Fé para pecar
“Porque, se vós crêsseis em Moisés, creríeis em mim; porque de mim escreveu ele.” Jo 5; 46 “Disseram-lhe, pois: Que faremos para executarmos as obras de Deus? Jesus respondeu, e disse-lhes: A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou.” Jo 6; 28 e 29
Interessantes facetas da contradição entre Jesus e seus opositores. Primeiro O rejeitavam por que já tinham a Moisés como parâmetro; ao que o Senhor observou: “Se crêsseis em Moisés creríeis em mim; porque de mim escreveu ele.” Depois se dispuseram até mesmo a fazer algo pela obra de Deus; o Senhor os desafiou a crerem Nele.
Quando a Bíblia apresenta a Jesus Cristo como “autor e consumador da fé”, isso não se restringe à Sua encarnação. João ensina: “Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.” Jo 1; 3 Se mesmo em Moisés as pessoas deveriam ter fé, então essa qualidade da qual é Autor precedeu em muito Sua encarnação.
Tudo começou quando Adão foi instigado a descrer nas consequências do pecado; assim, foi a ausência de fé obediente que deu azo a toda tragédia humana. E Cristo consumou, levando essa virtude às últimas consequências. “... esvaziou a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.” Fp 2; 7 e 8
Alguns interpretam mal a fé como se fosse um poder; não. É apenas um voto de confiança absoluta em Quem tem Todo poder. Não é uma senha que abre a porta das bênçãos que desejamos; antes, uma serenidade interior que mesmo se nossos anseios não forem atendidos, faz-nos seguirmos confiantes crendo que Deus sabe o que nos é melhor.
Assim como é certo que Deus não opera em favor da incredulidade, também é que, o nosso crer não força-O a atender nossos pedidos. A fé apenas agrada ao Eterno, como ensina a epístola aos Hebreus; “Ora, sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam.” Heb 11; 6
Se creio que Ele existe devo demonstrar; se acredito que É galardoador dos que O buscam, devo buscá-lo, deixando o Galardão por Sua conta. Isso não significa nem de longe que ficaremos no “prejuízo” se não “exigirmos nossos direitos” como tantos zurram. Paulo ensina que Deus “...é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos,” Ef 3; 20 Quantas vezes ocorre de recebermos de Deus coisas que sequer ousaríamos pedir?
A fé que busca egoisticamente para si acreditando que tem Deus a seu serviço, além de ser insana na motivação é blasfema na implicação. Quando Jesus diz que “tudo é possível ao que crê” alguns pensam que somos “promovidos” a deuses afinal, “... para Deus nada é impossível.” Luc 1; 37
Ora o que o Senhor pretende ensinar é que, a fé saudável nos coloca em comunhão perfeita com Aquele para o qual, tudo é possível. Quanto a nós, porém, o possível não equivale a deferido, liberado; apenas, possível. Jesus, aliás, questionou a possibilidade de Deus, sem violar Seu desejo; “...Meu Pai, se é possível, passe de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres.” Mat 26; 39
Afinal, a fé não nos foi dada para que violemos à Vontade do Eterno, antes, para que a cumpramos, como fez o Salvador. “Olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus.” Heb 12; 2
Ademais, o Senhor vetou que fôssemos seletivos com os textos bíblicos que nos interessa; “...Está escrito que nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra de Deus.” Luc 4; 4 Quem crê nas promessas Divinas deve igualmente crer nas advertências quanto ao juízo e temer; ou seja, reverenciar ao Todo Poderoso.
Quem imagina que a Bíblia seja uma “caixa de promessas” está cego quanto à própria hipocrisia. Crer higidamente conduz à obediência; mesmo no que tange às ordenanças mais simples: “Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado.” Mc 16; 16
Afinal, depois de depreciar o exercício dos dons espirituais sem amor, Paulo alista as três maiores virtudes cristãs colocando o sentimento que tolhe o egoísmo como tutor, além dos dons que dissera, da própria fé; “Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.” I Cor; 13; 13