; 8.

Assim, todos os “profetas” que vieram após o encerramento do Cânon em Apocalipse, não passam de emendas, rasuras, “de Deus”, o que os desqualifica cabalmente. Seja Ellen White, Joseph Smith, Charles Russel, ou quem for. Ainda que misturem seus escritos com verdades Bíblicas. Do que é verdadeiro a Bíblia já contém “tudo o que diz respeito à vida e piedade.” Como ensina Pedro. Assim, tal repetição não é necessária, senão, como engodo para emprestar verossimilhança às heresias infiltradas.

Paulo declarou anátema ao “novo evangelho” que se infiltrara na Galácia. Depois explicou que nem era novo o texto, mas, pervertida a interpretação. “O qual não é outro, mas há alguns que vos inquietam e querem transtornar o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema.” Gál 1; 7 e 8

Mas, se os caminhos atraentes podem resultar em morte no fim, como fazer nossa escolha, se, estamos ainda no começo? Deus ensina: “Lembrai-vos das coisas passadas desde a antiguidade; que eu sou Deus, e não há outro Deus, não há outro semelhante a mim. Que anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam; que digo: O meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade.” Is 46; 9 e 10

Essa comichão por novidades deveria ser doença apenas do mundo; mas, verifica-se na igreja também. Paulo advertiu dela, aliás: “Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas.” II Tim 4; 3 e 4

Depois de tal advertência exortou ao Jovem Pastor à sobriedade. Em quê ela consiste? “Porventura o ouvido não provará as palavras, como o paladar prova as comidas?” Jó 12; 11 O choque entre essência e aparência deve ser visível para quem tem discernimento espiritual, como denunciou o mesmo Paulo sobre os “fiéis” dos “tempos trabalhosos;” “Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te.” II Tim 3; 5 Nem sempre estreitamento equivale ao “caminho estreito”; mas, a dar largas às comichões heréticas.