Mensagem Fraterna de Dom Hélder Câmara ao passar a Arcebispo Émerito!

Dom Hélder Câmara – 1964 – 1985 – Sinais dos Tempos, Sinais de Deus.

Mensagem fraterna de Dom Helder Câmara a Olinda e Recife, ao passar de Arcebispo Metropolitano a Arcebispo Emérito desta sempre querida Arquidiocese.

15.7.1985

1964 - 1985: SINAIS DOS TEMPOS, SINAIS DE DEUS.

Ontem, iluminado pela 8ª Bem-aventurança.

Quando a Providência Divina me trouxe pela mão para a nossa Arquidiocese de Olinda e Recife, faz 21 anos, estava acabando de nascer, em nosso País, um Movimento Militar, que marcaria, profundamente, a História do Brasil e a alma do nosso Povo.

O vitorioso Movimento de Elites, talvez sem a exata percepção de muitos de seus Participantes, pisoteava, desde os seus primeiros dias, conquistas e aspirações populares. Dividia o País. Impunha o silêncio e o medo.

Falar na pobreza de nossa Gente era tido como perigosa demagogia e subversão comprometedora. E, no entanto, o Recife, como o Brasil, abrigava uma multidão crescente de Pobres, nas fronteiras da miséria mais degradante. Clamar por liberdade, mesmo as mais restritas liberdades políticas, era ousadia criminosa, punida com prisão e, muitas vezes, com banimento e morte.

A desvairada idolatria de impor a Segurança Nacional como Valor Supremo, Valor dos Valores, fez do Estado e não do Homem o centro e o fim de todo o processo político. Concentrou-se a renda. Os Pobres ficaram mais pobres e os Ricos cada vez mais ricos. Os privilégios ficaram cada vez mais restritos e os prejuízos cada vez mais repartidos.

Quis o Pai que a Igreja de seu Filho, no Brasil, tivesse a missão providencial de tentar dizer que a pseudo-ordem implantada era, na verdade, agravamento das estruturas de servidão.

Quis o Pai que a Igreja de seu Filho em nosso País compreendesse a impossibilidade de continuar sendo um dos principais esteios de uma Ordem Social, que mal encobre desigualdades gritantes e é muito mais uma desordem perigosa e comprometedora.

Foi a Graça Divina que permitiu à Igreja de Cristo a coragem, que o Evangelho inspira, de denunciar a injustiça e a opressão, a miséria e a fome, como gritantes pecados sociais.

Não faltou quem nos acusasse de fugir à nossa missão para fazer política, quando a Igreja tentava apenas cumprir a missão do bem comum, dever evangélico de lutar, sem ódio, sem violência, mas com decisão e firmeza, por um Mundo mais justo e mais humano.

Não faltou quem acusasse a Igreja de subversiva e comunista... E toda a nossa subversão era mostrar, com a Fé que a Graça Divina nos concede, que, nas calçadas das grandes Cidades, nas ruas dos grandes Centros, Jesus Cristo, em pessoa, catava e cata restos de comida, no lixo, para comer; dormia e dorme ao relento, debaixo de pontes e viadutos; era e é preso, e perseguido por ser pobre.

Deus concedeu que a Igreja de Cristo, no Brasil, tivesse a coragem dos Cristãos do início da era cristã, de testemunhar o Evangelho, à custa da própria liberdade e até da própria vida. Houve perseguições, sequestros e torturas, especialmente de Trabalhadores e Estudantes - Homens e Mulheres - sobretudo Líderes Sindicais e Leigos comprometidos com o Evangelho. Não faltaram Religiosas e Padres. Basta lembrar o nosso inesquecível Pe. Antonio Henrique Pereira Neto, impunemente trucidado pela sua dedicação aos Jovens, e o Pe. Vito Miracapillo, expulso do País pela intolerância de quem, ainda hoje, não admite que se complete, na Zona da Mata de nosso Estado, a campanha de libertação dos Canavieiros e Corumbas, modernos escravos brancos dos nossos Canaviais...

Hoje, iluminado por um belo arco-íris.

Quis a Providência Divina que, ao passar o Governo de nossa Arquidiocese ao querido Irmão, D. José Cardoso, esteja aberto não só nos céus de Olinda e Recife, mas de todo o Brasil, um belo arco-íris...

Com que esperança, vamos assistindo ao crescimento e amadurecimento de nossa Gente sofrida! ...

Os Partidos Políticos descobriram, de repente, que as Multidões que acorriam aos Comícios ultrapassavam, de muito, as Clientelas Eleitorais. É impressionante o que a nossa Gente Sofrida descobria para além das eleições diretas.

Foi alegria profunda medir o amadurecimento do Povo, através de demonstrações concretas de autodomínio e firmeza, diante de derrotas e de vitórias!

Quando um dos Candidatos à Presidência da República se identificou com os anseios populares de Reformas, sem as quais a Paz Social será impossível, o Povo o adotou. No dia da eleição, ficou patente que, de ponta a ponta do País, a pressão popular transformou a mofina eleição indireta, em clara e larga eleição direta.

Quando Tancredo Neves, com sua enfermidade, que, em parte, coincidiu com a celebração da Paixão de Cristo, galvanizou a atenção de todos nós, o Mundo assistiu a um acontecimento raro: todo um Povo, num País de dimensão continental, uniu-se em prece pela saúde do Presidente e transformou em apoteose o seu sepultamento.

O Presidente José Sarney, medindo a força e a beleza de tão positiva pressão popular, falou pelo País inteiro, proclamando que o programa de Tancredo é herança sagrada para todos nós!

Não se pense que, falando desta maneira, estou pensando que já é dia claro e que a democracia já está implantada e firme, realizada em toda a sua riqueza... Olhemos, um instante, que perspectivas nos anuncia o Arco - Iris, aberto nos céus do Brasil. Tentemos superar tanto o pessimismo, como o otimismo ingênuo e infantil.

Temos razão para alegrar-nos com o considerável avanço institucional, ocorrido nestes últimos meses. Mas seria simplismo grave imaginar que já está conquistada a democracia que queremos e a ordem com que sonhamos...

Não basta a democracia das eleições diretas, nem o formalismo dos Poderes da República. É preciso avançar na democracia econômica, que deverá repartir, com todos os Brasileiros, os frutos do desenvolvimento e do progresso do País.

Não basta para nós, Cristãos, a anistia política, que resgatou o direito sagrado de pensamento, de expressão e de discordância política. Para nós, é preciso, é urgente a anistia econômica que redima da miséria e da fome uma multidão de Brasileiros, a quem se nega o mais sagrado de todos os direitos: o direito à própria Vida.

Não basta, para nós, o respeito aos direitos puramente individuais do cidadão, especialmente quando eles são ainda tão restritos como no nosso texto constitucional. É indispensável que se estabeleça o direito à privacidade, crescentemente ameaçado pelos bancos de dados cada vez mais complexos. E imprescindível que se garanta o direito à informação, até como fórmula indispensável de se exercer em plenitude a própria cidadania. Nunca é demais lembrar que parte expressiva da dívida externa, que condiciona e sufoca a vida de todo o povo brasileiro, foi canalizada para apenas três dezenas de projetos faraônicos, discutíveis em sua viabilidade, contestáveis em sua necessidade, e sobre os quais os brasileiros jamais foram ouvidos ou suficientemente informados.

É preciso, sobretudo, que se consagrem em nossas leis, direitos sociais inalienáveis, inerentes à própria dignidade da Pessoa humana: o direito à moradia e ao trabalho, o direito à educação e à saúde. Só a garantia desses direitos sociais evitará, neste País, a existência de sub-Cidadãos e de sub-Homens, Brasileiros de segunda classe.

A consciência da importância e da prevalência desses direitos sociais sobre os direitos individuais é que nos leva a crer que os riscos e desafios de hoje são, talvez, até maiores que os riscos e desafios de ontem...

O primeiro e o maior deles é o da própria miséria. Recife é campeã brasileira de desemprego e subemprego. É recordista nacional de biscateiros, tratados com Polícia e repressão nas ruas da Cidade.

Desafio terrível é o da Habitação: mais de um milhão de Pessoas moram em condições sub-humanas na área metropolitana da Cidade. E, no entanto, a regra é responder com tratores e picaretas às tentativas dos Pobres ocuparem um pedaço de chão dos estoques de especulação imobiliária...

"Muitos dos projetos públicos que se executam em nossa cidade, como o Projeto Recife, o Metrô ou os abandonados estacionamentos periféricos da Ilha Joana Bezerra ou da Ilha do Joaneiro, significaram a expulsão de centenas de famílias. Os Pobres são tangidos cada vez mais para longe dos Centros de trabalho e dos polos de serviço".

A Igreja emprestou vez e voz a quantos não tinham voz, nem vez. Seria engano grave pensar que se tratava de uma função supletiva, que já se tornou desnecessária.

Nossa Gente Sofrida está aprendendo, a duras penas, que é uma força, quando se une, não para pisar direitos dos outros, mas para não permitir que venham pisar seus próprios direitos. E os Poderosos têm maneiras numerosas de não ouvir, de torcer as leis mais claras, de fabricar testemunhas, de criar opinião pública de todo desfavorável aos Pequenos...

Quem desconhece que até mesmo a inflação, que parece atingir indistintamente todo o corpo social, castiga com mais rigor exatamente os mais pobres e desassistidos? Os assalariados que não dispõem de recursos para aplicações financeiras, e os que não podem contar com qualquer tipo de ganho de capital?

Mesmo que nada disso ocorresse, defender direitos humanos, criados pelo próprio Deus, foi, é e sempre será missão da Igreja de Cristo. Ela não privilegia sistemas de Governo. Busca ajudar a criar um Mundo de mais justiça e amor. E essa é para Ela uma obrigação inarredável, até o fim dos tempos.

Já não temos, como antes, o esmagamento de garantias e liberdades individuais. Mas vivemos o risco real de que as Elites se apropriem, em benefício próprio, de instrumentos do Governo e de mecanismos criados em nome do desenvolvimento, e com isto sejam sufocados, em definitivo, os sonhados direitos sociais.

Não podemos assistir passivos a experiências dolorosas como a da SUDENE... Com que esperança os Bispos Nordestinos propuseram a criação de um instrumento destinado a romper o desequilíbrio criminoso entre áreas altamente desenvolvidas e áreas estagnadas! Queriam os Bispos que os Técnicos do Governo se unissem, tentando por em comum as minguadas verbas e os raros especialistas que se dispersavam em miúdas iniciativas isoladas. A Sudene nasceu despertando esperanças em muitos e contando com o respeito de todos...

Mas o que se viu, através dos tempos, foi a Sudene, com o sacrifício de seus Técnicos e de quantos nela trabalham:

- ser obrigada a aumentar a dependência do Nordeste, em matérias primas, em equipamentos e até em mercado...

- ser obrigada, através de mecanismos cavilosos como o dos incentivos fiscais, a agravar a concentração de rendas e agravar as disparidades entre os próprios Nordestinos...

- ser obrigada a estimular a expulsão do Agricultor, através de discutíveis projetos agropecuários...

- ser obrigada a deixar para trás a produção de alimentos.

E o Nordeste da Sudene - esvaziada e desviada de seus objetivos iniciais - ficou mais vulnerável aos efeitos sociais das secas. Nunca é demais lembrar que dos 32 Municípios que perderam população entre 1970 e 1980, 30 não se situam nos tórridos sertões, mas no agreste ou na fértil e chuvosa Zona da Mata... O capim e a cana, estimulados oficialmente, expulsaram mais Gente do que a própria seca...

Com que esperança assistimos hoje a uma vigorosa mobilização de técnicos e funcionários da Sudene, de políticos e de setores do próprio Governo, para que ela volte às diretrizes de seus primeiros dias.

Com que alento testemunhamos o esforço para que a Sudene privilegie, hoje, a pequena empresa familiar e altere os parâmetros de avaliação dos projetos industriais, para adequá-los melhor às necessidades do desenvolvimento regional. Com que confiança registramos a proibição de pessoas físicas ou jurídicas acumularem mais de um projeto incentivado, canalizando, ao mesmo tempo, os incentivos fiscais para a pequena propriedade. Quem sabe não teremos, enfim, a nossa Sudene firmemente engajada na superação de colonialismos internos e de disparidades interregionais e interpessoais de renda? Na promoção de um desenvolvimento autônomo e autossustentado, que não se limite a servir de instrumento de multiplicação do capital e defesa dos interesses dos oligopólios?

Os Técnicos da Sudene estão alertas, inclusive, para tentar evitar que ela se transforme em mera Repassadora de Verbas...

Deixem-me lembrar, ainda, que vivemos hoje o desafio da convocação da Assembleia Nacional Constituinte, que vai preparar a Ordem jurídica do Brasil do século XXI. O Espírito Divino ajudará a Igreja de Cristo na tarefa sagrada de apoiar o Povo em sua organização e mobilização para evitar o predomínio do poder econômico que termine por consagrar, na Constituinte, os interesses e os privilégios de escassa minoria.

Não podemos perder esta rara oportunidade histórica para garantir através da própria Constituição, valores e conquistas que não são apenas aspirações de Cristãos, mas de todos os Homens de boa vontade. Temos de garantir, na Constituinte, a prevalência do trabalho sobre o capital, do ser sobre o ter, do homem sobre o dinheiro e o lucro. Temos de garantir, na Constituinte, uma distribuição mais justa da renda e da riqueza nacional, não apenas entre regiões ou entre esferas do poder público federal, estadual e municipal. Mas sobretudo entre pessoas.

Temos de garantir o controle social do aparelho do Estado, para evitar a desvairada hipertrofia que termina por esmagar o cidadão e suas liberdades. Temos de garantir, por fim, que a propriedade e a terra sejam condicionadas por sua finalidade Social. A Igreja, através dos tempos, sempre reconheceu e defendeu a propriedade. Mas, em momento algum, pôde admitir que ela se transforme em valor absoluto, pois como ensinou, com admirável sabedoria, nosso querido João Paulo II, "sobre toda propriedade pesa uma hipoteca social".

Só esta visão social da propriedade permitirá que se avance em reformas de há muito sonhadas por nosso Povo, como a Reforma Agrária.

Com que otimismo testemunhamos o lançamento, pelo Governo, do Plano Nacional de Reforma Agrária. Pouco importa se a muitos pareça tímido e conservador. Pouco importa se ele se baseie no Estatuto da Terra, promulgado pelo próprio Marechal Castelo Branco, primeiro chefe do movimento militar de 64. Importa menos ainda, que este plano de reforma agrária seja feito em nome da propriedade, e do sistema capitalista no campo. O que vale, para nós, é o reconhecimento explícito de que, sem essa reforma, os conflitos no campo se tornarão cada vez mais explosivos, e as cidades incharão cada vez mais. Sem esta reforma, nem o homem se fixará no campo, nem haverá produção suficiente de alimentos. Muito menos se poderá pensar em justiça social no campo.

Cabe aos bons Brasileiros, agora, oferecer ao Governo todo o apoio necessário para vencer o imobilismo dos que querem preservar os grandes latifúndios improdutivos como instrumento de especulação-imobiliária, como fiança de créditos especiais que eles desviam para a especulação financeira; ou como mecanismos de chantagem eleitoral contra o pobre agricultor sem terra.

Deus nos livre, porém, da ingenuidade de pensarmos que é possível resolver nossos gravíssimos problemas internos sem modificar a ordem econômica internacional, iníqua e opressora dos países pobres. Ah, quanto se tem trabalhado nos países do Terceiro Mundo, quanta fome se tem sofrido nesses países, somente para pagar os juros, cada vez maiores, de suas dívidas internacionais. Mas como pagá-las, se os preços das matérias-primas, únicos bens de exportação dos países pobres, são achatados unilateralmente pelos países desenvolvidos? Como pagar estas dívidas externas, se as taxas de juros crescem ao sabor da política financeira dos países ricos, aumentando indefinidamente o débito dos países pobres?

Esse sufocante jogo de interesses financeiros une, num círculo único de exploração, ideologias da esquerda e da direita, identificadas pela mesma sede insaciável do lucro. Imperialismos econômicos e ditaduras políticas, de direita ou de esquerda, esmagam o homem da mesma forma. Escravizam-no da mesma maneira. Deus nos livre da ingenuidade de absolver uns para condenar outros. De preferir uns aos outros, pois todos são igualmente fiadores da opressão.

Ah, com que tristeza assistimos a países que sustentam sua prosperidade no subdesenvolvimento e na miséria de outras Nações, oprimidas por iníquas relações de comércio, espoliadas por inescrupulosas operações financeiras. E mais ainda, induzidas ao desvario perverso da corrida armamentista, que só atende aos interesses do poder político e econômico. Ah, com que dor presenciamos o nosso querido Brasil ser tristemente reconhecido como fabricante e exportador de material bélico.

A submissão passiva às injustas exigências internacionais dos importadores de matérias-primas e de exportadores de tecnologia e de capital, só agravou, nos últimos anos, os problemas internos do nosso Brasil. Que exemplo mais eloquente poderia encontrar na deteriorização das condições de vida do que nosso povo, que o Recife? Ah, como gostaria de poder dizer que, em nossa Região Metropolitana do Recife, o Povo é apenas pobre e não miserável?

Mas não preciso ficar insistindo nos problemas cada vez mais graves de nosso Povo. Prefiro falar dos maravilhosos ensinamentos que nos dá este povo humilde, mas sábio, em sua organização, lenta e paciente, mas firme. Prefiro lembrar os edificantes exemplos de generosidade e desprendimento de pobres ajudando pobres. Deus nos confiou um rebanho de mais de três milhões de Criaturas, que a cada dia nos cumulam de novas e valiosas lições.

Foi aqui que aprendemos que não basta ao pastor trabalhar para o povo. É preciso sempre mais trabalhar com o povo, obedecer o seu ritmo e seu tempo, caminhando junto com ele, sem imposições, com a humildade de quem vem servir e não ser servido. Foi aqui que aprendemos que não basta que cedamos nossa voz e nossa vez ao Povo. É preciso trabalhar para que ele, sim, conquiste sua própria vez e fale por sua própria voz. Foi aqui que tivemos um curso vivo e vivido de teologia, da maior importância, mesmo para quem é doutor, de Verdade, por Universidades Europeias...

Os subúrbios do Recife, a periferia de nossa Arquidiocese, vivem a fé encarnada no seu dia-a-dia de dificuldades e desafios. Buscam no Evangelho e nas Escrituras os caminhos para viverem como cristãos, se afirmarem e se libertarem como cristãos. Nenhum deles se preocupa com rótulos, com análises filosóficas ou possíveis processos dialéticos indispensáveis para a sua teologia simples.

Para este Povo simples, mas sábio, teologia é o puro ensinamento evangélico de que o Deus da Justiça e do Amor não pode compactuar com a injustiça e a opressão, que existem, não por vontade divina, mas por distorção das estruturas montadas pelo próprio homem...

Aqui, em Olinda e Recife, o Povo nos ensina a não temer a libertação dos filhos de Deus...

Quem pode mesmo ter medo da libertação, são os inimigos do Homem e jamais o Cristão, que acredita no Homem, imagem e semelhança de Deus, e quer vê-lo desenvolver-se na plenitude de sua dignidade de filho de Deus e irmão de Jesus Cristo.

Minha saudação na hora de ceder, com plena confiança e alegria, o báculo de Pastor da sempre amada Arquidiocese de Olinda e Recife, minha saudação é feita em nome do nosso Povo, no meu nome e, de modo muito especial em nome de D. José Lamartine, Irmão que Deus me deu e que nestes 21 anos como meu Bispo Auxiliar foi de uma fidelidade perfeita, de uma dedicação sem limites, a ponto de eu poder dizer que fomos juntos Arcebispo de Olinda e Recife, e, talvez, ele, ainda mais do que eu. E contamos com um Clero devotadíssimo: sem sombra de divisões entre Clero diocesano e Clero religioso, ou entre Padres Brasileiros e Padres Estrangeiros (para nós, Brasileiros pelo coração). Contamos com Leigos e Leigas admiráveis, engajados com o Evangelho e servindo a Movimentos oportuníssimos.

Bendito seja Deus, cuja misericórdia divina nos permitiu testemunhar a simplicidade da Fé e a sabedoria dos Humildes. Permitam-me que minha palavra seja a mesma saudação fraterna da chegada ao Povo de nossa querida Arquidiocese, católicos ou não católicos, Crentes ou Descrentes:

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

Jesus Cristo dos Morros e dos Alagados, dos Córregos e Canais.

Jesus Cristo, Camelô e Desempregado, Canavieiro, Pescador e Favelado.

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo em toda a crescente multidão de Severinos, sem teto e sem pão, sem nome e sem endereço, que constituem a maioria de nossa Arquidiocese.

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo de nossas queridíssimas Comunidades de Base, de todos os movimentos e pastorais de nossa Arquidiocese, que nos dão a belíssima lição de confiar nos Pobres e nos Humildes. Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo por este brado de esperança que podemos cantar com o nosso Povo:

"Eu acredito que o Mundo será melhor

quando o Menor que padece

acreditar no Menor"

Bendito seja Deus, que faz maravilhas diante de nós!

Nesta hora de despedida, com os agradecimentos pela acolhida generosa de 21 anos, faço ao meu Povo de Olinda e Recife mais um apelo fraterno:

Ajudem o mais possível, D. José Cardoso a preparar nossa Arquidiocese para festejar, daqui a 15 anos, o Ano 2000 - dois mil anos do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Talvez seja este o maior título que ele vai ganhar aqui... Quem sabe, nos planos de Deus, ele será sempre Quem veio ajudar nossa querida Arquidiocese a festejar a chegada do 3º Milênio da Era Cristã, em plena sintonia com a nossa Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, e com o Santo Padre João Paulo II, o nosso querido João...