Afinal o que é Caridade?

Afinal, o que é caridade?

Jorge Linhaça

Ok! Estou até ouvindo as respostas: caridade é o puro amor de Cristo!

Correto, mas não foi em busca de uma definição que este texto me veio à cabeça.

A questão não é o que, mas como praticá-la.

Para alguns a caridade é vista como um mal para a sociedade, muito por conta dos pedintes contumazes que vemos povoar as ruas das grandes e médias cidades. Em cidades menores talvez existam em menor quantidade, afinal há de haver uma certa proporcionalidade.

Na verdade a caridade não faz mal a ninguém e nem mesmo “vicia” aqueles que a recebem.

O que ocorre é a confusão entre caridade e assistencialismo.

Muitas pessoas que se consideram caridosas, são na verdade assistencialistas e, boa parte destas, age desta forma apenas para “apaziguar a consciência” sem ter que preocupar-se para além do imediatismo de doar uma moeda ou coisa que o valha.

A caridade não se limita a prover as necessidades imediatas, embora isso seja necessário em alguma ocasião. A caridade verdadeira preocupa-se com o médio e longo prazo, com a mudança de vida daqueles que necessitam de auxilio.

Não gosto muito de ficar fazendo citações bíblicas, até porque Cristo não se ocupava de ficar querendo provar nada através das escrituras, senão quando isso era absolutamente necessário, no entanto vem-me a mente um episódio em que os pescadores da Galiléia não vinham tendo sucesso em seu labor, apesar de lançarem as redes por várias horas.

Cristo poderia ter simplesmente ordenado que os peixes saltassem para dentro de seus barcos e, numa ação que teria impacto teatral resolvido o problema. Entretanto, limitou-se a dizer aos seus discípulos onde deveriam lançar as redes. O resultado foi que a pesca foi tão abundante que os homens tiveram dificuldades em recolher as redes.

Muito mais do que um milagre, Cristo proporcionou-nos um grande ensinamento que chegou aos nossos dias resumido em um ditado popular : Não basta dar o peixe, é preciso ensinar a pescar.

Atentem para o fato de que, embora o Salvador haja indicado a localização dos peixes, não moveu um único músculo para entrega-los ”de mão beijada” aos futuros apóstolos. O trabalho de lançar as redes e adquirir seu sustento foi daqueles homens.

Hoje em dia muitas pessoas se acostumaram a receber o peixe sem esforço e de preferência já limpo e pronto para o consumo. Isto é assistencialismo.

Algumas pessoas, agindo de boa fé, chegam a destruir gerações de familiares ou conhecidos, incutindo em suas mentes a mensagem de que : “Não tenho que me preocupar, se acaso eu tiver falta de algo basta recorrer a fulano ou beltrano e ele tem obrigação de ame ajudar.”

Nada mais prejudicial do que essa caridade corrompida. As consequências virão a médio e longo prazo pois, quando a torneira secar, esses dependentes crônicos não saberão como obter honestamente o seu sustento, apelando para o caminho fácil da marginalidade.

Ao contrário do que muitos “líderes religiosos” parecem pregar, não importa quanto dinheiro alguém doar às igrejas sob a promessa de que em breve terão uma casa própria ou um carro do ano, se tais pessoas não aprenderem a esforçar-se para tal.

Tal discurso parece-me algo do tipo “ Bem vindo ao banco das bênçãos, deposite na poupança divina e Deus lhe pagará com juros. ” Deposite na conta do Abreu, Se ele não pagar nem eu... Afinal não existe clausula de “sua satisfação garantida ou seu dinheiro de volta". Queria ver alguém pregar que devolve o dinheiro se a pessoa não adquirir o bem desejado.

A tal “ Teologia da prosperidade” conforme é anunciada, passa muito longe dos desígnios de Deus.

Deus quer que prosperemos? Claro que sim, até por isso deu a cada um de nós talentos e discernimento para tal, mas quer o façamos por nosso esforço, que nos dediquemos ao nosso trabalho, aos nossos estudos, a semear o nosso futuro para que então possamos colher os frutos de nosso labor. A parte de Deus nessa história é orientar-nos a encontrar o caminho, é dizer-nos onde lançar as redes. Ele não fará chover peixes do céu sobre nossas cabeças.

Assim também deve ser nossa atitude com nossos semelhantes, indicar o caminho pelo qual eles possam progredir à custa de seus esforços. Podemos apoiá-los, ajuda-los a estudar, indicar-lhes locais de trabalho, estimulá-los e até mesmo tentar ser um agente capaz de permitir que ele sobrepuje obstáculos imediatos, afinal ninguém consegue trabalhar ou estudar com fome, não é mesmo? Mas isso deve estar condicionado aos seus esforços reais.

Precisamos entender que, mesmo nossos filhos não precisam de roupas de grife, precisam apenas de roupas, não necessitam de artigos de luxo para competir com os colegas. É necessário fazer uma triagem entre o necessário e o desejável. Senão corremos o risco de criar tiranos que acreditam que todos tem obrigação de fazer suas vontades.

Desculpem-me se algumas destas palavras lhes parecem duras ou vão de encontro ao seu modo de vida, no entanto elas estão aqui apenas para leva-los a refletir. Não tenho o poder de mudar sua vida ou modo de pensar, apenas de expor o meu.

Salvador, 9 de abril de 2013