Era Jesus um Revoltado?

Quando leio as passagens bíblicas onde Jesus manifesta contrariedade sobre algumas atitudes de homens desprovidos de comunhão com Deus, começo a indagar a mim mesmo se isso não representa uma manifestação de revolta por parte do Mestre. Isso mesmo, revolta! Termo este que pode fazer que muitos leitores pensem que sou um blasfemador, ou até mesmo um revoltado também (se bem que já estão pensando isso), pois utilizar uma palavra tão áspera para designar uma pessoa tão meiga e amável feito Jesus, só pode ser uma blasfêmia mesmo.

Contudo, não se trata de uma interpretação minha sobre a personalidade de Jesus. Não sou eu quem está afirmando com todas as letras que Jesus era um revoltado, mas, são aqueles que veem em meus comentários sobre os diversos assuntos que escrevi neste blog que podem está (inconscientemente) afirmando isso.

- Como assim, James Pereira? Eu não estou entendo onde você quer chegar! Dá para ser mais claro?! (talvez esse seja o seu pensamento agora)

Claro que dá! Vamos aos fatos!

Imagine Jesus entrando no templo de Deus e expulsando um monte de oportunistas simplesmente por não aceitar as atitudes destes, que faziam da Casa de Deus um "covil de ladrões" (Mt. 21: 12-13). Será que a forma como Jesus agiu não fez dEle um intolerante, ou um revoltado? Será que não seria melhor Ele ter ido conversar com os cambistas e tentar convencê-los que a melhor forma de resolver aquele "impasse" seria a retirada dos produtos e a saída pacífica dos vendedores? Claro que não!

Jesus era extremamente zeloso pelas coisas de Deus, e para práticas desrespeitosas, como a dos vendedores, reações precisas e firmes como as de Jesus. Cristo jamais compactuaria com as "maracutaias" existentes na Casa do Pai porque sua índole não permitiria isso. Então, como Ele não era conivente com o erro (como ainda hoje não é), agiu como deveria ter agido. Mas, e aí... isso foi ou não foi um ato de revolta?

Ante de responder essa pergunta, vamos a outro fato.

Imagine Jesus num belíssimo discurso e no decorrer deste profere palavras duras a uma classe de homens que se diziam especialistas em assuntos religiosos (Mt. 23: 1-39). Estes homens eram os mais notáveis na sociedade judaica a ponto de serem imitados por muitos de sua época. Eram homens de responsabilidades, que liam as Escrituras, que oram várias vezes ao dia, que jejuavam, que davam esmolas aos pobres, enfim, eram pessoas de grande reconhecimento social. Todavia, o Messias viu em suas ações muita hipocrisia. Jesus percebeu que eles não passavam de um bando de mentirosos que falavam uma coisa e viviam outra.

Ao perceber isso, Cristo não poupou tempo nem palavras, abriu um severo discurso sobre as práticas fingidas desses homens. Entretanto, as perguntas que fiz acima, faço-as novamente. Será que o Senhor não exagerou em dizer palavras tão duras a eles? Não seria melhor que Jesus os procurassem reservadamente e expusesse Suas opiniões a eles? Será que Jesus não foi tão radical com os "santos homens de Deus"? Deixo você, caro leitor, livre para responder essas perguntas, mas adianto que eu duvido muito que a melhor maneira fosse a de procurá-los para dialogar pois os religiosos de linha de frente são, muitas vezes, orgulhosos demais para ouvirem uma pessoa humilde como Jesus, ainda mais se essa pessoa fosse de Nazaré (Jo. 1:46).

Vivendo nos dias de hoje, provavelmente Jesus teria dificuldade em conversar com certos pastores, simplesmente porque eles não O procurariam para conversar, pois preferem vomitar todos os seus pensamentos nos púlpitos a terem que conversar pacificamente com alguém (vale destacar que não estou generalizando). Sem deixar de mencionar também os "irmãos" que juram que são "parecidos com Cristo" que vez ou outra iriam comentar nos corredores das igrejas que fazem parte que Ele (Jesus) deveria sair da igreja onde faz parte uma vez que não gosta ou não se sente bem lá, ou seja, deveria deixar as coisas como estão e cair fora (risos).

Voltando a pergunta sobre Jesus ser ou não um revoltado, vamos ver antes o que Houaiss nos diz sobre o significado do termo destacado anteriormente:

revoltado

adjetivo e substantivo masculino

1 que ou aquele que se revoltou; rebelde, insubmisso, insurreto, amotinado, revoltoso

2 que ou aquele que está ou se sente indignado, enfurecido, colérico

3 Derivação: por extensão de sentido. Regionalismo: Brasil.

que ou aquele que é ou se mostra amargo, inconformado com alguma situação (destaque nosso)

(HOUAISS. Dicionário Eletrônico da Língua Portuguesa)

Como se pode ver acima, dependendo do contexto social, Jesus até poderia ser chamado de "revoltado" desde que significasse "inconformado com alguma situação." Contudo, nos dias atuais, quando alguém se expõe publicamente na defesa de um ponto de vista, quase sempre é taxado como revoltado (falo isso por experiência própria). Na maior parte das vezes, alguns falam das pessoas que não concordam com atitudes divergentes dos padrões estabelecidos por Deus, com se estes indivíduos fossem um poço de revolta (risos novamente) e, quase sempre, o significado aplicado ao termo revoltado é bem diferente do destacado acima.

Basta apenas um comentário na internet que incomode um pouco que muitos surgirão com todos os tipos de adjetivos possíveis para (des)qualificar quem fez os comentários. Sem esquecer, ainda, das expressões do tipo: "se ele não está se sentindo bem na congregação onde está, por que não procura outra?" (isso é muito cômico)

Quero registrar aqui que estou muito feliz na igreja onde sou membro e não tenho interesse de mudar - exceto se Deus assim o quiser - mas, concordar com tudo que se fala ou se faz no templo é praticamente impossível.

Que o Senhor Deus Todo-Poderoso nos abençoe sempre.