Cidadão Kane nas Igrejas Evangélicas?
Para quem assistiu ao clássico do cinema mundial intitulado Cidadão Kane (Citizen Kane em inglês) já pode imaginar sobre o que estou prestes a escrever. O filme, dirigido por Orson Welles, é uma produção estadunidense de 1941 que conta a história de Charles Foster Kane, um magnata da mídia americana que influenciava muitos cidadãos de seu país através do jornal de sua propriedade.
Numa das cenas do filme, Kane está sentado à mesa, com sua esposa, e esta o questiona sobre o seu excesso de dedicação ao trabalho. No calor da discussão, a mulher de Kane insinua que as pessoas poderiam pensar mal sobre sua ausência. Kane, por sua vez, retruca seu cônjuge com uma expressão que muito me chamou a atenção quando a ouvi pela primeira vez. Eis a sentença:
"As pessoas pensarão o que eu quiser que elas pensem!"
É a partir desta declaração que eu quero comparar o comportamento de muitos dirigentes de congregações espalhadas por esse Brasil. Obviamente, será impossível igualar a conduta de pastores (com exceção dos pregadores de TV) com Charles Foster Kane, mas a intenção neste artigo é mostrar que muitos agem a partir da premissa citada acima.
Não são poucos os pastores (ou serão gerentes - assunto para um próximo post) que utilizam os púlpitos dos templos para influenciarem outras pessoas sobre qualquer assunto. Tenho percebido que vez ou outra surge um "líder" evangélico que faz questão de se expressar nas tribunas sobre assuntos que não condizem com a Palavra de Deus, sobretudo sobre festas natalícias. Houve um que até disse não querer que a igreja fizesse aniversário para ele, como se isso fosse relevante para se dizer durante o culto.
A verdade é que, com declarações desse tipo, muitos que o ouvem são terminantemente influenciados por seus discursos e acabam por concluir que se outra pessoa expõe uma linha de pensamento diferente, esta é taxada como subversiva. Graças a Deus que isso não me incomoda, e se escrevo sobre o assunto é porque não vou compactuar com práticas desse tipo.
Fui interrogado recentemente por um irmão (um homem de verdade, diga-se passagem) sobre minhas reais intenções de escrever sobre os assuntos postados nesse blog e respondi que meu desejo é externar meu descontentamento sobre práticas inúteis no meio do povo de Deus. Meus objetivos nunca foram atingir pessoa A ou B ou "Coração de Leão" com esses comentários, mas, sim, fazer uso da liberdade de expressão garantida pela Constituição Federal de meu País. Além, é claro, de expor que pequenos detalhes precisam ser mudados.
Contudo, há quem se incomode com isso e, por sua vez, usa o lugar mais alto do templo, e o microfone também, para incutir nas cabeças das pessoas uma imagem distorcida sobre o que escrevo. Age como verdadeiro "Cidadão Kane" fazendo com que as pessoas pensem exatamente o que ele (gestor, pastor, sei lá o quê) quer que pensem. Assim, é fácil dizer que Charles Foster Kane ou virou evangélico, ou deixou discípulos nos templos.
Espero que não interpretem esse comentário como um exagero de minha parte, pois chamar dirigentes de "Cidadãos Kanes" parece algo fora de cogitação. Mas, assim como Kane, os dirigentes costumam usar a mídia que "dominam" para disseminar suas discordâncias e, ao mesmo tempo, utilizam o microfone como arma de ataque contra ideias diferentes. Era algo parecido que Charles Foster Kane fazia com seu jornal.
Bom seria que os "pastores Kanes" da atualidade conversassem mais com suas ovelhinhas e, a partir daí, tentarem entender o que se passa na cabeça delas. Não é essa a tarefa de um pastor? Ou então que eles se dispusessem em debater certos assuntos para a melhoria da obra de Deus. Entretanto, preferem eles ficar esbravejando em público sobre comentários que não lhes agradam (isso sem falar das repreensões em públicos a coordenadores de jovens). Melhor ainda, bom seria que não existissem pastores "Cidadãos Kanes"!
Como eles não deixarão de existir, pelo menos por algum tempo, os cultos de nossas congregações serão abarrotados com comentários que fazem com que as pessoas pensem o que esses "Kanes" querem que elas pensem. IN-FE-LIZ-MEN-TE!