SEXAGÉSIMA AULA DE TEOLOGIA.

POR HONORATO RIBEIRO.

O evangelho de Mateus é mais longo e mais autêntico em se tratando de ser verdadeiramente cristão. Para a comunidade de Mateus a ser participante da comunidade sendo seguidor de Jesus Cristo tem de ser radical, isto é, dizer sempre sim sem medir as consquências. [sem medo das adversidades]. Ser cristão total sem deixar nada sem praticar fielmente os valores do evangelho. Vamos relatar alguns pontos essenciais. “Não junteis para vós tesouro na terra, onde a ferrugem e as traças corroem, onde os ladrões furam e roubam.” [Mt 6, 19]. No mundo de hoje, onde o consumismo e o ter [coisas supérfluas] são mais fortes do que o ser, [humanamente respeitado e amado] é bem difícil para aqueles que querem ser cristão radical. O que é ser radical para Mateus? Há duas formas a serem cumpridas no radicalismo. Eu posso ser um excelente catequista, um missionário da palavra ou um ministro da eucaristia, ou mesmo um grande pianista, mas se eu não usar os meus talentos na vida natural e sobrenatural eu não sou “radical”. Eu assumir o natural, [sendo um bom pianista, catequista, pregador], mas deixei de viver a vida espiritual, isto é, ser caridoso, solidário, viver a partilha, sentir a dor do irmão; chorar com ele e vivendo como um bom samaritano. Aí está o que Mateus radicaliza para todos da sua comunidade viver vivendo radicalmente. Viver no hipocêntrico e não na periferia, no faz de conta. Eis aqui o talento que não poderá ser enterrado. O cristão radical está sempre se aperfeiçoando para ser santo. [Sede santo como o vosso Pai do céu é santo]. Todos nós batizados fomos chamados para sê-lo. Mateus escreve seu evangelho didático e cristológico. Se não viver o radicalismo, sem deixar para trás nada sobre os valores deixados, vivido e ensinados por Jesus, não poderá ser chamado de cristão. Enterrando-se os talentos e não deu fruto. E o senhor que entregou os talentos é muito severo; castiga o que enterrou o talento, por medo de alguém o roubar, e pune severamente. É a justiça punindo o medroso que sabia que o senhor era severo. Preferiu enterrar o talento a ser punido pelo senhor severo. O que ensina Mateus à sua comunidade? Ser cristão radical, vivendo a vida contemplativa no seu interior, com auto-entrega sempre a servir; [vida espiritual] e no exterior, como bom anunciador da palavra, um bom catequista ou um grande artista plástico. Deverá dar-se a auto-entrega de si aos que sofrem. Ser radial sem deixar nada a ser cumprido com amor e dedicação. Os talentos de Mateus são mais teológico e mais didático do que os talentos [dons] que São Paulo cita como dons do Espírito Santo [carisma], na sua epístola aos coríntios: [1Cor12, 4-11]. Não pertencer a esse mundo, mas o do Reino dos céus.

Na parábola dos talentos mostra que o senhor severo é capitalista. Ele só pensa em lucro. E castiga o que não colocou o dinheiro na poupança para render. Mas Mateus não fez esse relato ensinando-nos a ser capitalista, mas fez um midraxe da parábola num simbolismo mostrando-nos a economia da fé. É uma catequese mostrando-nos como viver os valores do evangelho. Ele faz teologia e não relato jornalístico. Esse é o capitalismo, não material, mas espiritual. Crescer cheio de virtude, de caridade e de amor a Deus e ao próximo. [O ladrão não rouba este tesouro]. O cristão deverá ter o talento natural e o sobrenatural para ser radical. [Mt 25, 14-30].

Mateus depois que escreveu essa parábola contada por Jesus, a dos talentos, ele mostra um senhor todo cheio de misericórdia. Deus é severo no julgamento, mas é bondoso para nos perdoar. O evangelho nos mostra claramente que o cristão radical é bem recebido na glória de Deus. Porém, é severo para com aquele que não quis ser cristão radical. E irá ser punido no dia da sua parusia, no juízo final. [Mt 25, 31-46]. É uma parábola escatológica e bem didática para quem está atento e vigiar sempre porque o senhor é severo para julgar e misericordioso para perdoar. É o Pai do filho pródigo contado por Lucas. [15, 11-32]. É bom que leia nos capítulos e versículos desse texto de Mateus para melhor compreender a simbologia que ele escreveu à sua comunidade, que é uma catequese e uma pastoral para nós de hoje.