Ficar em pé, andar, correr

Ficar em pé; Andar; Correr.

Jorge Linhaça

“E nos últimos dias o amor de muitos esfriará.”

Trata-se claro, não apenas do amor carnal, mas também do amor ao próximo, a Deus e a si mesmo.

Quantas pessoas nós não conhecemos que mantém um comportamento autodestrutivo: física, emocional ou espiritualmente?

Talvez alguns de nós ( ativos ou não ) estejamos passando por algum desses processos.

“Se algum diz amar a Deus e não ama ao seu próximo, ele é mentiroso”. E como pode alguém amar ao próximo se não mar a si mesmo?

Cada caso é um caso e cada pessoa é cada pessoa. Mágoas, desânimo, orgulho, sentimentos de inadequação ao grupo, desejo de glória pessoal, são apenas alguns fatores que causam esse esfriamento.

Retomar a caminhada rumo à presença de Deus pode ser mais doloroso ou dificultoso para alguns do que para outros. Assim como um enfermo que passou muito tempo acamado, as pernas podem estar enfraquecidas e não se pode esperar que o mesmo salte de sua cama e, imediatamente, comece a correr. Primeiro ele precisa de auxílio para colocar-se de pé, depois para dar seus primeiros passos e só então ele poderá começar a caminhar, ainda que lentamente, com suas próprias forças.

É preciso não se descuidar do alimento espiritual necessário para recompor as forças do recuperando. É necessário que o paciente esteja disposto a tomar a medicação diária do estudo das escrituras e da oração sincera. Por vezes, pode ser necessária a presença de um enfermeiro ao seu lado para “lembra-lo” do horário e da necessidade de não interromper a medicação.

Assim como o bulbo da papoula que jaz adormecido durante todo o inverno, é a alma daquele que deixou esfriar seu testemunho. Ambos aguardam os primeiros raios de sol da primavera para que se faça o milagre do renascimento para que floresçam em toda a sua plenitude e beleza.

Se não estamos preparados para correr, andemos: Se não estamos preparados para andar, permaneçamos em pé: Se não podemos ficar em pé, engatinhemos, no entanto não fiquemos acomodados como as rãs que se deixam cozinhar enquanto a água se aquece gradualmente e elas permanecem inertes, acostumando-se à mudança de temperatura.

No caldeirão dos pecados glamourizados e da hipocrisia do politicamente correto, muitos nos comportamos como as rãs. Vamos abrindo a guarda para pequenas concessões e quando nos damos conta já invertemos perigosamente os nossos valores. O bem nos parece supérfluo e o mal nos parece imprescindível.

Hoje é o tempo de fazer nossas escolhas, de retomar nosso caminho ou de seguirmos em nosso comportamento de rãs.

Se é verdade que a “salvação” é individual, também é verdade que temos a responsabilidade de ajudar nosso próximo a despertar.

Para isso é necessário sair de nossa zona de conforto e doarmo-nos em favor de nossos irmãos menos fortalecidos.

Se precisarmos ser a cadeira de rodas ou a muleta de alguém, sejamos, até que a pessoa possa caminhar sozinha. Vejo pessoas que passam grande parte do dia em conversas improdutivas nos seus celulares ou em redes sociais e fico imaginando o quanto a tecnologia poderia ser usada de maneira produtiva para edificar nossos semelhantes.

Se o inimigo pode usar a internet para disseminar suas mentiras e armadilhas, quanto mais não pode Deus, através de nós, disseminar a verdade.

Nada substitui o contato pessoal, o “falar boca a boca”, no entanto, é melhor uma mensagem escrita do que mensagem nenhuma.

Acreditem que muitas vezes sinto-me como João Batista, pregando no deserto, já que de centenas de leituras que recebo em meus textos, raramente recebo comentários.

No entanto, os poucos comentários que recebo, me fazem continuar pois são de pessoas que aproveitaram algum de meus rabiscos.

Assim é o trabalho de quem sai a semear, não sabemos quantas sementes chegarão a desenvolver-se em solo fértil, no entanto alegramo-nos quando vemos os primeiros brotos romperem o solo.

Que sejamos, pois, todos semeadores da palavra de Deus, pois eis que o campo está arado e pronto para a semeadura em alguns lugares, e em outros, já está branco e pronto para ceifa.

Se não houver quem semeie ou quem colha, que será feito da colheita?

Salvador, 30 de abril de 2013