Buraco negro

E, tendo nascido Jesus em Belém de Judéia, no tempo do rei Herodes, eis que uns magos vieram do oriente a Jerusalém, dizendo: Onde está aquele que é nascido rei dos judeus? porque vimos a sua estrela no oriente, e viemos a adorá-lo.” Mat 2; 1 e 2

Inusitado que um feito na terra tenha sido anunciado no céu e apenas estrangeiros tenham percebido ao invés do, então, povo de Deus. Certo é que havia uma advertência contra certas superstições astrológicas, cometas, asteroides, sei lá, que genericamente se enquadram nos ditos “sinais dos céus”. Historiadores dizem que o culto à Diana dos Efésios nasceu de um sinal assim, uma tocha de fogo caída na Terra que um “intérprete” traduziu como a descida da deusa.

Era contra esse tipo de crendice que Jeremias advertira; pois, a consequência do “sinal” acabava em idolatria; vejamos: “… Não aprendais o caminho dos gentios, nem vos espanteis dos sinais dos céus; porque com eles se atemorizam as nações. Porque os costumes dos povos são vaidade; pois corta-se do bosque um madeiro, obra das mãos do artífice, feita com machado; com prata e com ouro o enfeitam, com pregos e com martelos o firmam, para que não se mova. São como a palmeira, obra torneada, porém não podem falar; certamente são levados, porquanto não podem andar. Não tenhais receio deles, pois não podem fazer mal, nem tampouco têm poder de fazer bem.” Jr 10; 2 a 5

Entretanto, a estrela precursora de um filho da tribo de Judá que seria Rei, fora predita; Jacó pouco antes de sua morte falou de seu domínio; “O cetro não se arredará de Judá, nem o legislador dentre seus pés, até que venha Siló; e a ele se congregarão os povos.” Gên 49; 10 Balaão, acresceu ao domínio o sinal da estrela. “Vê-lo-ei, mas não agora, contemplá-lo-ei, mas não de perto; uma estrela procederá de Jacó e um cetro subirá de Israel,…” Num 24; 17

Assim, embora fosse preceituado evitar a superstição religiosa pagã, também fora anunciado algo pontual que eles deveriam esperar. Contudo, estranhos peregrinaram a Belém, com a motivação certa, bem como, noção de quem acabara de nascer; afinal, disseram que iam para adorá-lO, coisa que não era comum aos reis terrenos; a esses, se tributava reverência, não adoração.

O mesmo fenômeno, não raro, acontece conosco; coisas que nos estão bem perto ignoramos, e outros aos quais tais coisas não miram, as percebem bem melhor do que nós. Parece que há um tempo na vida em que as asas do sonho voam longe demais para que possamos perceber o que está perto. Mesmo que o céu acene com uma elevada estrela, as paixões naturais tendem a se envolverem com seus efêmeros cometas; e até que venhamos a descobrir que “não podem fazer mal, tampouco fazer bem” como disse o profeta, já fizeram o mal maior de nos desviar do sinal de Deus.

A reação mais comum é a de Herodes; “Perturbou-se”, afinal, um novo Rei nascendo significaria uma ameaça a ele, segundo pensava; tanto que tentou matar. Assim a Carne, vê no Rei celeste um perigo, pois, continua inclinada a reinar, ainda que seu cetro seja insignificante, seu reino, falido.

“Meu reino agora, não é desse mundo”, disse o Senhor quando julgado por Pilatos; se alguém quiser adentrar nele, terá que considerar a necessidade de ser mero peregrino no mundo, priorizando à Estrela; digo, o Tesouro Celeste como ensinou Paulo: “Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra; porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.” Col 3; 1 a 3

Certo que, hoje, como naqueles dias, há dezenas de sinais falsos tentando desviar do verdadeiro; mas, quem atenta às profecias como fizeram os sábios do oriente, saberá discernir qual procede de Deus, e qual deriva do engano.

Agora, Cristo, a Estrela de Jacó, está forjando novas estrelas ainda na Terra; e o brilho com o qual as adorna é o da justiça, como ensinou Daniel: “Os que forem sábios, pois, resplandecerão como o fulgor do firmamento; e os que a muitos ensinam a justiça, como as estrelas sempre e eternamente.” Dn 12; 3

Afinal estamos próximos do Natal quando as pessoas correrão atrás do fantoche vermelho que usam para ofuscar Jesus; pois, aquele oferece presentes invés de cruz. O espírito de Herodes segue matando inocentes. A cruz é dolorosa mas conduz à vida; presentes, em tal contexto, acabam sendo deliciosos disfarces do engano. Muitos cambiam a Estrela por um buraco negro…