SEPTUAGÉSIMA QUARTA AULA DE TEOLOGIA.

SEPTUAGÉSIMA QUARTA AULA DE TEOLOGIA.

POR HONORATO RIBEIRO.

João com a sua comunidade levou sessenta anos meditando profundamente e chegou à conclusão, estudando a cristologia, que realmente Jesus é Deus; e todos os eleitos só verão a Deus por Jesus. É uma cristologia e teologia altíssima a de João evangelista. Foi o último a escrever seu evangelho nos anos noventa. Ele começa o seu evangelho afirmando que Jesus é o logos, a sabedoria. Ele não narra o nascimento de Jesus em Belém e nem em Nazaré. Não narra também, que Jesus aos doze anos foi encontrado no templo discutindo com os doutores religiosos. Ele afirma que Jesus nasceu do Pai; o Pai o gerou antes de todos os séculos. O primeiro milagre ele relata que foi numa festa de casamento transformando a água em vinho. Mas João não estava interessado em afirmar cronologicamente esse milagre, nas bodas de Caná, mas na Santa Ceia, no lava pés, lavando os pés dos apóstolos e dando continuidade a nos lavar com sua palavra, com a sua comida eucarística, com sua bem-aventurança. Ele escreve teologia, cristologia e não homilia. Não sendo uma homilia e sim uma teologia da Paixão, o milagre do vinho nas bodas se transforma no seu sangue derramado na cruz por toda a humanidade. Ele é a água viva, o vinho novo da santa ceia; ele é a fonte de água viva quem a beber não terá mais sede. [porque bebeu da água da vida]. Essa água a transformar-se no vinho, é exatamente o vinho da paixão, morte e ressurreição. Juntou-se a água viva, que é Ele mesmo, unindo-se ao cálice da Paixão: [“Pai, afasta de mim esse cálice”], que foi derramado no alto da cruz. Eis aí o entender de ele realizar o grande milagre de a água transformar-se no vinho, mas o vinho da Aliança com o Pai, no Gólgota. João não está querendo mostrar milagre na boda de Caná, [realmente não houve], mas na Aliança com o Pai, na Santa Ceia e lavando os pés dos apóstolos, que é a lavagem do pecado da humanidade no alto da cruz. Esse relato do vinho, nas bodas de Caná, é um relato genuinamente cristológico e teológico. A Igreja não pode sustentar e ensinar cristologia fazendo homilia fora da realidade histórica e científica. A Bíblia foi escrita no gênero literário teológico-etiológico. Os relatos evangélicos são relatos teológicos com inspiração divina e aprovados pelo concílio de Trento como livros canônicos. Embora existam muitas glosas que foram colocadas depois por alguns relatores, mas não deixa de ser canônico e inspirado. Por isso há muitas coisas que estão escritas nos evangelhos que colocaram na boca dos evangelistas e do mesmo Jesus. Mas têm sentido de catequese e de verdade como real, mas não como prova científica. Como por exemplo: “Pai, perdoai-lhes; porque não sabem o que fazem”. [Lc 23, 34]. Lucas não escreveu essa frase, mais um relator fez essa glosa, que foi colocada depois. [Por isso aparece no rodapé explicando essa glosa]. Se considerar alguns relatos que foram colocados depois, na boca do evangelista, não tendo prova científica fica só como doutrina e dogma da igreja. Como uma catequese e homilia, mas como teologia, não. Há, também, uma glosa, no evangelho de João, após a ressurreição relatando o milagre da pesca milagrosa. Esse é um apêndice o capítulo 21, acrescentado, depois, por um de seus discípulos. [Jo 21, 1-14].

No evangelho de João, o capítulo 21 foi acrescentado depois, e inserido mais tarde por um relator como complementação. [No rodapé explica. Somente a Bíblia católica que explica esses relatos em glosas, no rodapé]. Por isso é que, ao estudar a teologia não se pode dizer que tudo o que está escrito nos evangelhos foi assim mesmo que Jesus disse. Seria muita ingenuidade do leitor.

Perguntou-lhe Simão Pedro: “Senhor, para onde vais”? Jesus respondeu-lhe: “para onde vou, não podes seguir-me agora, mas seguir-me-ás mais tarde”. [Jo 13, 36]. Jesus é o único caminho para chegar ao Pai, mas é preciso, agora, ele passar pela paixão. Ele preparou o lava pés, o vinho novo e agora ele sobe seu caminho da glorificação da cruz e ressurreição. Pedro não entendeu e queria segui-lo. Muitas vezes queremos segui-Lo, mas longe da paixão. Sem ela é difícil seguir a Jesus, pois Ele é o caminho, a palavra, a doutrina, a mística da ressurreição.

Jesus disse a Pedro: “Agora, Pedro, não poderá me seguir; somente depois”. E Pedro o seguiu, viajando anunciando a palavra, fazendo discípulos até chegar a Roma onde foi crucificado. Aí está o caminho da experiência de Pedro com a experiência de Jesus. Jamais Pedro o negou, pois, ele foi um forte líder dos cristãos e muito devotado pelos cristãos do primeiro século. Foi através dele que Marcos escreveu o seu evangelho. Marcos, segundo os exegetas, ele conviveu com Pedro e ouviu dele tudo o que Jesus realizou e ensinou. Por isso é que o evangelho de Marcos sendo o primeiro a ser escrito é que serviu como fonte para Mateus e Lucas escreverem os evangelhos. Basearam-se nos relatos de Marcos, nos anos oitenta e cinco; Mateus e Lucas escreveram cinco anos depois.

Todas as religiões o conhecerão que só há salvação em Jesus. Eu e o Pai somos um só. Filipe perguntou: “Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta”. Eu acredito que Filipe não fez essa pergunta para Jesus. Aqui há dois níveis, que o evangelista João quer nos mostrar. Primeiro nível: Filipe desejou ter uma teofania, naquele momento, como Moisés e Isaias tiveram visto a face de Deus. [relato histórico]. Segundo nível: Filipe é uma personagem simbólica e inocente porta voz dos hereges que quiseram ter uma experiência mística de Deus. É uma pessoa simbólica dos que não creram em Jesus como o Salvador do mundo e nem como Deus. Aqui, João, nesse relato cristológico, afirma que os eleitos contemplarão a Deus por meio do Cristo.

Em verdade, em verdade vos digo: aquele que crer em mim fará também as obras que eu faço, e fará ainda maiores [e não melhores] do que estas, porque vou para junto do Pai. E tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome, vo-lo farei, para que o Pai seja glorificado no Filho. [Jo 14, 12-13]. Muitas vezes rezamos bastante e pedimos a Deus, mas às vezes demora e outra vez não chega. É que Deus sabe que o pedido não é bom para elevação da alma; é prejudicial para o orante o pedido a Ele. Deus sabe o que deverá ser bom para nós. Nós, muitas vezes, pedimos para a cura do corpo, enquanto a vida espiritual está mais doente e nós não nos preocupamos com ela [a espiritual] tão precisa de cura. Deus enxerga tudo e como Pai bondoso não atende ao pedido, que não é viável. Deus só cura o homem total: corpo e alma.

As obras nunca vêm substituir a fé. A fé age junto com as obras. Não se poderá separá-las, pois, uma junta a outra concluem as obras de Deus. Jesus disse: Fará maiores do que estas, isto é, levar ao Oriente e Ocidente o evangelho. Nisso São Paulo foi o protótipo desse anúncio evangélico, dessas obras maiores, pois, ele viajou assiduamente pelo Ocidente e Oriente e criou várias igrejas. Jesus não saiu da Galileia e nem da Judeia, mas Paulo saiu e chegou a Roma, onde ele deu a sua vida pela causa do evangelho, pois, foi assassinado pelo tirano Nero, conforme a História do cristianismo narra. Lucas, nos atos dos Apóstolos, narra a vida de Paulo cheio de sofrimentos e todos os obstáculos, prisões, chicotadas, mas a sua fé não enfraqueceu até o dia em que ele fez a sua despedida: “Combati o bom combate, guardei a fé...

Paulo recebeu o carisma do Espírito Santo ao ouvi a voz teofânica indo para Damasco. Ele que era o Saulo perseguidor dos cristãos, lutou dentro de si mesmo e se encontrou com Paulo. Saulo que estava cego, ouvindo a voz teofânica, imediatamente abriu os olhos e enxergou a verdadeira luz de um novo caminho: Jesus Cristo ressuscitado. Esse foi o verdadeiro milagre que Paulo recebeu de Jesus: O milagre da conversão. Transformou-se num grande apóstolo dos gentios.

Pedro, Tiago e João foram as três colunas da Igreja, sendo Pedro o líder dos cristãos, no primeiro século. No começo do cristianismo, muitos cristãos abraçaram seguir a Jesus pelos milagres que ele realizou. Mas o evangelista Marcos rebateu fortemente e doutrinou-os chamando atenção na caminhada da paixão e ressurreição e não pelos milagres operados por Jesus na sua vida pública. Jesus é a Paixão; foi por ela que ele deu a todos a vida eterna e se glorificou com o Pai. Jesus é a glória do Pai, porque ele é o caminho que leva ao Pai; a verdade revelada pelo Pai; a vida que o Pai lhe deu para que todos, através do seu Filho morto e ressuscitado ganhassem a vida eterna.

Perguntou-lhe Judas, não o Iscariotes: “Senhor, por que razão hás de manifestar-te a nós e não ao mundo?” Respondeu-lhe Jesus: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra e meu Pai o amará, e nós viremos a ele e nele faremos nossa morada. Aquele que não me ama não guarda as minhas palavras. A palavra que tendes ouvido não é minha, mas sim do meu Pai que me enviou. [Jo 14, 22-26].

hagaribeiro.

Zé de Patrício
Enviado por Zé de Patrício em 15/08/2013
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