TENDES FÉ
Quem sou eu?
Quase meia noite,
Rua do centro da cidade de São Paulo
De dia quase um formigueiro.
De noite apenas uns e outros que vagam.
Uns apressados,
Outros, como que fugindo de algo,
E outros que se arrastam em pé,
Sem pressa alguma.
Até parece que a vida parou.
Parou de jorrar o encanto,
Parou em qualquer canto,
Acabou a esperança, seja adulto,
Seja criança.
Não há mais o que esperar,
Deixa apenas o tempo, o longo tempo passar.
Na virada de uma esquina,
Um susto!!!
Um vulto,
Que sobre sua própria sombra,
Se inclina.
Um homem,
Um jovem, talvez um adolescente.
Como saber?
Se o jovem fica velho,
Se a criança amadurece
Como fruta apodrecida...
Sujeita a cair antes do tempo.
Ou bicada por um bicho predador.
Penso que era um jovem.
Pele negra, ou era sujeira?
Cabelo encarapinhado.
Barba grande e de poucos fios.
Olhar ao longe.
Até parecia querer ver o horizonte.
Entre o vulto dos prédios escuros,
Talvez abandonados,
Outros, coloridos de luzes
Auto piscantes.
Ele ali.
Roupas sujas,
Rasgadas,
Braços soltos.
Mãos juntas para baixo,
Talvez numa prece desconsolada,
Uma súplica abandonada.
Algo mais me chama a atenção,
E me estranha,
È o sorriso que nos lábios se desenha
Um sorriso,
Ou era o quê?
Quisera que o fosse,
Mesmo que não soubesse o porquê.
Um sorriso sempre faz bem
Pra quem o dá e pra quem o recebe.
Tristeza é se não o for.
Talvez, era pra ser,
Mas que não conseguiu sair,
Passou como tudo ali,
Um sorriso que ficou na face.
Porque o coração não tem mais motivos
Para alegrar-se.
Alegrar-se como, se nem a calçada,
Fria e fétida lhe pertence?
Nada tem, nada sabe, nada deseja.
Cansou de ter vontades.
Quem sou eu?
É a pergunta que cala
Quem serei eu?
É o desejo contido.
Quem era eu?
É o passado perdido
És um pobre homem,
Mas não és o único.
Outros já existiram,
Outros tantos vão existir.
És um ser, apesar de tudo.
És uma criatura de Deus
E só por isso ser
Eu te digo:fohas nascem
Num tronco seco
Ainda há esperança...
Eu te explico:
Pois que até uma árvore que se corta.
Ou que queimada é,
Renasce das cinzas
E do tronco cortado sai um broto.
Novos galhos, novas folhas
Folhas verdes. Folhas de esperança
Surgem flores até...
Por isso agüente firme e tendes fé.
Autor: Pastor Orlando Souza Cirqueira
1995 - S.Paulo