Peregrinação
Em minha peregrinação em busca de minha vocação missão aproximei-me de alguns personagens da Bíblia que se tornaram meus companheiros de jornada.
Identifiquei-me com Jonas e, como ele, tentei fugir para longe de Nínive, o lugar da missão. Porém, a tempestade aterradora me sobreveio. Lançado ao mar, fui regorgitado na praia- depois de engolido pelo grande peixe – e então desisti de ir à Társis e aceitei Nínive.
Como Elias eu quis ir para o deserto e me encavernar para não ser achado. De certa forma, também quis morrer desencantado com a dureza de coração de muitos que se perfilam no rol dos discípulos de Cristo. Mas, de igual modo, Deus me chamou de volta à missão no território hostil do reino de Acabe e Jezabel.
Semelhante a Jeremias me senti frustrado ao pregar e ensinar, e não ser ouvido. Como esse profeta decidi não mais ensinar, nem pregar, mas eis que uma força mais forte do que eu me impelia a novamente reassumir o meu posto, ainda que de modo relutante, no ambiente pedregoso das salas de aulas de ensino fundamental e médio.
Como os exilados na Babilônia ansiei voltar à minha Jerusalém para alí descansar na contemplação ao Altíssimo e esquecer o exílio na Babilônia. Contudo, Deus enfaticamente, com a mesma palavra que dirigira aos exilados, me exortou: “fique onde está”.
Semelhante a Hagar eu quis ir para longe de Sara. Porém, novamente a mensagem era clara: “fique onde está”. E mais uma vez fiquei no lugar onde Deus me queria, mas que eu sempre resistia. Percebi, então, que aquele era o meu lugar, que era ali que Deus me queria. Compreendi que permanecer naquele trabalho era estar no centro da vontade Deus. E se Ele estiver comigo não importa o lugar ou a ocupação, esse será o melhor lugar do mundo. Acho que finalmente meu coração encontrou a paz de Deus.
Por esse tempo, à semelhança de Frodo e seus companheiros, espiritualmente cruzei os abissais caminhos de muitas noites da alma. À certa altura questionei ao Senhor como Frodo fizera a Galdalf : " – Eu gostaria de jamais ter visto o Anel! Porque veio até mim? Por que eu fui escolhido? Tais questões não podem ser respondidas – disse Gandalf. Pode estar certo de que não foi por qualquer mérito que os demais não possuem; não pelo poder ou sabedoria, de forma alguma. O fato é que você foi escolhido e, portanto, deve utilizar toda a força, o coração e a inteligência que possui.” (TOLKIEN, J.R.R. O SENHOR DOS ANÉIS – A sociedade do anel).
Penso que tudo está relacionado a uma antiga lição que o Senhor vem tentando me ensinar: que eu precisava estar inteiro na minha vida atual, pois, quase sempre estive fora de meu ser e do meu presente, sempre desejando estar em outro lugar, fazendo outra coisa. Talvez nunca tenha abraçado as coisas por inteiro, nunca verdadeiramente tenha me entregado, talvez nem ao próprio Deus. Sempre fiquei numa posição defensiva, esperando até saber o que iria acontecer. Agora, entregue a Deus, não reservei nada para mim mesmo. Só assim serei realmente eu mesmo, estando inteiramente entregue a Deus.